20. Deus, 'Aquele que é', é verdade e amor

20. Deus, 'Aquele que é', é verdade e amor
Deus é o princípio da Verdade e o homem, quando peca, afasta-se da Verdade e passa a ter um relacionamento de inadequação com Deus Criador; Deus, com a sua Verdade estrutura o universo; e, finalmente, Deus quando se revela, revela a Verdade tal qual ela é. Deus é Amor. Esta é uma revelação do Novo Testamento, porém, ela foi preparada durante o Antigo Testamento. Nesta preparação, Deus revelou que Ele amava Israel, o seu povo, as pessoas, ou seja, ele revelou seu amor gratuito pelos homens.
 
 
Deus, 'Aquele que é', é verdade e amor
 
Continuando a reflexão acerca do artigo inicial do Credo: Creio em Deus Pai todo Poderoso, na aula anterior foi estudada a frase: Creio em um só Deus. Hoje três realidades serão contempladas: Ele é Aquele que É, Ele é a Verdade e Ele é o Amor.
 
Quando Deus se revela a Moisés, ele se define como sendo Aquele que é (Ex 34,6). O que Deus quis dizer com Eu sou aquele que sou? Na língua hebraica o verbo 'ser' não é utilizado como nas línguas latinas ou mesmo na grega, como verbo de ligação. Por exemplo: em português se diz: 'eu sou Paulo', em hebraico basta dizer 'eu Paulo'. Assim, o verbo ser em hebraico não tem o mesmo peso e função que em outras línguas, incluindo o português.
 
Talvez pela característica da língua hebraica (semítica), Deus esteja dizendo para Moisés que ele está presente, que é uma presença. Esta é a interpretação mais ligada à História, a um contexto de crítica textual, utilizando o método histórico-crítico. Porém, ao longo do tempo essa frase foi interpretada de outra maneira.
 
Na Idade Média, Santo Tomás de Aquino interpretou esta frase como sendo uma revelação: Deus é o ser, Deus é, enquanto todas as outras coisas não são. Deus tem consistência ontológica. O ser de Deus coloca o homem diante de duas realidades básicas: Deus é Verdade e Deus é Amor.
 
Em Filosofia, quando se estuda o ser, estuda-se também as características dele, os transcendentais: o ser é bom, verdadeiro e belo. O ser é verdadeiro, porém, o problema ocorre justamente porque no mundo atual a verdade não tem mais consistência ontológica, aparentemente ela não existe.
 
A partir de Descartes que instaurou a dúvida como método de se investigar a verdade, o homem passou a duvidar de tudo. Porém, para o homem antigo, cristão, a Verdade é sólida e está no ser das coisas. Assim, quanto mais verdadeiras as coisas, mais elas são de Verdade. Infelizmente, para o homem moderno as coisas não são assim, a Verdade é pessoal. Ele duvida da Verdade.
 
Quando se diz que Deus é aquele é, isso significa que Ele é a Verdade, é a realidade consistente à qual a mente humana deve se adequar. Para a criatura, estar na Verdade é mudar as ideias e começar a pensar as coisas que são, ou seja, pensar Deus. Esse 'mudar as ideias' é a conversão, a metanoia.
 
Santo Tomás de Aquino diz que a Verdade é a adequação da mente à realidade. Contudo, esta definição serve apenas para as criaturas. Deus, que é o Criador, é a Verdade por antonomásia, Ele é a fonte da Verdade. Assim, as coisas serão verdadeiras se estiverem em sintonia com a mente de Deus. Nesse viés, o homem somente será verdadeiro homem se estiver adequado ao que Deus pensou.
 
Entretanto, o homem moderno inverte tudo, proclama-se Deus e diz que o mundo deve estar de acordo com o que ele pensa. Diz o CIC que: "a verdade de Deus é sua sabedoria que comanda toda a ordem da criação e do governo do mundo. Deus, que sozinho criou o céu e a terra, é o único que pode dar o conhecimento verdadeiro de toda coisa criada em sua relação com ele." (216)
 
De forma resumida, pode-se dizer que Deus é o princípio da Verdade e o homem, quando peca, afasta-se da Verdade e passa a ter um relacionamento de inadequação com Deus Criador; Deus, com a sua Verdade estrutura o universo; e, finalmente, Deus quando se revela, revela a Verdade tal qual ela é. Deus é Amor. Esta é uma revelação do Novo Testamento, porém, ela foi preparada durante o Antigo Testamento. Nesta preparação, Deus revelou que Ele amava Israel, o seu povo, as pessoas, ou seja, ele revelou seu amor gratuito pelos homens.
 
Interessante é notar que primeiro Deus manifestou o seu amor a Israel, mas somente depois é que Israel descobriu que tinha que amar Deus de volta. O primeiro mandamento dado por Deus no livro do Êxodo foi: "Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair do Egito, da casa da servidão." (20,2), mas não pediu amor. Na época de Moisés, cerca de 1.200 a.C, não se pensava em amar Deus. Adorar, servir sim, mas amar, era muita ousadia.
 
Foi somente quando Israel voltou do exílio, no tempo dos Profetas que a noção de amar a Deus instalou-se. "Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças.", é que o se vê no Livro de Deutoronômio, 6,5. Ou seja, Deus primeiro mostrou que amava e somente depois é que houve a resposta do povo e, nessa história de amor, é que se chegou na Revelação do Novo Testamento: Deus é Amor, não somente alguém que ama, mas o próprio Amor.
 
"Mas S. João irá ainda mais longe ao afirmar: 'Deus é Amor'; o próprio Ser de Deus é Amor. Ao enviar, na plenitude dos tempo, seu Filho único e o Espírito de Amor, Deus revela seu segredo mais íntimo. Ele mesmo é eternamente intercâmbio de Amor: Pai, Filho e Espírito Santo, e destinou-nos a participar desse intercâmbio." (221)
Deus revela o seu amor como o de um pai, também como o de uma mãe. Mas isso não significa que Deus Pai é mãe também. Isso seria destruir totalmente a fé cristológica. Deus é Pai da segunda pessoa da Santíssima Trindade, o Filho Eterno, que se encarnou. Quando isso ocorreu, Ele veio no sexo masculino, era um homem, e tinha uma mãe, evidentemente do sexo feminino, mas ele não tinha um pai do sexo masculino, pois José foi seu pai adotivo e não aquele que o gerou biologicamente. Jesus Cristo foi gerado por um pai (Deus) e por uma mãe (Maria), assim, ele jamais poderia olhar para o céu e chamar Deus de 'mãe', pois ele tinha uma mãe aqui na Terra.
 
Quando se fala em Deus amor, refere-se principalmente a Deus Pai, porém, é evidente que todo ele (Pai, Filho e Espírito Santo) é Amor.
 
Para concluir, o Catecismo oferece algumas consequências para a vida de quem crê no Deus único:
  1. significa conhecer a grandeza e a majestade de Deus.
  2. significa viver em ação de graças.
  3. significa conhecer a unidade e a verdadeira dignidade de todos os homens.
  4. significa usar corretamente as coisas criadas; 5. significa confiar em Deus em qualquer circunstância.