13. Os vários nomes do Sacramento da Eucaristia

13. Os vários nomes do Sacramento da Eucaristia

“A Eucaristia é o memorial da páscoa de Cristo: isto é, da obra da salvação realizada pela Vida, Morte e Ressurreição de Cristo.” Saiba, nesta aula, quais são os outros nomes pelos quais ela é também designada pela Igreja.

 

O Sacramento da Eucaristia pode ser designado por vários nomes, dentre eles, o próprio “Eucaristia” e também “Santo Sacrifício”, cujos significados já foram expostos na aula anterior. O Catecismo, contudo, traz ainda outros nomes que serão abordados nesta aula.
 
O primeiro é “Ceia do Senhor” e o Catecismo ensina que assim é chamado “pois se trata da ceia que o Senhor fez com seus discípulos na véspera de sua paixão, e da antecipação da ceia das bodas do Cordeiro na Jerusalém celeste.” (1329) Ao se falar em ceia, imediatamente se reporta à ceia pascal do Antigo Testamento, que foi uma pré-figura desta, preparada pelos discípulos a mando de Jesus e na qual, Ele partiu o pão e disse: ‘Este é o meu Corpo”; tomou o vinho e disse: “Esse é o meu Sangue”.
 
Foi a última ceia de Nosso Senhor, lembrando que, para o calendário judaico, o dia começa quando aparece a primeira estrela no firmamento, ou seja, Jesus celebrou a ceia na noite de quinta e, naquele mesmo dia, ofereceu-se na Cruz. Tudo se deu em um só dia: o sacrifício na última ceia, a agonia no Horto das Oliveiras, o processo de condenação e a execução, tudo no mesmo dia litúrgico e civil do calendário judaico. No Ocidente, a quinta feira é chamada de “Véspera” e a Paixão ocorreu na sexta-feira, pois o dia começa à meia-noite.
 
A expressão “Ceia do Senhor”, embora seja comumente usada nos meios protestantes, é universal, pois está presente no Novo Testamento. Ela possui um significado não somente voltado para o passado, posto que faz a ligação com o sacrifício da ceia pascal, mas também para o futuro, quando ocorrerá o banquete do Cordeiro, o casamento entre Cristo e a Humanidade. A dimensão de se iniciar na Eucaristia o que se viverá no Céu se torna então verdadeira.
 
No antigo rito de Pio V, no momento em que o sacerdote apresentava a hóstia para os fiéis, dizia: “Eis o Cordeiro de Deus, Aquele que tira o pecado do mundo”. A reforma do CVII inseriu uma outra frase: “Felizes os convidados para a ceia do Senhor”. Ambas foram extraídas do Evangelho de São João. E, claro, não se pode esquecer que a palavra “ceia” significa um jantar tardio que, justamente traz a ideia da refeição escatológica, quando o tempo não mais existirá e a humanidade adentrará no Reino dos Céus e fará a última refeição, a definitiva.
 
É possível coadunar com a tradição católica o conceito de “ceia do Senhor”, que a princípio, carrega um peso protestante. Santo Tomás de Aquino ensina que faz parte da essência do sacramento da Eucaristia que ele seja alimento, comida, nutrição espiritual. Os sacramentos da iniciação cristã, interessante notar, trazem cada um deles um aspecto importante para o desenvolvimento do homem: Batismo, o nascimento; Crisma, o crescimento; Eucaristia, o alimento.
 
Continua o Catecismo dizendo que a Eucaristia também é chamada de “fração do pão”, “porque este rito, próprio da refeição judaica, foi utilizado por Jesus quando abençoava e distribuía o pão como presidente da mesa, sobretudo por ocasião da Última Ceia.”(1329) Na cultura judaica, ninguém come um pedaço de pão sozinho. Quando dois judeus estão sentados na mesma e existem dois pães, um pão é partido e repartido entre ambos.
 
Um gesto considerado como grande deferência é o de partir o pão, passá-lo no molho e entregá-lo a alguém. Na cultura judaica, o pão “molhado” entregue para a pessoa é um sinal inequívoco de predileção. E foi o que Nosso senhor Jesus Cristo fez com Judas na Última Ceia: uma última tentativa de resgatá-lo e dizer o quanto o amava. Mas, Judas não cedeu ao apelo e o Evangelho diz que “depois do bocado, Satanás entrou em Judas.” (Jo 13,27) Isso ocorre com algumas pessoas que simplesmente não suportam um gesto de amor. E encerra:
 
É por este gesto que os discípulos o reconhecerão após a Ressurreição, e é com esta expressão que os primeiros cristãos designarão suas assembleias eucarísticas. Com isso querem dizer que todos os que comem do único pão partido, Cristo, entram em comunhão com ele e já não formam senão um só corpo nele.” (1329)
A Eucaristia é chamada também de “assembleia eucarística”, pois “é celebrada na assembléia dos fiéis, expressão visível da Igreja.” A a palavra “assembleia”, “synaxxis”, em grego, possui a mesma conotação que a palavra “igreja”. Assim, a própria Igreja recebeu seu nome da Eucaristia porque a assembleia nada mais é do que a reunião daqueles que se reúnem para a Eucaristia. Não há igreja sem assembleia.
 
É por esse motivo também que nada impede que um sacerdote celebre missa sozinho. O Código de Direito Canônico insiste que o padre reze missa todos os dias e, para tanto, recomenda que haja ao menos um coroinha, porém, essa recomendação desaparece em caso de necessidade. Em qualquer eucaristia a assembleia está presente, ainda que não seja a visível: os anjos, os santos, ou seja, a assembleia invisível. E também a Igreja dispersa pelo mundo inteiro, pois em qualquer momento existe um padre celebrando a missa no mundo.
 
Um outro nome pelo qual a Eucaristia é chamada é “memorial da Paixão e da Ressurreição do Senhor”. Nosso Senhor Jesus Cristo mandou que se fizesse a Eucaristia em memória Dele. É mais do que uma simples recordação, pois quando se celebra este mistério ele de fato acontece, novamente. Com frequência se usa a palavra grega anamnese, que vem de memória, amnese quer dizer esquecer e anamnese, tirar do esquecimento.
 
A respeito do titulo “Santo Sacríficio’, embora ele tenha sido abordado na aula anterior, é importante complementar que Santo Tomás de Aquino nos lembra que o sacrifício propriamente dito da Paixão do Senhor acontece no momento da Consagração. Isso se dá porque existe pela força do sacramento uma ligação com o sacrifício de Cristo da Cruz, pelo fato de que no ato sacramental, o padre consagra o Corpo e depois consagra o Sangue. Muito embora em cada um deles esteja o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Cristo. Em momento algum na realidade dos fatos o Corpo e o Sangue de Cristo são separados. No entanto, o padre consagrou o Corpo, por consequência, se o Corpo de Cristo tornou-se presente, isso significa que presentes também estão o Sangue, Alma e Divindade de Cristo. Em seguida, o padre consagra o Sangue e, portanto, presentes estão também o Corpo, Alma e Divindade de Cristo. Não há separação entre eles, porque Cristo está glorioso no céu.
 
Na Missa Jesus não sofre, pois o sacrifício é incruento, mas quando se consagra o Corpo e o Sangue, o ato da consagração refaz substancialmente o sacrifício de Cristo no Calvário, que foi justamente a separação do Corpo e do Sangue de Cristo. Quando Cristo derramou seu Sangue ocorreu o sacrifício propriamente dito. Assim, diz-se que substancialmente é o mesmo sacrifício da Cruz porque substancialmente é o mesmo sacerdote: Cristo; substancialmente é a mesma vítima: Cristo, e só o modo é que é diferente: no Calvário foi pelo derramamento de sangue, enquanto na Missa é pela consagração do pão e do vinho. E substância, em poucas palavras, é aquilo que a coisa é ou que faz dela aquilo que ela é, portanto, Calvário e Missa têm a mesma substância: sacerdote e vítima, que oferecem o mesmo sacrifício outra vez, de forma diferente.
 
O Catecismo traz ainda alguns outros nomes que são autoexplicativos: Santa e Divina Liturgia, Santos Mistérios, Santíssimo Sacramento, pão dos anjos, pão do céu, remédio da imortalidade e viático. (1330 e 1331). E também “Comunhão, porque é por este sacramento que nos unimos a Cristo, que nos torna participantes de seu Corpo e de seu Sangue para formarmos um só corpo.” E, por fim, “Santa Missa”, que é o mais conhecido e usado no Ocidente, pois “a liturgia na qual se realizou o mistério da salvação termina com o envio dos fiéis para que compram a vontade de Deus em sua vida cotidiana.” (1332) Ite missa est, é o envio do fiel à missão.