27. Deus Criador do Céu e da Terra

27. Deus Criador do Céu e da Terra
A profissão de fé atribuída aos apóstolos diz que Deus é o “criador do céu e da terra”. O credo niceno-constantinopolitano vai mais além e diz “criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis…”. Mas, o que quer dizer exatamente céu e terra, coisas visíveis e coisas invisíveis? É o que Padre Paulo Ricardo explica nesta aula.
 
 
Parte  I 
 
A profissão de fé atribuída aos apóstolos diz que Deus é o “criador do céu e da terra”. O credo niceno-constantinopolitano vai mais além e diz “criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis…”. Mas, o que quer dizer exatamente céu e terra, coisas visíveis e coisas invisíveis?
 
O Catecismo traz quatro definições para a palavra céu: a primeira, quando se refere a firmamento, diz que céu é o lugar onde estão os astros, mundo visível; a segunda, como sendo o lugar onde está o próprio Deus; a terceira, remete ao paraíso que espera o justo no final dos tempos; e, finalmente, a quarta, querendo dizer mundo invisível, dos anjos.
 
O Catecismo, como já apresentado, diz Deus criou tanto o céu (mundo invisível) quanto a terra (mundo visível). Para o católico, esta é uma verdade de fé. É preciso crer na existência do mundo invisível. Não é uma opção que se faz, é uma verdade que se aceita.
 
Houve um tempo em que a sociedade não acreditava que Deus havia criado o mundo visível, pois muitos consideravam que as coisas materiais eram más e que, exatamente por isso, não haviam sido criadas por Deus. Esta heresia, espalhada pelos cátaros e albigenses, foi combatida no IV Concílio de Latrão, que afirmou que:
 
[Deus] criou conjuntamente, do nada, desde o início do tempo ambas as criaturas, a espiritual e a corporal, isto é, os anjos e o mundo terrestre; em seguida, a criatura humana, que tem algo de ambas, por compor-se de espírito e de corpo.
Atualmente, a crise é pelo motivo inverso. A sociedade moderna nega a existência do mundo invisível, dos anjos, dos seres espirituais. Mais uma vez, a resposta para este problema vem de uma declaração do concílio lateranense, que põe em letras claras a existência do mundo invisível:
 
A existência de seres espirituais, não-corporais, que a Sagrada Escritura chama habitualmente de anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura a respeito é tão claro quanto a unanimidade da Tradição.
Os anjos fazem parte da realidade invisível da criação. Segundo Santo Agostinho, a palavra anjo é uma designação de encargo e não de natureza. Portanto, a pergunta não é quem são os anjos, mas, sim, que fazem os anjos? De forma simples, é possível dizer que os anjos são mensageiros de Deus. Eles cumprem a tarefa de levar nossas orações para Deus. Nesse sentido, os anjos têm um sacerdócio, cuja missão é unir o céu e a terra.
 
Outra função exercida pelos anjos é a de servir a Deus, por isso, muitas vezes são retratados como diáconos. Mais ainda, servem a Deus e servem ao homem, como os conhecidos anjos da guarda. A afirmação contida no Catecismo de que os anjos “… superam em perfeição todas as criaturas visíveis” se concretiza nesse fato: criaturas com tamanha superioridade servindo ao homem, muitas vezes inferior, em obediência à voz do Senhor.
 
Parte II 
 
Continuando a investigação acerca dos anjos, a aula de hoje pretende responder, ao menos em parte, a seguinte pergunta: quem são os anjos? Santo Agostinho ensinou que a palavra anjo designa a função, o encargo, mas não a natureza destes seres.
 
Santo Tomás de Aquino estudou profundamente a natureza dos anjos e, por isso, é conhecido também como o Doutor Angélico. De certa forma, o entendimento deste Santo é tido como definitivo, apesar de não ser dogmático. Santo Tomás ensina que os anjos são seres puramente espirituais. O Catecismo corrobora essa definição e ainda acrescenta outras qualidades. A saber:
 
Como criaturas puramente espirituais, são dotados de inteligência e de vontade: são criaturas pessoais e imortais. Superam em perfeição todas as criaturas visíveis. Disto dá testemunho o fulgor de sua glória.
 
A existência dos anjos é um artigo de fé, ou seja, é algo que foi revelado ao homem por Deus. Para entender o que são, como agem e quem são os anjos, o homem faz um esforço teológico.
 
Assim, de acordo com o Catecismo os anjos são criaturas puramente espirituais. Esta afirmação traz em si um detalhe que suscita diversas discussões teológicas: a palavra puramente. Afirmar que os anjos são puramente espirituais, ou seja, que não possuem corpos parece ir contra as Sagradas Escrituras que trazem diversos relatos sobre aparições angélicas. Santo Tomás explica que a capacidade de ver os anjos, de presenciar uma aparição destes seres é uma graça divina dada ao homem e não muda a natureza deles. Ou seja, o homem é agraciado por Deus com a capacidade de enxergar e interagir com os anjos, mas eles continuam sendo o que são: criaturas puramente espirituais.
 
Os anjos são pessoas, dotadas de vontade própria. Os Salmos dizem que eles são obedientes a Deus, “poderosos executores de sua palavra, obedientes ao som de sua palavra”. Posteriormente será abordada a questão da obediência, da queda e da impossibilidade de os anjos caídos voltarem atrás em sua decisão. Por ora, é suficiente saber que os anjos são seres livres, que obedecem livremente às ordens divinas e, igualmente, servem livremente o homem.
 
Eles são também imortais. Esta é uma afirmação feita pelo próprio Jesus no Evangelho de São Lucas: “Eles jamais poderão morrer, porque são iguais aos anjos". 
 
Superam em perfeição todas as criaturas visíveis. Seguindo esse raciocínio, é possível indagar acerca de Maria. Seria ela menor que os anjos? Lúcifer foi a criatura mais perfeita criada por Deus, porém, pelo seu orgulho, por não ter aceitado o plano divino, tornou-se um anjo caído. Maria, por sua vez, criada com a imperfeição material inerente a todo ser humano, pela sua humildade, pelo seu sim, foi elevada à condição de criatura mais perfeita criada por Deus. É lícito dizer que entre Maria e Lúcifer existe um paralelo contrário, pois, Lúcifer com seu orgulho foi humilhado e Maria, por sua humildade foi exaltada. Por esse motivo, a humildade é a maior arma contra os ataques de satanás.