28. Cristo com todos os seus anjos

28. Cristo com todos os seus anjos
Os anjos pertencem a Jesus. Não somente ao Jesus Divino, segunda pessoa da Santíssima Trindade, mas, também, ao Jesus, filho de Deus feito homem e que, ressuscitado, exerce um senhorio sobre toda a criação.
 
 
Parte I 
 
O estudo da doutrina angélica, de certa forma, também propicia um maior conhecimento da pessoa de Jesus Cristo. Ora, os anjos foram criados por e para Jesus Cristo, portanto, fazem parte da cristologia, não sendo um adereço supérfluo da fé. Pelo contrário, a existência e a importância dos seres angélicos é uma verdade de fé, conforme já estudado.
 
Jesus Cristo fez questão de revelar aos homens a estreita ligação entre ele mesmo e os anjos quando, no Evangelho de São João, fala com Natanael nos seguintes termos: “em verdade, em verdade vos digo: vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem.” Jesus reporta-se ao sonho de Jacó, quando o patriarca viu o céu se abrir e os anjos gloriosos subirem e descerem pela escada. Jesus é a escada que une o céu e a terra. Jesus é o centro do mundo angélico.
 
Os anjos pertencem a Jesus. Não somente ao Jesus Divino, segunda pessoa da Santíssima Trindade, mas, também, ao Jesus, filho de Deus feito homem e que, ressuscitado, exerce um senhorio sobre toda a criação.
 
A respeito desse senhorio, a iconografia angélica pode ser de grande ajuda. Nela, Jesus é quase sempre retratado usando uma túnica vermelha, cor de sangue, que representa a sua humanidade. Sobre esta túnica, um manto azul, que é a cor da divindade. Eventualmente, sobre esse manto, encontra-se uma estola na cor dourada. Esta peça dourada significa que a humanidade de Jesus tem uma realeza, uma superioridade e exerce, assim, um senhorio sobre toda a humanidade.
 
Deus é Senhor. O Filho é Senhor. O Espírito Santo é Senhor. A humanidade de Cristo participa deste senhorio porque, em primeiro lugar, o Filho do Deus estava unido a essa humanidade. O fato de a humanidade ter sido perpassada pela divindade faz dela uma humanidade diferente, especial, perfeita porque não foi maculada pelo pecado. É o que em teologia se chama de “união hipostática” .
 
Assim, a humanidade é perfeitamente unida à divindade em Jesus. Ele tem a humanidade perfeita. E porque obedeceu até o fim, morrendo na cruz, Deus o constituiu Senhor. A humanidade de Jesus foi glorificada pela ressurreição. A exaltação de Jesus por Deus foi também sobre os anjos, portanto, Jesus também exerce o senhorio sobre os anjos.
 
Assim, conforme já dito, os anjos são de Jesus, foram criados por e para Ele. Mas, Satanás não aceita esse senhorio. Para ele, criatura espiritual superior, é uma humilhação ter que servir alguém que também é feito de barro, com uma humanidade inferior, pois feito semelhante ao homem. Por esse motivo ocorreu a Queda, que será estudada mais profundamente na sequência.
 
Os seres angélicos estão presentes em diversos relatos nas Sagradas Escrituras. Alguns teólogos sistematizaram essas menções e, por meio delas, é possível dizer que os anjos obedecem a uma hierarquia. Trata-se de um esforço teológico para compreender melhor a atuação e a ordem desses seres.
 
A hierarquia celeste é composta de três coros, cada um com três níveis. O primeiro coro é composto pelos Serafins, Querubins e os Tronos. O segundo coro são as Dominações, as Virtudes e as Potestades. O terceiro coro é formado pelos Principados, Arcanjos e Anjos da Guarda.
 
Parte II 
 
Avançando na investigação acerca dos anjos e seguindo a orientação de Santo Tomás de Aquino, o Doutor Angélico e de São Dionísio, o Aeropagita, recordamos que existe uma hierarquia angelical composta de três grupos de três coros.
 
O primeiro coro angelical é aquele que está mais próximo de Deus. Eles não têm nenhum contato com as criaturas e são dedicados ao louvor eterno a Deus, pois são agraciados com um amor ardente pelo Criador. Este coro é composto pelos Serafins, Querubins e os Tronos.
 
Os Serafins são mencionados no Antigo Testamento, mais precisamente no Livro de Isaías, no Capítulo VI. São eles que entoam o canto do Hosana que, por isso, é denominado “seráfico”:
 
Sanctus, Sanctus, Sanctus Dóminus Deus Sábaoth. Pleni sunt caeli et terra gloria tua. Hosánna in excélsis. Benedíctus qui venit in nómine Dómini. Hosánna in excélsis.
 
Santo, Santo, Santo Senhor Deus do Universo. Os céus e a terra estão cheios de vossa glória. Hosana nas alturas. Bendito o que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas.
 
Em seguida estão os Querubins que, como já dito, não têm contato com as criaturas. São eles que guardam a Árvore da Vida e a porta do Paraíso, no Livro do Gênesis. São citados ainda no Livro de Ezequiel, no Capítulo X, como aqueles que se movimentam no Templo e estão ligados à Sabedoria Divina:
 
E expulsou-o; e colocou ao oriente do jardim do Éden querubins armados de uma espada flamejante, para guardar o caminho da árvore da vida. (Gênesis 3, 24)
 
Olhei. Na abóbada estendida acima da cabeça dos querubins, havia como que uma pedra de safira, uma espécie de trono, que aparecia sobre eles. (O Senhor) disse então ao homem vestido de linho: Passa no meio das rodas, debaixo do querubim; enche a mão de carvões ardentes que tomarás entre os querubins, e espalha essas brasas sobre a cidade. E ele se foi sob as minhas vistas. Quando o homem acabou de fazer isso, estavam os querubins à direita do templo, e a nuvem enchia o átrio interior. A glória do Senhor elevou-se acima dos querubins até a soleira do templo, e enquanto o esplendor da glória do Senhor enchia o átrio, a nuvem invadia o templo. O ruflar das asas dos querubins fazia-se ouvir até no pátio exterior, e assemelhava-se à voz do Deus onipotente quando fala. Apenas havia ordenado ao homem de linho tomar o fogo no intervalo das rodas, entre os querubins, este veio postar-se junto de uma roda, e (um dos) querubins estendeu a mão para o fogo que se encontrava em meio dos querubins. Daí ele retirou brasas, que colocou na mão do homem vestido de linho, o qual as tomou, e saiu. Notei que os querubins pareciam ter mãos humanas sob as asas. Eu olhei ainda. Havia ao lado dos querubins quatro rodas, uma junto a cada um deles.
 
Possuíam o clarão da gema de Társis. Todas as quatro pareciam ter a mesma forma, e cada uma parecia estar no meio da outra. Deslocando-se nas quatro direções, avançavam sem se voltarem, porque iam sempre na direção tomada pela que ia à frente, sem se voltar em seu movimento. Todo o seu corpo, suas costas, suas mãos e suas asas, assim como as rodas, achavam-se guarnecidas de olhos em derredor: cada um dos quatro possuía uma roda. Ouvi que se dava a essas rodas o nome de turbilhão. Cada um (dos querubins) tinha quatro faces: o primeiro, a de um querubim; o segundo, um aspecto humano; o terceiro, o de um touro, e o quarto o de uma águia. Os querubins se elevaram (eram os seres vivos que eu tinha visto às margens do Cobar). Quando os querubins se deslocavam, as rodas se deslocavam com eles; quando desdobravam as asas para elevar-se da terra, as rodas não se desprendiam deles.
 
Quando paravam, as rodas paravam; se se elevavam no espaço, elas de igual modo se elevavam, porque o espírito desses seres vivos estava (também) nelas. De repente, a glória do Senhor deixou a soleira do templo e pousou sobre os querubins. Estes desdobraram as asas, e eu os vi alçarem-se da terra com as rodas ao lado, para partirem. Eles pararam à entrada da porta oriental do templo, dominados pela glória do Senhor. Estavam lá os seres vivos que eu tinha visto debaixo do Deus de Israel, às margens do Cobar, e reconheci os querubins: cada um tinha quatro figuras e quatro asas, e sob as asas algo parecido com mãos humanas. Suas figuras assemelhavam-se àquelas que eu tinha visto às margens do Cobar. Cada um deles ia para a frente diante de si. (Ezequiel 10)
 
No mesmo coro estão os Tronos, que são citados no Novo Testamento pela Carta aos Colossenses e pelo Apocalipse. Esses anjos estão ligados à Justiça Divina:
 
Tronos, dominações, principados, potestades: tudo foi criado por ele e para ele. (Colossenses 1, 16)
 
O segundo coro é formado pelas Dominações, Virtudes e Potestades. Sobre este coro não existem muitas citações bíblicas.
 
A angelologia, por meio de Santo Tomás de Aquino e de Dionísio, o Aeropagita, ensina que o fato de existir uma hierarquia angélica pressupõe que nem todos os anjos são iguais ou desempenham as mesmas funções. Mais que isso, nem todos eles têm acesso direto ao Criador.
 
A comunicação entre os anjos é feita pelas Dominações. Essa categoria é responsável pela transmissão das notícias, das missões, enfim, da vontade de Deus aos demais anjos.
 
Em seguida estão as Virtudes. Em algumas traduções bíblicas elas são chamadas de Fortaleza, uma vez que, etimologicamente, virtude vem de virtus, que quer dizer força. As Virtudes ampliam o contato com o mundo material. Segundo a Cosmologia Antiga, são elas que controlam os corpos celestes. As leis físicas que regem estes corpos não devem ser menosprezadas, contudo, existe uma espécie de fidelidade a elas e seria justamente na manutenção dessas leis que as Virtudes atuariam. Esta hipótese é bastante aceita na teologia mística.
 
Potestades estão na sequência. Significam poder e mantém um contato maior com os homens.
 
O terceiro e último coro é composto pelos Principados, Arcanjos e Anjos da Guarda.
 
Os Principados são responsáveis pelas ciências, pelas artes, pelas realizações dos seres humanos. As intuições dos cientistas, as descobertas das leis da natureza, os grandes artistas e suas inspirações, podem ser resultado da ação desses seres.
 
Os Arcanjos vêm em seguida. Os mais conhecidos são Gabriel, Miguel e Rafael. Na literatura apócrifa aparece ainda o nome de Uriel, porém, a liturgia somente celebra os três primeiros.
 
Assim como algumas mensagens são mais importantes que outras, os arcanjos pertencem a uma categoria superior à dos anjos, justamente porque as mensagens que são encarregados de transmitir são mais importantes que outras. Por exemplo, a mensagem de Gabriel para a Virgem Maria é infinitamente mais importante que a mensagem que o anjo da guarda leva.
 
Por fim, os anjos da guarda. São aqueles designados por Deus para guardar cada ser humano e o auxiliar no caminho para a salvação. Apesar de serem os últimos na hierarquia angélica, em nenhum momento deve-se pensar que são seres “inferiores”, pelo contrário. Em comparação com o ser humano, eles são infinitamente superiores.
 
A superioridade do anjo frente ao homem requer deste uma gratidão profunda. Ora, o anjo é um ser espiritual, dotado de vontade, imortal e, mesmo assim, em obediência à vontade de Deus serve ao homem, criatura de barro, inferior, corruptível.
 
Ao mesmo tempo, o homem deve venerar o anjo a quem foi confiado por Deus, pois, como ser superior e obediente, o anjo ofende-se com o pecado cometido pelo homem.
 
A intimidade com o anjo é uma arma poderosíssima para se evitar o pecado. O anjo da guarda preserva seu protegido das tentações, entretanto, ele só age quando existe permissão. Ao contrário dos anjos luciferinos que adentram sem pedir, os anjos da guarda vão até onde o homem permite. Assim, quanto mais intimidade e amizade existir entre o anjo e o homem, mais santos serão os atos.
 
Angele Dei, qui custos es mei, me, tibi commíssum pietáte superna, illúmina, custódi, rege et gubérna. Amen.
 
Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, me guarda, governa, ilumina. Amém.