18-A presença de Cristo pelo poder de sua palavra e do Espírito Santo

18-A presença de Cristo pelo poder de sua palavra e do Espírito Santo

Podemos dizer que a Celebração da Palavra "vale" tanto quanto a Celebração Eucarística? O que a Igreja ensina realmente acerca da presença de Jesus na Eucaristia, seria real ou apenas circunstancial?

Nosso Senhor Jesus Cristo está presente de muitas maneiras em sua Igreja: nos pobres, na oração da Igreja, nos doentes, nos sacramentos, nos presos, etc. Mas, de que modo a Sua presença na Eucaristia difere de todas as outras? Em primeiro lugar é preciso compreender que a presença de Jesus na Eucaristia é a maior e a mais importante, pois "Ele eleva a Eucaristia acima de todos os sacramentos e faz com que ela seja "como que o coroamento da vida espiritual e o fim ao qual tendem todos os sacramentos" (1374).
O documento Sacrossantum Concilium do Concílio Vaticano II, deixa muito claro Jesus Cristo está presente "sobretudo sob as espécies eucarísticas"(SC 07), o que significa que há uma diferença entre esta presença e as demais, e que esta é a maior. Por isso, embora hajam outras presenças de Cristo, a na Eucaristia não está no mesmo nível. Assim, não se pode usar o Concílio Vaticano II para dizer que Nosso Senhor está presente tanto na Eucaristia quanto na Palavra e que ambas são iguais.
 
Por "espécies eucarísticas" deve-se entender que aquele pão e aquele vinho, após a consagração, não são mais pão e vinho, mas sim, mantêm apenas as aparências (species, em latim) de pão e de vinho, uma vez que as substâncias deles foram transformadas no próprio Cristo pelo mistério da transubstanciação. Enquanto nas outras presenças, como por exemplo no pobre, Jesus está nele, mas ele (o pobre) também está.
 
"Fides ex auditu": sabemos porque Jesus mesmo assim o disse: "Isto é o meu Corpo; Isto é o meu sangue". Em latim, a ênfase é maior ainda: "Hoc est enim corpus meum", em que "enim" quer dizer de verdade, mesmo. E Santo Tomás de Aquino, em seu famoso hino de louvor e adoração ao Santíssimo Sacramento, Adoro Te devote, canta que, enquanto na Cruz estava escondida somente a divindade de Cristo, na Eucaristia não se vê nem a divindade, nem a humanidade: "In cruce laetebat sola Deitas at hic latet simul et humanitas".
 
No capítulo 6, do Evangelho de São João, Nosso Senhor Jesus Cristo diz de forma clara: "Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne, entregue pela vida do mundo"(51). E mais:
 
Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem se alimenta com a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois minha carne é verdadeira comida e meu sangue é verdadeira bebida. Quem se alimenta com a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu nele. Como o Pai, que vive, me enviou, eu eu vivo por meio do Pai, assim aquele que de mim se alimenta viverá por meio mim. Este é o pão que desceu do céu. Não é como aquele que os vossos pais comeram - e no entanto morreram. Quem se alimenta com este pão viverá para sempre. (53-57)
Ora, muitos ficaram escandalizados por estas palavras de Jesus e outros tantos deixaram de segui-lo. Por isso, quando alguns teólogos modernos publicaram na Holanda o chamado "Catecismo para Adultos", adaptando a doutrina eucarística para o homem moderno (substituindo transubstanciação por transignificação) foram corrigidos pelo Papa Paulo VI.
 
Alegaram, então, que o homem moderno não é capaz de compreender, no entanto, o homem contemporâneo de Cristo também não foi capaz. Tem-se a impressão de que hoje, os teólogos pretendem ser mais pedagógicos do que o próprio Jesus e um quê de soberba desponta.
 
O Concílio de Trento, por sua vez, fala de modo muito claro sobre a presença real de Jesus na Eucarista. Ele diz:
 
No santíssimo sacramento da Eucaristia estão contidos verdadeiramente, realmente e substancialmente o Corpo e o Sangue juntamente com a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, o Cristo todo. Esta presença chama-se 'real' não por exclusão, como se as outras não fossem reais, mas por antonomásia, porque é substancial e porque por ela Cristo, Deus e homem, se torna presente completo. (1374)
Assim, as outras presenças de Jesus não são menos presença, no sentido de que não são reais, mas, a Eucaristia é a presença de todas as presenças, ou seja, antonomástica.
 
Além disso, o Corpo e o Sangue de Cristo, glorioso e ressuscitado, estão presentes no céu e também nos sacrários na terra, portanto, num ambiente sem o sacrário, embora a presença da Trindade seja certa (por imensidade, de imagem e de semelhança, pela inabitação), Jesus Cristo não está presente como na Eucaristia (Corpo, Sangue, Alma e Divindade).
 
O realismo eucarístico perpassa a Igreja desde os Santos Padres da Igreja, não é, portanto, algo medieval, "inventado" por Santo Tomás de Aquino. O Catecismo cita São João Crisóstomo, no lado oriental e no ocidental Santo Ambrósio, do qual destacamos o primeiro, afirma:
 
Não é o homem que faz com que as coisas oferecidas se tornam Corpo e Sangue de cristo, mas o próprio Cristo, que foi crucificado por nós. O sacerdote, figura de Cristo, pronuncia essas palavras, mas sua eficácia e a graça são de Deus. Isto é o meu Corpo, diz ele. Estas palavras transformam as coisas oferecidas. (1375)
A presença de Cristo na Eucaristia é algo presente desde o início da Igreja. E o Concílio de Trento também declarou que "pela consagração do pão e do vinho opera-se a mudança de toda a substância do pão na substância do Corpo de Cristo Nosso Senhor e de toda a substância do vinho na substância do seu Sangue" (1376). Diz ainda que a essa operação, "a Igreja Católica denominou-a com acerto e exatidão transubstanciação. (idem)"
 
Por conseguinte, não se pode dizer que a Eucaristia é circunstancial, ou seja, que Cristo está presente tão somente durante a missa, como os modernistas e os protestantes querem fazer crer. Não:
 
A presença eucarística de Cristo começa no momento da consagração e dura também enquanto subsistirem as espécies eucarísticas. Cristo está presente inteiro em casa uma das espécies e inteiro em cada uma das partes dela, de maneira que a fração do pão não divide o Cristo. (1377)
Por causa disso é que a Igreja promove o culto da Eucaristia fora da santa Missa, o que foi um grande progresso do segundo milênio, pois antes ela guardada às vezes na sacristia ou numa capela lateral, posto que "era primeiro destinada a guardar dignamente a Eucaristia para que pudesse ser levada, fora da missa, aos doentes e aos ausentes", mas com a compressão da presença real de Nosso Senhor na Eucaristia:
 
A Igreja tomou consciência do sentido da adoração silenciosa do Senhor presente sob as espécies eucarísticas. É por isso que o tabernáculo deve ser colocado em um lugar particularmente digno da Igreja; deve ser construído de tal forma que sublinhe e manifeste a verdade da presença real de Cristo no santo sacramento. (1379)
Nosso Senhor Jesus Cristo, sabendo que iria morrer, "deixar os seus de forma visível", quis deixar sua presença sacramental, para que "tivéssemos o memorial do amor com o qual nos amou até o fim, até o dom de sua vida." É por isso que se dá a adoração eucarística. São João Paulo II, citado pelo Catecismo, em sua carta Dominicae cenae, disse:
 
A Igreja e o mundo precisam muito do culto eucarístico. Jesus nos espera neste sacramento do amor. Não regateemos o tempo para ir encontrá-lo na adoração, na contemplação cheia de fé e aberta a reparar as faltas graves e os delitos do mundo. Que a nossa adoração nunca cesse! (3)
Lembrando que a Igreja concede indulgência plenária a quem faz meia de hora de adoração (estando presentes os demais requisitos: confissão frequente, comunhão no dia e oração pelo Santo Padre). Portanto, é um costume que deve ser recuperado com urgência, pois se a Igreja é tão pródiga nessa devoção é porque quer que seus fiéis a pratiquem. Trata-se de um ato extremamente importante para manter e manifestar a fé eucarística.
 
A presença de cristo é uma ação do Espírito Santo, um de seus dons mais maravilhosos para a Igreja, pois é na chamada epiclese (invocação do Espírito Santo) que acontece a presença no pão e no vinho.