9. A graça do Batismo

9. A graça do Batismo

O sacramento do Batismo produz dois efeitos em quem o recebe: a purificação dos pecados e o novo nascimento no Espírito Santo. O que catecúmeno deve fazer para recebê-lo com proveito? 

 

O Batismo é chamado de porta para os demais sacramentos, além de ser necessário para a salvação (1277). É natural, portanto, que sua recepção produza efeitos. Os dois principais e imediatos, sob condição, são: “a purificação dos pecados e o novo nascimento no Espírito Santo.”
 
O primeiro diz respeito à remissão dos pecados. Mas, de quais pecados o neófito é liberto? Tanto crianças quanto adultos, ao serem batizados são livrados do pecado original. Para isso, não é necessário que se arrependam, vez que tal mancha foi herdada e não cometida.
 
Aqueles que já atingiram a idade da razão são perdoados também de seus pecados pessoais. No entanto, para que isso ocorra é preciso que haja arrependimento. Trata-se de condição sine qua non para que, ao receber o Batismo, seja realmente perdoado de seus pecados pessoais e das penas temporais cominadas a eles.
 
Caso não haja a devida contrição, o Batismo imprimirá o caráter (conforme veremos adiante), mas não dispensará ao catecúmeno a chamada graça santificante. Ela, ensina o Catecismo, é “um dom gratuito que Deus nos faz de sua vida, infundida pelo Espírito Santo em nossa alma, para curá-la do pecado e santificá-la.” (2023)
 
Embora o Batismo liberte o ser humano do pecado original, dos pecados pessoas e apague as penas temporais relacionadas a eles, o Catecismo ensina que certos efeitos que o pecado produz são mantidos. Tais consequências, se bem entendidas, podem explicar uma grande parte das dificuldades humanas em relação ao avanço na vida de santidade. Diz ele:
 
No batizado, porém, certas consequências temporais do pecado permanecem, tais como os sofrimentos, a doença, a morte ou as fragilidades inerentes à vida, como as fraquezas de caráter etc, assim como a propensão ao pecado, que a Tradição chama de concupiscência ou, metaforicamente, o “incentivo ao pecado” (“fomes peccati”): “Deixada para os nossos combates, a concupiscência não é capaz de prejudicar aqueles que, não consentindo nela, resistem com coragem pela graça de Cristo. Mais ainda: ‘um atleta não recebe a coroa se não lutou segundo as regras’.” (1264)
Ora, lutar contra a concupiscência pode ser grande fonte de santificação para o homem. Ela, que nada mais é do que uma espécie de lei da gravidade que impele o homem ao cometimento do pecado, da quebra da amizade com Deus, pode ser purificada na medida em que o homem avança nos estágios da busca pela santidade.
 
O Batismo também tem um segundo efeito, pois faz com que nasça um novo homem, pelo Espírito Santo. Ele o torna “uma nova criatura”, “um filho adotivo de Deus que se tornou participante da natureza divina, membro de Cristo e co-herdeiro dele, templo do Espírito Santo.” (1265)
 
O homem é chamado à vida divina e é incorporado a ela pelo Batismo. A graça santificante, que lhe é infundida, permite a chamada “inabitação” de Deus no homem, na amizade. O Espírito Santo é derramado e gera no catecúmeno o Filho e o Pai. Vê-se aí claramente toda a Santíssima Trindade. A porta é o Batismo, não há dúvida.
 
Ainda sobre a graça santificante (ou da justificação), o Catecismo diz que ela torna quem a recebe “capaz de crer em Deus, de esperar nele e de amá-lo por meio das virtudes teologais”, que são a fé, a esperança e a caridade. Tais virtudes podem ser aumentadas, mas são originalmente recebidas gratuitamente da Trindade no Batismo. (1266)
 
Ela permite também que o neófito passe a “viver e agir sob a moção do Espírito Santo por seus dons”. Embora esses dons estejam presentes nas pessoas, eles só se manifestam corriqueiramente quando já se está avançado na vida espiritual. Grandes místicos relacionam tal plenitude à fase iluminativa, ou seja, após a purgativa. (1266)
 
Por fim, a graça santificante permite “crescer no bem pelas virtudes morais”. Elas são conhecidas também como virtudes humanas ou cardeais, das quais derivam todas as outras: Prudência, Temperança, Fortaleza e Justiça. Apesar de humanas, podem se tornar infusas por uma graça do Senhor, como por exemplo, quando se observa a virtude cardeal da Fortaleza em alguém que está no caminho da santidade e a virtude da Fortleza num mártir. São bem diferentes. (1266)
 
O Batismo também incorpora a pessoa à Igreja, Corpo de Cristo. Diz o Catecismo que “das fontes batismais nasce o único povo de Deus da nova aliança, que supera todos os limites naturais ou humanos das nações, das culturas, das raças e dos sexos”. (1267)
 
Por tal pertença, os batizados participam igualmente do “sacerdócio de Cristo, de sua missão profética e régia”, conforme descrito na I Carta de São Pedro. O Catecismo é enfático ao ressaltar a importância de tal ponto quando diz que:
 
Feito membro da Igreja, o batizado não pertence mais a si mesmo, mas àquele que morreu e ressuscitou por nós. Logo, é chamado a submeter-se aos outros, a servi-los na comunhão da Igreja, a ser obediente e dócil aos chefes da Igreja e a considerá-los com respeito e afeição. Assim como Batismo é fonte de responsabilidade e de deveres, o batizado também goza de direitos dentro da Igreja: de receber os sacramentos, de ser alimentado com a Palavra de Deus e de ser sustentado pelos outros auxílios espirituais da Igreja. (1269)
Receber o Batismo também sela com os todos os cristãos uma unidade, pois passam a integrar o Corpo de Cristo. Isso inclui também aqueles que “ainda não estão em comunhão plena com a Igreja Católica”, pois como ensina o Catecismo:
 
Aqueles que creem em Cristo e foram validamente batizados acham-se em certa comunhão, embora não perfeita, com a Igreja católica (...) Justificados pela fé no Batismo, são incorporados a Cristo, e por isso, com razão, são honrados com o nome de cristãos e merecidamente reconhecidos como filhos da Igreja católica como irmãos no Senhor. (1271)
O sacramento do Batismo imprime em quem o recebe um selo, um sinal, um caráter indelével (indestrutível) de pertença a Cristo. Uma vez recebido, o Batismo não pode ser retirado. Ele é condição para a salvação, é verdade, mas não significa que somente recebê-lo - e não vivê-lo - garantirá a entrada no Céu:
 
O “selo do Senhor” (“Dominus character”) é o selo com o qual o Espírito Santo nos marcou para o dia da redenção. O Batismo, com efeito, é o selo da vida eterna. O fiel que tiver guardado o selo até o fim, isto é, que tiver permanecido fiel às exigências de seu Batismo, poderá caminhar marcado pelo sinal da fé, com a fé de seu Batismo, à espera da visão feliz de Deus - consumação da fé - e na esperança da ressurreição.
Portanto, há uma clara distinção entre o que é o caráter indelével do Batismo e a vida que cuida dessa marca. Uma coisa é saber que pelo Batismo se tem um senhor e outra é viver, de fato, esse Senhorio de Cristo.