17-O memorial sacrificial de Cristo e de seu Corpo, a Igreja

17-O memorial sacrificial de Cristo e de seu Corpo, a Igreja
Jesus morre na cruz e a força salvadora que emana desse momento único é tornada presente a cada vez que se celebra a Santa Missa.
 
A Eucaristia é um sacrifício sacramental e o Catecismo da Igreja Católica apresenta esta realidade relacionando-a com as três Pessoas da Santíssima Trindade: ao Pai, cabe o sacrifício de ação de graças; ao Filho, o sacrifício da Cruz, "representado" no altar; ao Espírito Santo, o sacrifício da Igreja.
Na aula passada, contemplamos o sacrifício da ação de graças, em que cada um, incorporando-se ao Filho, coloca-se diante do Pai, compreendendo que tudo vem do Dele. O hino de ação de graças é o Filho quem o realiza no Céu, diante de Deus e o traz ao mundo com Sua Encarnação.
 
Esta intuição teológica foi apresentada pelo Bem-aventurado Papa Paulo VI, na constituição apostólica em que decretou a reforma do Breviário (Liturgia das Horas), ou seja, a oferta única de Cristo é o fundamento do sacrifício de louvor realizado pela Igreja, quando celebra a Liturgia das Horas que é também uma extensão do sacrifício da Missa.
 
A Eucaristia é igualmente o memorial sacrifical de Cristo e de seu Corpo, a Igreja, diz o Catecismo. No entanto, "não é somente a lembrança dos acontecimentos do passado, mas proclamação das maravilhas que Deus realizou por todos os homens" (cf. 1363). E é certo que todas as vezes que ocorre "a celebração litúrgica desses acontecimentos", eles se tornam, de certo modo "presentes e atuais" (idem).
 
Quando se recorda o sacrifício de cristo na cruz, não se trata de uma memória do passado, mas de uma representação, ou seja, um fato real e concreto que foi tirado do esquecimento. E, embora atualmente muitos neguem o caráter sacrifical da Eucaristia, o melhor argumento contrário continua sendo o relato de sua instituição. Diz o Catecismo:
 
Por esse memorial da páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um sacrifício. O caráter sacrifical da Eucaristia é manifestado pelas próprias palavras da instituição: "Isto é o meu Corpo que será entregue por vós", e "Este cálice é a nova aliança em meu Sangue, que vai ser derramado por vós". Na Eucaristia, Cristo dá esse mesmo corpo que entregou por nós na cruz, o próprio sangue que derramou por muitos para remissão dos pecados. (1365)
A Igreja, por sua vez, desde o Concílio de Trento, afirma que Nosso Senhor Jesus Cristo "ofereceu-se a si mesmo a Deus Pai uma única vez, morrendo como intercessor sobre o altar da cruz, a fim de realizar por eles (os homens) uma redenção eterna" (DS 1740) Ora, isso significa que a missa não é a reiteração da morte de Cristo. Ele não está morrendo de novo. Não está sofrendo. Não está acontecendo novamente. Cristo morreu uma vez por todas na cruz. Então, como ocorre?
 
De forma substancial, o sacrifício é o mesmo quando o padre consagra o pão separado do vinho, ou seja, consagra primeiro o pão e torna presente o Corpo de Cristo. Nesse momento, concomitantemente encontram-se ali presentes já o Corpo, Sangue, Alma e Divindade. E, embora ele não tenha consagrado ainda o vinho, a presença é total. Jesus Cristo já está presente glorioso como está no Céu.
 
Já quando o sacerdote consagra o vinho, consagra o Sangue de Cristo e concomitantemente torna-se ali presentes também o Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Porém, o ato sacramental de consagração do Pão e do Vinho é, de forma sacramental e incruenta (sem derramamento de sangue) a "re-presentação" do sacrifício de Cristo na Cruz. E o mesmo Concílio de Trento afirma:
 
Como sua morte não devia por fim ao seu sacerdócio, na Última ceia, na noite em que foi entregue, quis deixar à Igreja, sua esposa muito amada, um sacrifício visível (como reclama a natureza humana) em que seria representado (feito presente) o sacrifício cruento que ia realizar-se uma vez por todas uma única vez na cruz, sacrifício este cuja memória haveria de perpetuar-se até o fim dos séculos e cuja virtude salutar haveria de aplicar-se à remissão dos pecados que cometemos cada dia. (DS 1740)
Assim, Jesus morre na cruz e a força salvadora que emana desse momento único é tornada presente a cada vez que se celebra a Santa Missa. Por isso, participar dela é muitíssimo importante, pois substancialmente somos inseridos naquela realidade ocorrida dois mil anos atrás.
 
Jesus, na missa, não derrama seu sangue nem sofre mais, todavia, o ato de amor perfeito com o qual ele adorou, deu graças, suplicou e reparou as ofensas feitas ao coração de Deus-Pai, torna-se presente na hora da consagração através do simbolo sacramental em que se consagra o Corpo e em seguida o Sangue. A dupla consagração faz com que seja substancialmente o mesmo sacrifício.
 
O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício: "É uma só e mesma vítima, é o mesmo que oferece agora pelo ministério dos sacerdotes, que se ofereceu a si mesmo então na cruz. Apenas a maneira de oferecer difere". E porque neste divino sacrifício que se realiza na missa, este mesmo Cristo, que se ofereceu a si mesmo uma vez de maneira cruenta no altar da cruz, está contido e é imolado de maneira incruenta, este sacrifício é verdadeiramente propiciatório. (1367)
Portanto, o sacrifício é o mesmo, mas a maneira de oferecê-lo é que muda. Infelizmente, as pessoas não conseguem compreender justamente esse ponto porque não possuem mais a capacidade de abstração. Para se compreender as nuances da fé (como essa), necessário se faz fortalecer e aumentar essa capacidade intelectual tão desprezada no mundo atual.
 
Somente pela abstração é possível entender que Jesus não está sendo pregado na cruz a cada missa celebrada, mas que Ele se encontra glorioso, no céu. No entanto, o Seu sacerdócio não cessou, tampouco Seu amor, que continua sendo oferecido como há dois mil anos, dessa vez de forma sacramental.
 
Além de ser o único sacrifício de Cristo, a Eucaristia é também o sacrifício da Igreja que se oferece, portanto, aquele que participa da Santa Missa deve se oferecer também por meio do sacerdócio dos fiéis batizados, pois são também membros do Corpo de Cristo.
 
A Igreja, que é o corpo de Cristo, participa da oferta de sua Cabeça. Com Cristo, ela mesma é oferecida inteira. Ela se une à sua intercessão junto ao Pai por todos os homens. Na Eucaristia, o sacrifício de Cristo se torna também o sacrifício dos membros de seu Corpo. A vida dos fiéis, seu louvor e sofrimento, sua oração, seu trabalho são unidos aos de Cristo à sua oferenda total, e adquirem assim um valor novo. O sacrifício de Cristo, presente sobre o altar, dá a todas as gerações de cristãos a possibilidade de estarem unidos à sua oferta. (1368)
A oferta da Igreja precisa estar unida à hierarquia, ou seja, ao Papa, ao Bispo local, aos sacerdotes e diáconos. Logo, a unidade da Eucaristia é mantida através da unidade hierárquica. "Que se considere legítima legítima só esta Eucaristia que se faz sob a presidência do Bispo ou daquele a quem este encarregou", já ensinava Santo Inácio de Antioquia aos esmirnenses.
 
O Catecismo prossegue recordando que a unidade da Igreja é também com a que está no céu (1370), com a padecente (1371), pois isso se intercede por aqueles que estão no Purgatório.
 
Referências:
 
  1. CIC a partir do número 1356 até 1372
  2. DS 1740
  3. Método de Estudo de Hugo de São Vitor
  4. Santo Inácio de Antioquia, Smyrn., 8,1