10. Ascensão e queda dos Templários

10. Ascensão e queda dos Templários

Lendas e fatos, mitos e mistérios: o que há de tão impressionante na história dos Templários? Nesta aula de História da Igreja, confira um resumo da saga dos "Pobres Cavaleiros de Cristo", desde a glória de seus primeiros anos até a sua decadência e extinção precoce.

 

Como visto na última aula, os primeiros cruzados conseguiram tomar Jerusalém das mãos dos muçulmanos. Terminada a investida, porém, os latinos que permaneceram no Oriente se encontravam em uma situação difícil geopoliticamente, pois os Estados Cruzados – chamados também de Outremer ("Ultramar") – estavam, por todos os lados, cercados de povos islâmicos. Nesta condição – tentando governar um povo indócil e sendo constantemente pressionado por fora –, era realmente muito complicado manter a ordem política.
 
Por isso, em resposta ao pedido de ajuda dos povos latinos no Oriente, um grupo de cavaleiros oferece-se ao Rei Balduíno II de Jerusalém, disposto a ir à Terra Santa e cuidar dos peregrinos e dos Lugares Sagrados. Uma característica, porém, os distingue dos combatentes comuns: os Templários – como seriam chamados mais tarde – queriam, ao mesmo tempo, viver a profissão dos votos religiosos de pobreza, castidade e obediência.
 
Mesmo com a aparente contradição do que se dispunham a fazer, o Rei viu a conveniência de sua ajuda e deu a sua aprovação ao intento dos cavaleiros. Com o aval do Papa Honório II uns anos mais tarde, o líder do grupo, Hugo de Payens, percorre toda a Europa à procura de recrutas para a nova Ordem que surge. Para tanto, conta com o valoroso auxílio e proteção de São Bernardo de Claraval, cuja pregação fez engrossar exponencialmente as fileiras da "nova milícia" de Cristo. Juntamente com os Templários, então, são fundadas a Ordem dos Hospitalários – que se tornariam, mais tarde, os Cavaleiros de Malta – e a dos Cavaleiros Teutônicos. Também elas trilham o mesmo caminho dos "Pobres Cavaleiros de Cristo": o de ser, ao mesmo tempo, monges e guerreiros.
 
Mas, por que estes militares se apresentam para viver uma vida religiosa? Certamente não se pode entender a sua opção, sem saber que se tratam, sobretudo, de homens de fé. Depois de uma vida cheia de percalços e pecados, eles queriam expiar as suas faltas do passado e diminuir as penas do seu purgatório. Seu projeto militar e espiritual, todavia, não é contraditório: o combate que travavam contra os inimigos externos, como soldados, eles agora deviam combater contra os vícios internos, como religiosos.
 
Os Templários foram, de fato, muito importantes, desde a Segunda Cruzada (1147-1149), até a perda de Jerusalém, na famosa Batalha de Hattin, em 1187. Para se ter uma ideia de sua fé e coragem, nesta batalha, 230 cavaleiros foram capturados e mortos como mártires, recusando-se a abandonar a fé cristã e converter-se ao islamismo. Fica evidente, a partir deste episódio, que os Templários realmente não eram guerreiros comuns. Em Hattin, a sua dedicação a Cristo chegara ao ponto do martírio.
 
Infelizmente, a situação militar na Terra Santa iria de mal a pior e, depois de várias cruzadas e muitas mortes, os latinos perderiam totalmente suas posses nos Lugares Santos. Quando, em 1291, cai a fortaleza de São João de Acre, os Templários encerram os seus trabalhos no Oriente e, com o passar dos anos, assiste-se pouco a pouco à decadência e à extinção da Ordem que tanto bem tinha prestado à Igreja.
 
Para entender como os Cavaleiros de Cristo, de homens tão destemidos e empenhados com a causa da fé, chegaram à própria extinção, sendo acusados até mesmo de trair a Igreja, é preciso entender o contexto em que se deu a sua condenação.
 
A manutenção das posses latinas no Oriente demandava recursos, seja de ordem humana, seja de ordem material. Por conta disso, os Templários tinham que lidar com grandes montas de dinheiro. Além disso, os nobres, quando "se cruzavam" e partiam ao Oriente, deixavam suas fortunas sob a responsabilidade dos Templários, que passaram a trabalhar também como banqueiros. Com isso, o seu poder econômico crescia, a ponto de superar o dos próprios príncipes da época.
 
O ganancioso Filipe IV (Filipe, o Belo), então Rei da França, conhecendo o tesouro pelo qual zelavam os Templários e vislumbrando uma oportunidade de quitar as dívidas de sua administração, começou a lançar calúnias contra a Ordem, a qual ele se tinha decidido a destruir. Os Cavaleiros do Templo, porém, não eram imaculados. Acusações graves, relativas aos rituais de iniciação por que tinham que passar os noviços, sujavam a sua reputação. Dizia-se que os neófitos deviam blasfemar contra a Cruz de Cristo e dar beijos humilhantes em seus preceptores (aqueles que os acolhiam na Ordem). A notícia desses fatos causava escândalo da Europa e abria uma brecha para a ação dos seus inimigos.
 
Atente-se, porém, que esses ritos estranhos – comuns em ambientes militares – não tornavam os Templários necessariamente em infiéis ou hereges. O próprio processo que culminou na sua extinção mostra que, mesmo com esses erros, eles eram bons cristãos. No entanto, os boatos do Rei da França, aliados ao burburinho que crescia entre o povo, fizeram o Papa Clemente V dissolver, em 1312, a já desmoralizada Ordem dos Templários. No começo, o Sumo Pontífice bem que tentou fazer um processo canônico justo, mas, ao fim, faltaram-lhe pulsos firmes e os líderes da Ordem terminaram na fogueira, por ordem de Filipe, o Belo.
 
O último grão-mestre da Ordem, Jacques de Molay, foi um desses cavaleiros executados pelo príncipe francês. Homem de caráter rígido e severo, Jacques não se dobrou às exigências de Filipe IV, exigindo justiça para si até o momento de sua execução. Reza a lenda que, no instante em que agonizava nas chamas, ele invocou a Deus e pediu que os responsáveis por sua condenação fossem cobrados pela justiça divina. Impressionantemente, no decorrer do mesmo ano de 1314, morreram Filipe IV e Clemente V.
 
Maldição ou não, o fato é que os Templários permaneceram esquecidos até o século XVIII, quando a Maçonaria construiu um mito em torno desses homens e se intitulou "herdeira" de sua constituição. Ninguém jamais conseguiu provar essa alegação dos maçons. Na verdade,no curso sobre os Templários, há documentação abundante para dizer exatamente o contrário: tantos contos a respeito dos Templários, procurando relacioná-los com os maçons, com o Santo Graal ou com os Illuminati, não passam de uma grande ficção. É um material interessante para quem gosta de estórias, não para quem está interessado na verdade dos fatos históricos.

 

Fonte: padrepauloricardo