30. O mundo visível

30. O mundo visível
Embora a afirmação de que Deus é o criador de tudo que existe soe de forma natural, nem sempre foi assim. Houve um tempo em que heresias se apresentavam dentro da Igreja afirmando que Deus não havia criado a matéria.
 
 
Parte I 
 
Deus criou o céu e a terra, as coisas visíveis e invisíveis do nada. São Teófilo de Antioquia, a propósito da criação diz:
 
Que haveria de extraordinário se Deus tivesse tirado o mundo de uma matéria preexistente? Um artífice humano, quando se lhe dá um material, faz dele tudo o que quiser. Ao passo que o poder de Deus se mostra precisamente quando parte do nada para fazer tudo o que quer.
 
Embora a afirmação de que Deus é o criador de tudo que existe soe de forma natural, nem sempre foi assim. Houve um tempo em que heresias se apresentavam dentro da Igreja afirmando que Deus não havia criado a matéria.
 
Seguindo os ensinamentos de Platão e Aristóteles, surgiu o Platonismo e, posteriormente, o Neo-Platonismo, os quais explicavam a origem do mundo no casamento entre os deuses (teogamia) ou mesmo na guerra entre eles (teomaquia).
 
Para os filósofos havia o caos, a matéria eterna, bruta, que foi elaborada por um Deus, um ser espiritual, um demiurgo, que, de posse da matéria prima disforme, ordenou-a, transformando-a em cosmos. Do caos ao cosmo. Assim, Deus, nesta concepção, não seria criador do céu e da terra, mas somente da realidade espiritual, inteligível, da perfeição divina.
 
Eles acreditavam que o mesmo caminho trilhado pelo ser humano, pelas plantas, pelos animais, com o nascimento, crescimento, envelhecimento e morte era trilhado também pelo mundo, pela matéria. Por isso, a matéria não vinha da divindade, pois esta só pode fazer coisas perfeitas.
 
Havia ainda a heresia denominada Maniqueísmo, que pregava a existência de dois deuses, um bom e outro mau. A matéria porque finita e imperfeita teria sido criada pelo Deus mau. Para eles, haveria uma batalha eterna entre o bem e o mal, o espírito e a matéria. Esta religião pagã foi combatida duramente pela Igreja.
 
O cristianismo inaugura um novo modo de se pensar a Criação, é como que uma revolução, uma grande novidade. Ele prega que Deus criou tudo do nada. E criou tudo de forma boa, as Sagradas Escrituras atestam isso. Mas, então, como explicar as imperfeições?
 
O Catecismo ensina que não existe nada que não deva sua existência a Deus criador, então, como comparar a imperfeição do mundo material com a perfeição do mundo angélico? A resposta é que a todas as criaturas tem uma perfeição, uma bondade própria. Deus quis que cada coisa encontrasse a sua perfeição realizando nela mesma o projeto Dele. Assim, a imperfeição é a não realização do projeto de Deus.
 
Deus não criou o mal, o ser foi criado por Deus, o não ser é a ausência de algo, como o frio é a ausência de energia térmica. Deus não criou o frio, Ele criou o calor. Da mesma forma o mal e o bem. Deus criou o bem, mas quando este está ausente, tem-se o nada, uma força que atrai para a morte. A morte é a ausência de vida. As coisas más não possuem consistência positiva e sim, negativa. Não foram criadas por Deus. O mal existe enquanto não ser.
 
E quanto ao Diabo, não é também uma criação de Deus? Sim, mas Deus o criou bom. Foi a liberdade de Lúcifer em não aceitar realizar o projeto de Deus nele mesmo (adorando o Verbo Encarnado, em poucas palavras) que lhe trouxe a destruição.
 
Portanto, Deus criou todas as coisas do nada, e as criou boas, devendo obedecer a uma hierarquia e a um ordenamento queridos por Ele, a fim de que todas possam cumprir o Seu projeto. A diversidade de cada criatura também tem um fim específico, conforme explica o Catecismo:
 
As diferentes criaturas, queridas em seu próprio ser, refletem, cada uma a seu modo, um raio da sabedoria e da bondade infinitas de Deus. É por isso que o homem deve respeitar a bondade própria de cada criatura para evitar o uso desordenado das coisas, que menospreze o Criador e acarrete consequências nefastas para os homens e seu meio ambiente.
 
Desta forma, a interdependência das criaturas é querida por Deus. Ele criou tudo diferente para que uns precisassem dos outros. Isso pode ser visto como uma coisa boba, pequena, mas não é.
Por fim, o homem é o centro da criação, a obra prima das coisas visíveis. Na próxima aula veremos como a Encarnação trouxe uma nova dignidade ao ser humano, colocando sobre todas as criaturas.
 
 
 
Parte II 
 
Existe uma hierarquia nas coisas que foram criadas por Deus e o homem está no centro. O ser humano está acima dos animais, de todas as criaturas, mas isso não quer dizer que ele possa destruir, degradar ou extinguir as demais criaturas.
 
O homem está sob o senhorio de Deus, Ele é o Senhor de toda a criação, por isso é preciso que tenha um relacionamento ordenado com a criação, por isso é preciso haver harmonia entre os seres humanos e a Natureza.
 
O homem é a obra mais perfeita da criação visível, mas está submetido à vontade de Deus, à inteligência divina que se manifesta na criação. Isso deveria servir para moderar as ações humanas, mas, infelizmente, não é isso que acontece na maior parte das vezes. Contudo, não é por isso que exageros ecológicos devam ser aceitos.
 
Atualmente existe uma corrente de pensamento que prega que o homem é o causador do mal na natureza e que ele é quem deveria ser extinto. Ora, essa não é a vontade de Deus. O Papa Bento XVI afirma que é necessário colocar o homem dentro da ecologia.
 
Deus ao se fazer humano, conferiu ao homem uma dignidade que ele não possuía antes. Por natureza, o homem está acima da criação visível, e por graça, pela encarnação, o homem está acima de toda a criação. Ele é a ligação entre o visível e o invisível, pois é o único ser criado que tem nele mesmo a realidade visível e invisível. Sua alma é imortal, não se decompõe, portanto, está numa realidade híbrida entre o visível e o invisível, resumindo, nele mesmo, as duas realidades.
 
E o ápice da criação é Jesus Cristo. Ele é o esplendor da criação. Deus Filho, que também é Criador, se fez homem, encarnou-se, mas nem por isso é adequado dizer que ele seja uma “criatura”, muito embora seja plausível admitir que o corpo e a alma Dele foram criados, que recebeu uma natureza humana (criada) completa.
 
Jesus não é Deus que “entrou” num corpo humano, isso é uma heresia denominada apolinarismo. Ele tinha corpo e alma plenos, criados por Deus. É um certo escândalo do cristianismo, pois o mundo foi criado para Jesus.
 
É por causa de Jesus também que se fala num Oitavo Dia. As Sagradas Escrituras falam que Deus criou o mundo em seis dias, descansou e santificou o sétimo. Como, então, se falar em Oitavo Dia? O próprio Catecismo oferece a resposta:
 
Mas para nós nasceu um dia novo: o dia da Ressurreição de Cristo. O sétimo dia encerra a primeira criação. O oitavo dia dá início à nova criação. Assim, a obra da criação culmina na obra maior da redenção. A primeira criação encontra seu sentido e seu ponto culminante na nova criação em Cristo, cujo esplendor ultrapassa o da primeira.
 
Portanto, a razão de ser do universo é Jesus, pois o menino nascido em Belém, saído do ventre de Maria, que morreu crucificado, é a razão de ser de tudo. Esse é o grande escândalo do Cristianismo.