18. Nós cremos

18. Nós cremos
O ato de fé é o mesmo, porém, é importante que se encontre uma sintonia na maneira de se expressar esta fé. É preciso afinar a linguagem, por assim dizer. O ato de fé do crente, segundo Santo Tomás de Aquino, não para no enunciado, mas chega até a realidade anunciada, então, embora possam ser usadas palavras diferentes, a fé é a mesma. Mesmo assim é necessário ter a mesma linguagem. Por causa disso, surge uma espécie de tensão.
 
 
Nós cremos
 
Embora a fé seja um ato pessoal, ou seja, "a resposta livre do homem à iniciativa de Deus que se revela", não é um ato que se possa praticar de forma individual. Ele só pode ser realizado com a Igreja. É por isso que nos vários credos da Igreja pode ser encontrada tanto a fórmula eu creio quanto a nós cremos. No livro de referência para este curso, o Denzinger-Hunnerman, a partir do número 10 podem ser encontrados os Símbolos com ambas formulações.
 
Para as declarações dogmáticas, os bispos da Igreja usam sempre a fórmula no plural: nós cremos, pois não se trata de um credo particular, mas coletivo, refletindo o pensamento da Igreja.
 
O ato de fé é o mesmo, porém, é importante que se encontre uma sintonia na maneira de se expressar esta fé. É preciso afinar a linguagem, por assim dizer. O ato de fé do crente, segundo Santo Tomás de Aquino, não para no enunciado, mas chega até a realidade anunciada, então, embora possam ser usadas palavras diferentes, a fé é a mesma. Mesmo assim é necessário ter a mesma linguagem. Por causa disso, surge uma espécie de tensão.
 
Na História da Igreja o desacordo quanto ao uso de algumas palavras quase gerou consequências terríveis. Por exemplo, quando se falou sobre a Santíssima Trindade, os ocidentais diziam crer em só Deus, em três Pessoas. Os orientais, ao ouvirem a palavra persona, traduziam-na ao pé da letra, ou seja, em grego, a palavra quer dizer máscara, portanto, para eles, havia ali a heresia modalista: um só Deus com três máscaras. Por outro lado, os orientais diziam crer em um só Deus, com três hipóstases, o que, para os ocidentais, significava três substâncias, ou seja, a heresia triteísta. Assim, por causa de palavras quase a Igreja se dividiu. Todavia, tanto os orientais quanto os ocidentais estavam fazendo a mesma afirmação, porém com palavras diferentes, por isso foi necessário se chegar a um acordo.
 
A escolha das palavras mais adequadas é feita pela Igreja, por meio de suas decisões dogmáticas, sempre na intenção de refinar ainda mais a fé e proporcionar uma uniformidade na maneira expressá-la. É a Igreja que, "como uma mãe que ensina seus filhos a falar, e com isto, a compreender e a comunicar (...) nos ensina a linguagem da fé para introduzir-nos na compreensão e na vida." (171)
 
A Igreja ensina, então, que existe uma linguagem da fé. Mais que isso, ensina que a existe uma única fé: "Há séculos, mediante tantas línguas, culturas, povos e nações, a Igreja não cessa de confessar sua única fé, recebida de um só Senhor, transmitida por um único batismo, enraizada na convicção de que todos os homens têm um só Deus e Pai." (172).
 
O Catecismo continua esse raciocínio por meio das palavras de Santo Irineu de Lyon que escreve a famosa Adversus Haereses a fim de combater as heresias de sua época. Conforme se vê nos números 173 a 175.
 
O que crê a Igreja Católica está consignado no Credo, seja no Símbolo dos Apóstolos, seja no Niceno-constantinopolitano. O Credo Apostólico era o credo batismal da Igreja de Roma, inicialmente feito em forma de perguntas e, posteriormente, adquiriu a forma atual.
 
Já o Símbolo Niceno-constantinopolitano tem esse nome porque foi definido em duas etapas, sendo a primeira no I Concílio de Niceia (1º ecumênico), entre 19 de junho e 25 de agosto de 325. E a segunda, no I Concílio de Constantinopla (2º ecumênico, realizado entre maio e julho de 381. Este é o credo que normalmente se recita durante a Santa Missa no mundo todo.
 
Infelizmente, após a reforma promovida pelo Concílio Vaticano II, o Brasil adotou o Símbolo Apostólico nas missas, mas, tradicionalmente, a Igreja adota o outro nas missas. Importante frisar que ambos contém as mesmas afirmações e são igualmente importantes, mas, seria excelente que os fiéis católicos soubessem recitar os dois credos e que o Niceno-constantinopolitando fosse mais utilizado, a fim de se preservar a praxe litúrgica.
 
Um símbolo era um instrumento que servia para se reconhecer a identidade de uma pessoa. Um general mandado para a guerra levava consigo a metade um símbolo, assim, quando o imperador quisesse mandar uma mensagem, encaminhava a outra metade do símbolo. E vice-versa. Isso garantia que a mensagem procedia realmente da fonte alegada.
 
Da mesma forma, no início do Cristianismo, quando alguém queria participar dos ritos deveria professar primeiro o símbolo da fé para, justamente, comprovar sua condição de católico.
 
Assim, quando aos domingos o fiel se põe em pé e recita o Credo está fazendo uma declaração pública daquilo que crê, afirmando fazer parte da Igreja Católica Apostólica Romana e que está apto a participar de suas celebrações.