10. Cristo - Palavra Única da Sagrada Escritura

10. Cristo - Palavra Única da Sagrada Escritura
A Palavra de Deus se fez carne. Deus, em si, não cabe em palavras humanas, porém, de alguma forma, Ele se rebaixa e torna possível a expressão de seus mistérios eternos pela palavra humana.
 
Cristo - Palavra Única da Sagrada Escritura
 
A Palavra de Deus se fez carne. Deus, em si, não cabe em palavras humanas, porém, de alguma forma, Ele se rebaixa e torna possível a expressão de seus mistérios eternos pela palavra humana. É o que está dizendo o Catecismo da Igreja Católica:
 
"Na condescendência de sua bondade, Deus, para revelar-se aos homens, fala-lhes em palavras humanas: 'Com efeito, as palavras de Deus, expressas por línguas ghumanas, fizeram-se semelhantes à linguagem humana, tal como outrora o Verbo do Pai Eterno, havendo assumido a carne da fraqueza humana, se fez semelhante aos homens'." (101)
A Constituição Dogmática Dei Verbum é bastante clara ao falar sobre a condescendência de Deus. Eis:
 
"Portanto, na Sagrada Escritura, salvas sempre a verdade e a santidade de Deus, manifesta-se a admirável «condescendência» da eterna sabedoria, «para conhecermos a inefável benignidade de Deus e com quanta acomodação Ele falou, tomando providência e cuidado da nossa natureza» (11). As palavras de Deus com efeito, expressas por línguas humanas, tornaram-se ìntimamente semelhantes à linguagem humana, como outrora o Verbo do eterno Pai se assemelhou aos homens tomando a carne da fraqueza humana." (DV 13)
Com este ato de rebaixar-se e fazer-se ouvir, Deus quer ser tornar amigo do homem. Os filósofos antigos achariam essa proposição absurda, uma vez que para brotar a amizade é preciso uma certa igualdade entre as partes e Deus é infinitamente maior que o homem, não fazendo sentido falar-se em "igualdade". Contudo, este é o desejo de Deus, inclusive já falado ao longo desse mesmo curso. É o que diz claramente a Dei verbum:
 
"Aprouve a Deus. na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade (cfr. Ef. 1,9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina (cfr. Ef. 2,18; 2 Ped. 1,4). Em virtude desta revelação, Deus invisível (cfr. Col. 1,15; 1 Tim. 1,17), na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos (cfr. Ex. 33, 11; Jo. 15,1415) e convive com eles (cfr. Bar. 3,38), para os convidar e admitir à comunhão com Ele. Esta «economia» da revelação realiza-se por meio de acções e palavras ìntimamente relacionadas entre si, de tal maneira que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras e esclarecem o mistério nelas contido. Porém, a verdade profunda tanto a respeito de Deus como a respeito da salvação dos homens, manifesta-se-nos, por esta revelação, em Cristo, que é, simultâneamente, o mediador e a plenitude de toda a revelação (2)." (DV 2)
O Catecismo continua dizendo que "por meio de todas as palavras da Sagrada Escritura, Deus pronuncia uma só Palavra, seu Verbo único, no qual se expressa por inteiro". Assim, a Igreja Católica antes de apresentar ao fiel a Bíblia, apresenta uma pessoa, Jesus Cristo, pois não é a religião de um livro. Deus, que habita em luz inacessível e cujas palavras são inefáveis aos ouvidos humanos, fez-se carne, ou seja, fez-se homem. E, porque fez-se homem, as palavras tornaram-se audíveis.
 
A Verbum Domini assim explica:
 
"A tradição patrística e medieval, contemplando esta «Cristologia da Palavra», utilizou uma sugestiva expressão: O Verbo abreviou-Se. «Na sua tradução grega do Antigo Testamento, os Padres da Igreja encontravam uma frase do profeta Isaías – que o próprio São Paulo cita – para mostrar como os caminhos novos de Deus estivessem já preanunciados no Antigo Testamento. Eis a frase: "O Senhor compendiou a sua Palavra, abreviou-a" (Is 10, 23; Rm 9, 28). (…) O próprio Filho é a Palavra, é o Logos: a Palavra eterna fez-Se pequena; tão pequena que cabe numa manjedoura. Fez--Se criança, para que a Palavra possa ser compreendida por nós». Desde então a Palavra já não é apenas audível, não possui somente uma voz; agora a Palavra tem um rosto, que por isso mesmo podemos ver: Jesus de Nazaré." (VD 12)
A Igreja sempre venerou as Sagradas Escrituras como venera o Corpo do Senhor, porém, isso não quer dizer que sejam a mesma coisa ou que estejam no mesmo nível. Eis o que diz a Dei Verbum, no número 21:
 
"A Igreja venerou sempre as divinas Escrituras como venera o próprio Corpo do Senhor, não deixando jamais, sobretudo na sagrada Liturgia, de tomar e distribuir aos fiéis o pão da vida, quer da mesa da palavra de Deus quer da do Corpo de Cristo. Sempre as considerou, e continua a considerar, juntamente com a sagrada Tradição, como regra suprema da sua fé; elas, com efeito, inspiradas como são por Deus, e exaradas por escrito duma vez para sempre, continuam a dar-nos imutàvelmente a palavra do próprio Deus, e fazem ouvir a voz do Espírito Santo através das palavras dos profetas e dos Apóstolos. É preciso, pois, que toda a pregação eclesiástica, assim como a própria religião cristã, seja alimentada e regida pela Sagrada Escritura. Com efeito, nos livros sagrados, o Pai que está nos céus vem amorosamente ao encontro de Seus filhos, a conversar com eles; e é tão grande a força e a virtude da palavra de Deus que se torna o apoio vigoroso da Igreja, solidez da fé para os filhos da Igreja, alimento da alma, fonte pura e perene de vida espiritual. Por isso se devem aplicar por excelência à Sagrada Escritura as palavras: «A palavra de Deus é viva e eficaz» (Hebr. 4,12), «capaz de edificar e dar a herança a todos os santificados», (Act. 20,32; cfr. 1 Tess. 2,13)." (DV 21)
Como se vê, não se comparam as Sagradas Escrituras e o Corpo do Senhor, ambos são venerados pela Igreja, mas segundo a sua importância. A afirmação não é comparativa, mas sim, inclusiva. A mesa do altar, por exemplo, é mais importante que a mesa da Palavra (o ambão); a Eucaristia é guardada no sacrário, enquanto que o Evangeliário não. E assim por diante. Por isso, cai por terra a alegação dos protestantes de que a Igreja tem equiparados o Corpo do Senhor e as Sagradas Escrituras.
 
Na próxima aula, serão estudados os critérios de inspiração e verdade constantes das Sagradas Escrituras.
 

Material de apoio:

1. Concílio Vaticano II, 18, nov. 1965: Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina "Dei Verbum"https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651118_dei-verbum_po.html

2. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini do Santo Padre Bento XVI ao Episcopado, ao Clero, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos, sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja https://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/apost_exhortations/documents/hf_ben-xvi_exh_20100930_verbum-domini_po.html

 

fonte: padrepauloricardo