23. Deus Todo-Poderoso

23. Deus Todo-Poderoso
Atualmente existe uma certa resistência em se pregar e até mesmo de se crer num dos títulos de Deus Pai: “Todo-Poderoso”. É mais fácil pensar num Deus frágil, impotente, que se rebaixou, em vez de pensar num Deus majestoso, tremendo, Todo-Poderoso. Contudo, uma característica não exclui a outra e este é o tema da nova aula do curso de Catecismo da Igreja Católica.
 
 
Deus Todo-Poderoso
 
O Catecismo da Igreja Católica prossegue com uma reflexão acerca do título de Deus Pai como “Todo-Poderoso”. O que ele significa? Hoje em dia existe uma certa dificuldade em pregar e até mesmo em crer no poder de Deus, pois a mentalidade moderna prefere falar sobre Jesus na manjedoura, nascido criança, impotente, frágil. Um Deus todo-poderoso assusta. No entanto, reconhecer a potência divina e que Seu poder está acima de toda e qualquer criatura é, enfim, a primeira coisa que se deve fazer.
 
A tendência de preferir um deus frágil se vê até mesmo dentro da própria Igreja. Muitos padres têm substituído a expressão “todo-poderoso” por “misericordioso”: “Deus Misericordioso, tenha compaixão de nós, perdoe os nosso pecados e nos conduza à vida eterna”. Contudo, mesmo nesse tipo de abordagem o que se sobressai é o tremendo poder de Deus, pois a salvação que Jesus trouxe só pode ser compreendida se se considerar que a majestade divina se manifesta justamente em sua capacidade de se fazer impotente. Ele não pode ser somente frágil como o homem, se assim fosse não poderia salvar. Ao contrário, Deus não é simplesmente frágil, ele é majestoso, glorioso, Todo-Poderoso.
 
E a Sua majestade é cantada em todas as missas quando, após o Prefácio, o sacerdote convida o povo para entoar: “ Sanctus, Sanctus, Sanctus, Dominus Deus Sabaoth. Pleni sunt cæli et terra gloria tua. Hosanna in excelsis. Benedictus, qui venit in nomine Domini. Hosanna in excelsis.” Na tradução para o português a palavra “Sabaoth” tornou-se “universo”, todavia, no original ela quer dizer “Senhor dos exércitos” celestes. Assim, é o homem em sua pequenez que se coloca diante da grandeza dos anjos, que são tremendos. Deus é o “Senhor Deus” dessas potências maravilhosas.
 
Uma outra analogia pode ser utilizada também: a de Deus com o universo. O Sol é uma estrela de quinta categoria, ou seja, é uma estrela pouco importante. A nossa galáxia tem cerca de 100 BILHÕES de estrelas como o Sol. A estrela mais próxima dessa galáxia imensa está a quatro anos-luz, assim, quando se olha para o céu o que se vê de mais novo tem 4 anos. É uma notícia velha, uma imagem de 4 anos atrás, pois a sua luz demorou esse tempo para chegar à Terra. A luz do Sol leva 8 minutos para chegar à Terra. Da estrela mais próxima, 4 anos. Assim, as estrelas mais distantes da terra, ainda dentro da galáxia estão há milhões de anos-luz.
 
Vamos dar um passo a mais. Existem cerca de 100 BILHÕES de galáxias iguais à nossa ou maiores. Imagine as distâncias enormes, os vazios monumentais, a imensidão do Universo. Quando se estuda sobre ele é como uma vertigem.
 
A meditação sobre a grandeza de Deus deve mudar a forma como se pronuncia a palavra “Deus”. Apesar de Ele ter se feito amigo do homem, de ter-se rebaixado a ponto de tornar-se humano é preciso entender a Sua majestade, Sua grandeza. Dizer “Deus Todo-Poderoso” é, antes de tudo, professar Sua imensa glória e majestade. Ora, esse Universo tremendamente grande é um nada diante de Deus. Refletindo nesse sentido é possível também ter uma noção da distância entre o homem e Deus.
 
Os antigos ponderavam sobre a pequenez do homem em face da majestade dos anjos que são muito mais numerosos e gloriosos que o Universo. E ainda assim são um nada diante de Deus. Diz o Catecismo que Deus “é chamado “o Poderoso de Jacob”, “o Senhor dos Exércitos”, “o Forte, o Poderoso”. Se Deus é omnipotente “no céu e na terra”, é porque foi Ele quem os fez. Portanto, nada Lhe é impossível.” (269)
 
Deus pode tudo. Diante disso, alguns questionam: “se Deus pode tudo, Ele pode não poder?” Trata-se de um paradoxo irresolvível, para o qual não há resposta e qualquer coisa que seja dita retira a onipotência de Deus. A pergunta é que está errada, pois parte de um falso conceito de possível.
 
O possível é uma realidade que está inscrita no ser do próprio Deus. Existem os possíveis, ou seja, Deus pode tudo que é possível. Mas, fora do mundo dos possíveis há apenas o não-ser. O ser é que o limite dos possíveis. Por isso, ele não pode fazer com que dois mais dois sejam cinco, pois seria contrário ao ser e Ele é a fonte do Ser, portanto, não pode ir contra Ele mesmo. Assim, sua potência não é baseada em caprichos, mas está inserida no Ser das coisas, em seu caso, ilimitado.
 
Já o homem pode muitas coisas, porém, o seu poder é limitado. E o limite é justamente o ser. Por exemplo, ele não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo, um limite espacial; não pode pertencer a todas as épocas, um limite temporal. Deus, contudo, é ilimitado, onipotente, não tem fronteiras. Por isso é chamado Todo-Poderoso, mas isso não quer dizer que ele vá cair no não-ser, pois não pode fazer algo que não exista. Deus pode tudo que está dentro das possibilidades.
 
Dentro da potência de Deus, ela se manifesta em sua onipotência. E ela não é arbitrária. “Em Deus o poder e a essência, a vontade e a inteligência, a sabedoria e a justiça são uma só e a mesma coisa, de sorte que nada pode estar no poder divino que não possa estar na vontade justa de Deus ou em sua inteligência sábia.” (271)
 
O chamado “mistério da onipotência de Deus”, se manifesta sobretudo em sua aparente impotência diante do sofrimento e do mal. O Catecismo explica da seguinte forma:
 
“A fé em Deus Pai todo-poderoso pode ser posta à prova pela experiência do mal e do sofrimento. Por vezes, Deus pode parecer ausente e incapaz de impedir o mal. Ora, Deus Pai revelou sua onipotência de maneira mais misteriosa no rebaixamento voluntário e na Ressurreição de seu Filho, pelos quais venceu o mal. Assim, Cristo crucificado é “poder de Deus e sabedoria de Deus. Pois o que é loucura de Deus é mais forte do que os homens”. Foi na Ressurreição e na exaltação de cristo que o Pai “desdobrou o vigor de sua força” e manifestou “que extraordinária grandeza reveste seu poder para nós, os que cremos.” (272)
Ora, Deus pode parecer que está com as mãos amarradas, porque, de alguma forma misteriosa o homem tem um limite em enxergar como o amor e a providência divina podem se manifestar nos eventos por vezes escandalosos. Como é possível que um Deus onipotente possa permitir o sofrimento de crianças com câncer? A impossibilidade de entendimento é da mente do homem. Algo de bom existe nesses escândalos, basta entender. Santo Agostinho dizia que “não há mal tão grande que Deus não possa tirar dele bem ainda maior”. Ademais, um deus que caiba na mente humana tem pouco de divino.
 
O Catecismo prossegue e aborda no parágrafo 4 a questão de Deus como “O Criador”. Ora, a Trindade toda é criadora. “Embora a obra da criação seja particularmente atribuída ao Pai, é igualmente verdade de fé que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são o único e indivisível princípio da criação.” (316).
 
O número seguinte apresenta alguns questionamentos filosóficos feitos ‘pelos homens de todas as épocas: “De onde viemos?” “Para onde vamos?” “Qual é a nossa origem?” “Qual é o nosso fim?” “De onde vem e para onde vai tudo o que existe?”’(282).
 
O número 283 trata das pesquisas científicas, que não contradizem a existência de Deus; pelo contrário, quanto mais elas avançam, mais claro se torna a existência de um Criador inteligente. Já o número 284 apresenta os limites desse tipo de reflexão filosófica, pois, embora se possa refletir cientificamente, a capacidade humana de reflexão sempre esbarra em coisas não lógicas. Deus é inteligente, mas a mente humana não compreende como pode existir o mal, a maldade. O 285 apresenta uma falsa resposta a esse tipo de escândalo. A resposta gnóstica que atribui o que há de bom no mundo a um deus bom e o que é ruim a um demiurgo. É a eterna luta do bem contra o mal.
 
No entanto, a resposta gnóstica não é a correta e não pode ser aceita pelo cristão. Existe um só princípio que é bom: Deus. Se existe a maldade no mundo é preciso procurar uma outra explicação, “pois Deus não somente dá às suas criaturas o existir, mas também a dignidade de agirem elas mesmas, de serem causas e princípios umas das outras e de assim cooperarem no cumprimento de seu desígnio.” (306)