21. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo

21. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo
"A Trindade é um mistério de fé no sentido estrito, um dos mistérios escondidos em Deus que não podem ser conhecidos se não forem revelados do alto. Sem dúvida, Deus deixou vestígios de seu ser trinitário em sua obra de Criação e em sua Revelação ao longo do Antigo Testamento. Mas a intimidade de seu Ser como Santíssima Trindade constitui um mistério inacessível à pura razão e até mesmo à fé de Israel antes da Encarnação do Filho de Deus e da missão do Espírito Santo."
 
 
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo
 
Iniciando hoje o parágrafo segundo do Credo: O Pai (em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo). Trata-se da realidade de mais difícil compreensão na fé cristã, o mistério da Santíssima Trindade.
 
Em primeiro lugar é preciso fazer uma distinção entre Teologia e Economia. O Catecismo traz em seu nº236 uma importante citação que auxilia no entendimento desses termos:
 
"Os Padres da Igreja distinguem entre a 'Theologia' e a 'Oikonomia', designando com o primeiro termo o mistério da vida íntima de Deus-Trindade e com o segundo todas as obras de Deus por meio das quais ele se revela e comunica sua vida"
O primeiro termo é Deus nele mesmo (a identidade de Deus) e o segundo tudo aquilo que Deus faz para salvação do homem (as obras de Deus na história). Como, então, é possível ao homem saber que na identidade de Deus, na Teologia, ele é Trindade? Olhando para a ação de Deus na história. Toda revelação da Trindade acontece em Jesus Cristo, pois, aqui na Terra, ele começar a chamar Deus de 'Pai' (aba) e se comporta como sendo o 'Filho'. Além disso, Jesus é filho de Deus de uma maneira muito particular. Ele não se refere a Deus como sendo 'nosso', mas sempre 'meu Pai' e 'o vosso Pai', isso se dá justamente pelo jeito diferente de ser filho. Alguns podem questionar dizendo que ele ensinou o Pai Nosso, porém, o que ele disse, na verdade, foi: "quando orardes vós..." (Mt 6). E assim se dá em todas as orações de Jesus.
 
Diante disso, é possível perceber que Jesus não é somente filho de Deus, ele é o próprio Deus que se fez homem e ainda que Deus é um só, mas não é sozinho. Olhando para o relacionamento entre Jesus e o Pai descobre-se que há ainda um terceiro, que é o Paráclito, o qual é revelado por Jesus na última ceia quando diz: "Quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim." (Jo 15, 26 e seguintes). É muito claro que são dois Paráclitos.
 
Assim, a ideia que se tem revelada dentro da Economia é que Deus Pai permanece habitando em luz inacessível e envia dois paráclitos ao mundo: o Filho e o Espírito Santo. É possível perceber a distinção entre eles pelo modo como foram enviados: o Filho se encarna e o Espírito Santo é enviado, mas não entra história como o Filho. Deus é Um, mas é Três. É Trindade.
 
"A Trindade é um mistério de fé no sentido estrito, um dos mistérios escondidos em Deus que não podem ser conhecidos se não forem revelados do alto. Sem dúvida, Deus deixou vestígios de seu ser trinitário em sua obra de Criação e em sua Revelação ao longo do Antigo Testamento. Mas a intimidade de seu Ser como Santíssima Trindade constitui um mistério inacessível à pura razão e até mesmo à fé de Israel antes da Encarnação do Filho de Deus e da missão do Espírito Santo." (237)
A Revelação plena de que Deus é Pai e de que Jesus é o seu Filho somente se dá com a ação do Espírito Santo. Vê-se claramente que Jesus, nos Evangelhos, tenta ensinar, se revelar aos apóstolos, o quais, aos poucos vão crescendo em fé, crendo que ele é o Messias, mas não têm realmente a noção da profundidade do significado de Jesus ser "Filho de Deus'. Somente com a descida do Espírito Santo em Pentecostes é que eles compreendem.
 
A fé trinitária foi estabelecida definitivamente pela Igreja nos Concílios de Niceia e Constantinopla. O site padrepauloricardo.org oferece sobre o tema o curso "História da Igreja Antiga" [1]. Já o Catecismo traz:
 
"Na esteira deles, seguindo a Tradição apostólica, a Igreja, no ano de 325, no primeiro Concílio Ecumênico de Niceia, confessou que o Filho é 'consubstancial' ao Pai, isto é, um só Deus com Ele. O segundo Concílio Ecumênico, reunido em Constantinopla em 381, conservou essa expressão em sua formulação do Credo de Niceia e confessou 'o Filho Único de Deus, gerado do Pai antes de todos os séculos, luz de luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai." (242)
Uma outra questão abordada pelo Catecismo é a do "Filioque". Quando se fala sobre o Espírito Santo no Credo Niceno-constantinopolitano, diz-se: "Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, que procede do Pai e do Filho", este "e do Filho' em latim se diz Filioque. O problema se dá porque no Concílio de Constantinopla não existe este 'Filioque', sendo certo que foi acrescentado o posteriormente. O DH traz em seu número 150 uma breve explicação do que ocorreu:
 
"Na Igreja ocidental aparece como profissão de fé dentro da missa pela primeira vez no III Sínodo de Toledo (589). Nesta versão encontra-se também - pela primeira vez num documento do magistério -, o 'Filioque', talvez acrescentado só depois da conclusão do sínodo. O 'Filioque' do século VII em diante, causou fortes controvérsias teológicas. Depois que o uso desse acréscimo já estava amplamente difundido, o sínodo de Aachem em 809, pediu a Leão III que o 'Filioque' fosse acolhido no Símbolo de toda a Igreja. O Papa não acolheu o pedido, não porque repudiasse a fórmula, mas porque não queria acrescentar algo ao Símbolo transmitido pela tradição. Mais tarde, o imperador Henrique II, por ocasião de sua coroação no ano 1014, obteve de Bento VIII que, em Roma, durante a missa se cantasse o Símbolo da fé com o acréscimo do 'Filioque'. Enfim, nos concílios ecumênicos de Lião II (1274) e de Florença (1439), foi reconhecido tanto pelos latinos como por alguns gregos."
A dificuldade está no verbo usado pelos gregos. O Credo original, em grego, traz o verbo proceder, que os latinos traduzem por proceder (descender, ter origem em), mas, em grego, ele significa uma espécie de fonte primeira. Desta forma, os gregos não aceitam dizer que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, pois isto equivaleria a dizer que Deus tem duas fontes. E a Revelação traz claramente que o Pai é a fonte de tudo, é ele que manda o Filho e o Espírito Santo. Nesse sentido, os gregos têm razão quanto ao Filioque.
 
Contudo, quando ocorre a tradução para o latim, o verbo perde o sentido grego (de fonte) e torna-se simplesmente 'procede', de modo que quando se diz que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, significa que o Espírito Santo procede do Pai como fonte, pelo Filho. O Pai é fonte e o Filho é aquele pelo qual o Espírito vem. Não há desacordo, mas sim um problema linguístico que gerou um desacordo.
 
Na próxima aula será estudado o Dogma da Santíssima Trindade, mistério central da fé católica.