12. O Sacramento da Eucaristia

12. O Sacramento da Eucaristia

“A Eucaristia é o coração e o ápice da vida da Igreja, pois nela Cristo associa sua Igreja e todos os seus membros ao seu sacrifício de louvor e de ação de graças oferecido uma vez por todas na cruz a seu Pai.” Nesta aula, mergulharemos na grande riqueza que se constitui o Sacramento da Eucaristia: o maior e mais importante de todos os sacramentos.

 

O Sacramento da Eucaristia é o maior e o mais importante de todos os sacramentos. Podemos dizer até mesmo que ele sim é um sacramento enquanto os outros o são apenas na medida em que se relacionam com ele. Os demais trazem em seus símbolos materiais sinais visíveis de uma ação invisível, no sacramento da Eucaristia, porém, o sinal visível é transformado e resta apenas a “aparência” de pão e a “aparência” de vinho” e nele há a presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo. No sacramento do Batismo, por exemplo, a água é um sinal do derramamento do Espírito Santo, mas ela não é o Espírito Santo. Já na Eucaristia, o pão e o vinho SÃO Jesus Cristo glorioso, em Seu Corpo, Alma e Divindade.
 
O Papa João Paulo II escreveu a encíclica Ecclesia de Eucharistia cujo item inicial diz que “a Igreja vive da Eucaristia. Esta verdade não exprime apenas uma experiência diária de fé, mas contém em síntese o próprio núcleo do mistério da Igreja.”[01] E mais, diz que “do mistério pascal nasce a Igreja. Por isso mesmo a Eucaristia, que é o sacramento por excelência do mistério pascal, está colocada no centro da vida eclesial.”[02] Assim, a Igreja existe para celebrar a Eucaristia e é ela quem dá vida à Igreja, ou seja, uma dependência mútua entre ambas.
 
O Catecismo da Igreja Católica ensina em seu número 1322 que a iniciação cristã é concluída com o Sacramento da Eucaristia, pois “os que foram elevados à dignidade do sacerdócio régio pelo Batismo e configurados mais profundamente a Cristo pela Confirmação, por meio da Eucaristia, participam com toda a comunidade do próprio sacrifício do Senhor”. O cristão atinge a sua maturidade e a sua perfeição com o recebimento da Eucaristia.
 
Como método eficaz de santificação, a Eucaristia foi recomendada por inúmeros santos da Igreja. Um exemplo contundente foi São Felipe Néri, que viveu na França, em plena época jansenista e recomendava a comunhão e a confissão frequente aos jovens que não conseguiam manter a castidade.
 
A importância desse sacramento para a Igreja foi corroborada e elevada pelo Concílio Vaticano II, na Lumen gentium, quando afirmou que a Eucaristia “é a fonte e ápice de toda a vida cristã”. Nela, há a fundamental citação de Santo Irineu de Lião de que “nossa maneira de pensar concorda com a Eucaristia, e a Eucaristia, por sua vez, confirma nossa maneira de pensar”, assim, ser católico significa estar em sintonia com a Eucaristia que é, por sua vez, a representação de tudo que deve se crer.
 
O Catecismo traz também alguns nomes e expressões pelos quais este sacramento é chamado. O primeiro é Eucaristia, “porque é ação de graças a Deus”. A palavra mantém a conotação de agradecimento até os dias atuais, contudo, para a Igreja, ela adquiriu também um significado técnico, pois existe uma ligação íntima entre o que a Igreja faz quando o celebra e a palavra “ação de graças”. A oração eucarística, por exemplo, é uma grande ação de graças. No rito romano temos a oração chamada de prefácio e ela caracteriza muito bem essa questão. Vejamos:
 
PREFÁCIO
 
O Prefácio constitui a primeira parte da Oração Eucarística e inicia-se com um diálogo solene: o sacerdote convida o povo a levantar o coração para o Senhor em louvor e ação de graças, e associa-o a si na oração que ele, em nome de toda a comunidade, dirige ao Pai por meio de Jesus Cristo:
 
V. Dóminus vobíscum. 
V. O Senhor esteja convosco.
 
R. Et cum spíritu tuo. 
R. Ele está no meio de nós.
 
V. Sursum corda. 
V. Corações ao alto.
 
R. Habémus ad Dóminum. 
R. O nosso coração está em Deus.
 
V. Grátias agámus Dómino Deo nostro. 
R. Demos graças ao Senhor, nosso Deus.
 
R. Dignum et iustum est. 
R. É nosso dever, é nossa salvação.
 
O sacerdote continua o Prefácio, pelo qual, em nome de todos os homens e do universo inteiro, glorifica a Deus Pai e dá-Lhe graças pela obra da salvação ou por algum aspecto particular desta, segundo a diversidade do dia, do tempo litúrgico ou da festa. [03]
Esta é a explicação e o texto do Prefácio extraídos do Ordinário da Santa Missa. O sacerdote, então, continua a ação de graças dizendo: “Vere dignum et iustum est, aequum et salutare nos tibi, semper et ubique gratias agere”, é verdadeiramente digno e justo, equitativo e salutar, nós sempre e em todos os lugares a Ti dar graças. Isto é a Eucaristia.
 
Todo Prefácio é ação de graças, como vimos, e faz parte do assim chamado “sacrifício de louvor”, pois está ligado àquele que o próprio Jesus oferecia a Deus Pai. No Antigo Testamento, desde o pecado original, com os primeiros pais, a grande dificuldade espiritual do povo era a idolatria. Em vez de reconhecer e dar graças a Deus, queriam tomar-Lhe o lugar.
 
Ora, adorar a Deus é justamente rebaixar-se e reconhecer que Deus é Deus e nada mais é Deus. E não existe um ato mais claro capaz de colocar as coisas em seus lugares que a ação de graças, o reconhecimento de que tudo, absolutamente tudo é recebido de Deus, até mesmo as energias usadas para o pecado.
 
Formalmente, a ação de graças e a adoração são coisas distintas, mas existencialmente estão unidas. E do coração deve brotar não um esmagamento, uma inveja de Deus, mas, pelo contrário, deve jorrar a gratidão por tudo ter sido recebido Dele. Tal gratidão nada mais é que um sacrifício que a Igreja em sua tradição chama de sacrificium laudis, ou sacrifício de louvor.
 
Na Cruz, Nosso Senhor Jesus Cristo ofereceu o mais perfeito ato de adoração e de ação de graças que poderia ter sido dado a Deus. Quando se celebra a Santa Missa se renova de forma incruenta o sacrifício perfeitíssimo que Ele ofereceu no Calvário.
 
O sacrifício faz parte da essência da religião. Não existe religião sem ele. Apesar de a palavra sacrifício remeter a dor, sofrimento, na verdade, não é bem isso. No Antigo Testamento, por exemplo, o sacerdote tomava um carneiro novo, perfeito, sadio, sem mancha, até mesmo precioso, matava-o e queimava-o. Nesse momento havia uma identificação entre o sacerdote e o animal, ambos pó, ambos cinza diante da grandeza e bondade divinas. Havia o reconhecimento de que dar tudo a Deus nada mais é do que o dever: é digno e justo, equitativo e salutar.
 
A virtude da justiça quando é exercida para com Deus ela recebe um nome: virtude da religião, ou seja, dar a Deus o que é de Deus e no sacrifício isso é feito simbolicamente. Cada religião possui o seu. No candomblé, por exemplo, os despachos deixados nas encruzilhadas são os sacrifícios oferecidos àquela divindade específica.
 
O grande drama do Antigo Testamento residia no fato de que deveria haver uma identificação entre o sacerdote e a vítima, ambos deveriam ser perfeitos, no entanto, isso não ocorria, pois o sacerdote era um pecador. Por isso, Deus falava constantemente pelos profetas que não queria mais os sacrifícios, nem vítimas, nem holocaustos, mas sim corações contritos e humilhados. Deus queria um coração humano que o amasse e adorasse, mas não havia nenhum.
 
A profecia de Ezequiel veio para resolver a questão, pois, disse o Senhor: “Tirarei o vosso coração de pedra e dar-vos-ei um coração um coração de carne.” (Ez 36,26). E esse coração veio: Nosso Senhor Jesus Cristo. É Ele o coração perfeito, em que Deus se fez homem para que um coração humano pudesse realmente amá-Lo e oferecer-se em sacrifício eucarístico. Portanto, Jesus Cristo, homem e Deus, ofereceu ao Pai, com seu coração humano uma adoração, um sacrifício perfeito. Tão perfeito que o sacerdote é ao mesmo tempo vítima. Ofereceu-se a si mesmo.
 
É verdade que na Cruz se deu um crime. Um crime horrível realizado por Anás, Caifás, Pilatos, Herodes, os soldados romanos, os judeus que lá estavam e também cada homem pecador da face da Terra. Todos cometemos o crime de deicídio: nós matamos Deus. Acontece, porém, que isto não foi o que Jesus fez. Ele aproveitou a ocasião desse crime e se ofereceu completamente, adorando perfeitamente ao Pai e dando a ação de graças perfeita.
 
A adoração e a ação de graças iniciadas por Jesus aqui na Terra são duas realidades que não passarão. Elas continuarão no céu. É por isso que se diz que a Santa Missa é o começo do céu na Terra.
 
No sacramento da Eucaristia há a união com Cristo, que é o sumo e eterno sacerdote, vítima perfeita, e Ele oferece a Deus o mais perfeito sacrifício de adoração e ação de graças e nós, unidos a ele, podemos iniciar, já nesta vida, a adoração e a ação de graças que não irá cessar no céu.
 
Referências
 
  1. Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia - sobre a Eucaristia na sua relação com a Igreja: https://www.vatican
  2. Idem
  3. Ordinário da Santa Missa - Missal de 1970