29. Os anjos na vida da Igreja

29. Os anjos na vida da Igreja
O católico deve acreditar na existência dos seres angelicais porque Deus assim o determinou. Esta aula abordará alguns aspectos interessantes sobre os anjos, tomando como base a opinião dos grandes santos da Igreja.
 
 
Parte I 
 
O mundo angélico é uma realidade de fé. A ação desses seres espirituais está narrada ao longo de toda a Sagrada Escritura. Mas, como se dá a ação dos anjos? E como os homens podem se relacionar com eles? O Catecismo traz uma descrição da ação dos anjos que, embora seja bastante ampla, é apenas uma amostragem.
 
Eles aí estão, desde a criação e ao longo da História da Salvação, anunciando de longe ou de perto esta salvação e servindo ao desígnio divino de sua realização: fecham o paraíso terrestre, protegem Lot, salvam Agar e seu filho, seguram a mão de Abraão, comunicam a lei por seu ministério, conduzem o povo de Deus, anunciam nascimentos e vocações, assistem os profetas, para citarmos apenas alguns exemplos. Finalmente, é o anjo Gabriel que anuncia o nascimento do precursor e do próprio Jesus.
 
Antes de tudo é preciso lembrar que a palavra anjo designa apenas uma função, ela quer dizer “mensageiro”. Assim, Deus, por seus insondáveis caminhos, serve-se desses mensageiros para comunicar sua vontade e realizar a sua vontade no mundo.
 
Além da função de mensageiro, em algumas ocasiões, o anjo atua como guardião da liberdade do homem. É o caso da desobediência de Adão e Eva, no Paraíso.
 
Deus criou o homem e a mulher não como existem hoje. Ele os cumulou de dons especiais, chamados de preternaturais, o que lhes conferia uma sabedoria maior, um conhecimento natural maior do que aquele que temos hoje, portanto, tinham conhecimento do que significava a desobediência à ordem divina, ainda que não tivessem experimentado as consequências dela. Assim, quando cederam à tentação sabiam o que estavam fazendo e o fizeram livremente.[01]
 
Assim, a presença do anjo nos portões do Paraíso é a garantia de que a liberdade do homem será respeitada por Deus. O anjo garante a manutenção da decisão humana, tomada livremente pelos primeiros pais.
 
No Antigo Testamento os anjos celestes aparecem em muitas passagens, mas, o mesmo não acontece com os anjos luciferinos. Não se fala muito em anjos maus no Antigo Testamento.
 
Já no Novo Testamento ocorre o contrário. Apesar das muitas e importantíssimas ações positivas, existe também muitas referências aos demônios.
 
É possível que isso tenha a ver com a pedagogia divina que via nos homens antigos uma maior propensão à idolatria, por isso Deus permitiu a atuação discreta de seus mensageiros.
 
Parte II 
 
Nessa aula serão explorados alguns pontos acerca dos anjos. Trata-se de investigação teológica, ou seja, não se trata de verdade de fé. O católico deve acreditar na existência dos seres angelicais porque Deus assim determinou, conforme já visto, mas as respostas aqui apresentadas não são verdades de fé, são opiniões teológicas de grandes santos.
 
Dito isso, o primeiro ponto: se os anjos são seres incorpóreos, como explicar as afirmações de que estão aqui, ali, em diversos lugares?
 
Santo Tomás de Aquino, conhecido também como Doutor Angélico justamente por seus estudos sobre os anjos, ensina que os anjos são seres sem corpo, de fato, mas que agem de forma específica de acordo com a vontade de Deus. São seres finitos, constituídos de puro intelecto, assim, quando agem, empregam todo o seu poder num determinado lugar, de forma específica.
 
Os anjos também obedecem a uma hierarquia, já estudada anteriormente. São reconhecidos pelo heroísmo e pela fidelidade com que lutaram na Queda. Mesmo assim, quando agem na terra tem um poder limitado. Os anjos da guarda auxiliam os homens que lhes foram designados, mas, não é possível que somente um atenda a toda a humanidade.
 
Cada anjo se aplica, se dedica a uma só pessoa, aquela que lhe foi confiada por Deus. Os anjos não são onipresentes, mas sim, finitos.
 
Da mesma forma acontece com o anjo decaído, quando ele age contra uma pessoa, não age contra outra. Isso leva a uma outra pergunta: quantos são os anjos?
 
Mais uma vez é Santo Tomás quem direciona essa investigação teológica. Ele afirma que os anjos são tão numerosos que se fossem somados todos os homens que já viveram, mais os que estão vivos e os que ainda nascerão, o número ainda seria menor que o dos anjos existentes. O raciocínio de santo Tomás é que não haveria sentido em Deus criar um universo material tão grande, considerando que o material é imperfeito e criar um universo espiritual (perfeito) menor que ele. Assim, considera-se até que o número dos anjos seja maior que o número de partículas existentes no universo.
 
Outra questão teológica acerca dos anjos: existe diferença entre aparição e visão? Sim. Aparição é quando o anjo, por um desígnio de Deus, toma a forma de um corpo e “aparece” a alguém. Visão é quando Deus capacita alguém a enxergar o ser incorpóreo, que é o anjo.
 
Por fim, qual o papel dos anjos na liturgia? Os anjos são lembrados em todas as liturgias, nos momentos mais importantes. A Igreja se associa a eles quando entoa o Santo. Na liturgia bizantina que é, de alguma forma, mais poética e imaginativa, antes da Consagração, unem-se aos anjos que, em procissão, cantam ao Cristo que vem. Da mesma forma, quando um sacerdote celebra a missa nunca está sozinho. Sempre está acompanhado de uma multidão de anjos que cantam e adoram a Deus.
 
Muitos creem que em cada altar consagrado exista um anjo que o guarda, em adoração ininterrupta a Deus, por isso todo altar é santo. Igualmente quanto ao sacrário, Jesus nunca está sozinho, pois, Deus mandou que seus anjos adorassem o Verbo Encarnado, o Santíssimo Sacramento.