19 - O banquete pascal

19 - O banquete pascal

Na Cruz, Jesus está se entregando ao Pai como sacerdote e vítima, pois é Aquele que entrega e Aquele que Se entrega. É o sacrifício perfeito que redimiu toda a humanidade.

 

Há uma distância natural entre o Criador e sua criatura e, para que haja uma comunhão entre os dois, essa distância precisa ser diminuída. Deus quer estar com o homem, "chama-o e ajuda-o a procurá-lo, a conhecê-lo e a amá-lo com todas as suas forças".
 
A resposta do homem é um desejo de entregar-se, de amar a Ele, refletido durante muito tempo e em muitas religiões pelo sacrifício. Imolar um animal ou um pássaro, equivalia a dizer a Deus: "Senhor, eu me entregaria a ti como este animal, eu me consumiria por Ti como está se consumindo este pássaro". A entrega significa, em última análise, a comunhão, a união entre as partes. Portanto, na Cruz, Jesus está se entregando ao Pai como sacerdote e vítima, pois é Aquele que entrega e Aquele que Se entrega. É o sacrifício perfeito.
 
Ao mesmo tempo, Jesus age assim pela humanidade, logo, é preciso que cada ser humano esteja unido com a vítima do sacrifício (Cristo). É o que acontece quando o fiel comunga do Corpo de Cristo.
 
A Eucaristia é uma realidade salvífica, embora não seja condição para a salvação, como o é o batismo. Este sacramento, por sua vez, direciona quem o recebe para a Eucaristia, portanto, é aconselhável que se comungue o quanto antes. Toda esta realidade que envolve o sacrifício de Cristo está explicada no número 1382 do Catecismo, que diz:
 
A missa é ao mesmo tempo e inseparavelmente o memorial sacrifical no qual se perpetua o sacrifício da cruz, e o banquete sagrado da comunhão no Corpo e no Sangue do Senhor. Mas a celebração do Sacrifício Eucarístico está toda orientada para a união íntima dos fiéis com Cristo pela comunhão. Comungar é receber o próprio Cristo que se ofereceu por nós.
Outro ponto importante em relação à Eucaristia é o altar, "em torno do qual a Igreja está reunida na celebração da Eucaristia e representa os dois aspectos de um mesmo mistério: o altar do sacrifício e a mesa do Senhor"(1383). E continua dizendo que "a liturgia exprime esta unidade do sacrifício e da comunhão em muitas orações", citando a chamada anáfora, que é uma oração do Cânon Romano no momento da oblação.
 
"Nós vos suplicamos que ela seja levada à vossa presença, para que, ao participarmos deste altar, recebendo o Corpo e o Sangue de vosso Filho, sejamos repletos de todas as graças e bênçãos do céu."
 
Infelizmente, a qualidade da tradução do texto oficial brasileira é bastante imperfeita. Vejamos o que diz o original:
 
"Supplices te rogamus, omnipotens Deus, jube hæc perferri per manus sancti Angeli tui in sublime altare tuum, in conspectu divinæ majestatis tuæ: ut quoquot ex hac altaris partecipatione sacrosanctum Filii tui Corpus, et Sanguinem sumpserimus, omni benedictione cælesti et gratia repleamur." 
 
Ou seja:
 
"Suplicantes vos rogamos, ó Deus onipotente, que, pelas mãos de vosso santo Anjo, mandeis levar estas ofertas ao vosso Altar sublime, à presença de vossa divina Majestade, para que, todos os que, participando deste altar, recebermos o sacrossanto Corpo, e Sangue de vosso Filho, sejamos repletos de toda a bênção celeste e da Graça."
Da forma como foi traduzida, a oração perde a sua dinâmica, deixa de mostrar a união que há entre o céu e a terra no momento da comunhão e tão bem vislumbrada no latim. Esta união, contudo, não acontece por merecimento do homem, pelo contrário. O Catecismo chama a atenção para a necessidade de um exame de consciência antes de receber a Eucaristia:
 
Para responder a este convite, devemos preparar-nos para este momento tão grande e tão santo. São Paulo exorta a um exame de consciência: "Todo aquele que comer do pão ou beber do cálice do Senhor indignamente será réu do Corpo e do Sangue do Senhor. Por conseguinte que cada um examine a si mesmo antes de comer desse pão e beber desse cálice, pois aquele que come e bebe sem discernir o Corpo, come e bebe a própria condenação"(1Cor11,27-29). Quem está consciente de um pecado grave deve receber o sacramento da reconciliação antes de receber a comunhão. (1385)
E oportunamente recorda as palavras do Centurião: "Domine, non sum dignus ut intres sub tectum meum sed tantum dic verbo et sanabitur anima mea" e, infelizmente aqui se nota novamente a deficiência da tradução do texto oficial do latim para o português. O oficial diz: "Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e eu serei salvo." Enquanto a tradução correta seria: "Senhor, eu não sou digno de entres debaixo do meu teto, mas diz uma só palavra e minha alma será salva".
 
Acerca do jejum necessário para o recebimento da comunhão, o Catecismo afirma que os fiéis devem observar o que está prescrito em sua Igreja, isso se dá porque há diferentes orientações para os diferentes ritos. Para os católicos regidos pelo Código de Direito Canônico, a prescrição se encontra no cânon 919:
 
Cân. 919 — § 1. Quem vai receber a santíssima Eucaristia, abstenha-se, pelo espaço de ao menos uma hora antes da sagrada comunhão, de qualquer comida ou bebida, exceto água ou remédios.
 
§ 2. O sacerdote, que no mesmo dia celebrar duas ou três vezes a santíssima Eucaristia, pode tomar alguma coisa, antes da segunda ou terceira celebração, mesmo que não medeie o espaço de uma hora.
 
§ 3. As pessoas de idade provecta e as que padecem de alguma doença, e ainda quem as trata, podem receber a santíssima Eucaristia, mesmo que dentro da hora anterior tenham tomado alguma coisa.
Antes da reforma do Código, o jejum era mais rigoroso, pois as pessoas deveriam iniciá-lo à meia-noite do dia anterior não aceitava nem mesmo água. Daí vem o costume dos mais antigos de participar da Santa Missa logo ao amanhecer ou, até mesmo, de madrugada.
 
"A atitude corporal (gestos, roupas) há de traduzir o respeito, a solenidade, a alegria desse momento em que Cristo se torna nosso hóspede"(1387). Na vida cotidiana, quando há um encontro importante, solene, não se vai vestido e calçado de qualquer jeito. Não. Veste-se a melhor roupa, o melhor sapato, apresenta-se o mais dignamente possível. Mais ainda deve ser na Santa Missa, onde haverá de ser recebido o próprio Deus!
 
Nesse ponto entra também a questão do uso do véu. Durante muito tempo houve uma tradição, depois uma norma para que as mulheres cobrissem suas cabeças para receber a comunhão. Hoje, essa prescrição não existe mais, no entanto, o que era feito por força da lei pode agora ser feito por generosidade, pois é belo quando uma mulher se aproxima da comunhão usando o véu, posto que ele está intimamente ligado à Eucaristia.
 
"A Igreja obriga os fiéis a participar da divina liturgia aos domingos e dias festivos e a receber a Eucaristia pelo menos uma vez ao ano, se possível no tempo pascal, preparando-se pelo sacramento da reconciliação"(1389). E recomenda o recebimento da comunhão nos domingos, dias festivos e "até mesmo todos os dias"(idem).
 
Nosso Senhor Jesus Cristo está presente plenamente - Corpo, Sangue, Alma e Divindade - em cada uma das espécies, assim, é possível receber todo o fruto da graça comungando tão somente o pão. E "por motivos pastorais, esta maneira de comungar estabeleceu-se legitimamente como a mais habitual no rito latino"(1390).
 
Receber a comunhão dá ao fiel alguns frutos específicos. O Catecismo enumera seis: 1.) aumenta nossa união com Cristo; 2.) separa-nos do pecado; 3.) preserva-nos dos pecados mortais futuros; 4.) promove a unidade do corpo místico: faz a Igreja; 5.) compromete com os pobres; 6.) promove a unidade dos cristãos.
 
Por fim, não se pode esquecer da imprescindível ação de graças após a Comunhão. Jesus está presente com sua humanidade, tocando a humanidade do fiel na Comunhão. É uma grande graça, pois os santos atestam que a plena santificação se dá justamente quando há a união entre o homem e Cristo a tal ponto que é possível exclamar como São Paulo aos Gálatas: "Vivo mas não eu, é Cristo que vive em mim."
 
Nesse sentido, se o ideal de união com Cristo é este descrito pelos santos, muitos poderiam dizer que é impossível, restrito a apenas uma elite. Com a Eucaristia, Nosso Senhor democratizou a mística. Os santos podem dizer como São Paulo, mas aqueles que ainda não estão nas moradas de cima, têm a oportunidade extraordinária de ter mesma união mística com Cristo no momento da comunhão.
 
Logo, a comunhão mais fervorosa, em que durante um tempo ama-se, adora-se a Jesus, há uma ação, um derramamento de graça, uma santificação. Por isso, é importante mudar alguns hábitos, tais como: após o término da Santa Missa, enquanto ainda está ocorrendo a união sacramental com Cristo, todos deveriam permanecer em silêncio durante um tempo, inclusive o Padre. Os avisos paroquiais deveriam ser os mais breves e curtos possível. A missa deveria terminar com o canto final, permitindo aos fieis ficarem na Igreja um pouco mais, em ação de graças.
 
O fruto mais importante da Eucaristia é a graça recebida pela união da humanidade de Cristo com a do homem e ele que deve ser buscado durante o momento de ação de graça.
 
Fonte original padrepauloricardo