3. Capítulo III. Por que as coisas existem?

22/05/2016 12:24
 
Por que as coisas existem?
 
Capítulo III
 
No principio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito existiria (jo 1,1-3).
 
Keokuk era um lugar maravilhoso para um garotinho crescer. Às margens do majestoso Mississipi, na ponta sudeste do estado de Iowa, logo acima do Missouri, Keokuk era o território de MarkTwain. Quando criança, tive toda espécie de animais que fui capaz de capturar: sapos, pererecas, cobras, salamandras, coelhos, pássaros, cachorros e gatos perdidos andavam pela casa. Tive até um morcego e um gambá. A noite dava para ver nitidamente as estrelas no céu de Keokuk. Lembro-me que, na minha infância, costumava ficar admirando as estrelas, inúmeras no veludo negro da noite, e pensava: De onde vieram todas essas estrelas? Mesmo na minha inocência infantil, parecia-me instintivamente que teria que haver uma explicação para as coisas existirem. Por isso, tão longe quanto chegam as minhas memórias, eu me lembro de sempre ter acreditado em um Criador do universo. Só nunca havia me encontrado com ele pessoalmente.
   Somente muitos anos mais tarde percebi que aquela minha pergunta da infância, e sua respectiva resposta, tinha ocupado as mentes dos grandes filósofos por muitos e muitos séculos. Por exemplo, G. W. Leibniz, um dos inventores do cálculo e uma mente brilhante da Europa do século XVIII, escreveu: “Eis a primeira questão que deveríamos com razão nos fazer: Por que existe algo em vez do nada?’1
 
G. W. F. von Leibniz, “The Principies of Nature and of Grace, Based on Reason”, em Leibniz Selections, ed. P. Wiener. Nova Iorque: Scribners, 1951, p. 527.
 
Em outras palavras, por que algo sequer existe? Para Leibniz, essa era a questão mais básica que alguém pode fazer. Assim como eu, Leibniz chegou à conclusão de que a resposta não se encontra no universo das coisas criadas, mas em Deus. Deus necessariamente existe e é a explicação do por que tudo o mais existe.
 
O argumento de Leibniz
 
Podemos reduzir o pensamento de Leibniz à forma de um simples argumento. Isso traz a vantagem de deixar a sua lógica bem clara e voltar nossa atenção para os passos cruciais de seu raciocínio. Também deixa seu argumento bem fácil de memorizar para que depois possamos compartilhá-lo com outras pessoas (você também encontrará um esboço do argumento no final deste capítulo).
O raciocínio de Leibniz possui três premissas:
 
1. Tudo que existe tem uma explicação para existir.
2. Se o universo tem uma explicação para existir essa explicação é Deus.
3. O universo existe.
 
É isso aí! Ora, o que se segue logicamente dessas três premissas? Bem, vejamos a primeira e a terceira premissa. (Peço que as leia em voz alta, se isso de alguma forma ajudar). 5e tudo que existe tem uma explicação para existir e o universo existe, então, logicamente segue-se que:
 
Gottfried Wilhelm Leibniz
 
Gottfried Wilheim Leibniz (1646- 1716) foi um filósofo alemão, que também era matemático e especialista em lógica alemã. Ele inventou o cálculo diferencial e integral mais ou menos na mesma época em que Isaac Newton. Na verdade, ele passou os últimos cinco anos de vida se defendendo da acusação de que ele havia roubado e publicado as ideias de Newton. Hoje é consenso entre a maioria dos historiados que Leibniz de fato inventou o cálculo de forma independente.
 
4. O universo tem uma explicação para existir. 
Observe agora que a segunda premissa diz que se o universo tem uma explicação para existir essa explicação é Deus. E a quarta premissa diz que universo de fato tem uma explicação para existir. Então, da segunda e quarta premissas segue-se logicamente que:
 
5. Portanto, a explicação da existência do universo é Deus.
 
Ora, esse é um argumento logicamente hermético, incontestável. Equivale a dizer que se as três premissas são verdadeiras, a conclusão é inevitável. Pouco importa se um ateu ou um agnóstico não goste dessa conclusão. Pouco importa se ele tiver outras objeções à existência de Deus. Contanto que ele admita as premissas, ele terá que aceitar a conclusão.
   Assim, se ele quiser refutar a conclusão, terá que dizer que uma das três premissas é falsa. Mas qual delas ele refutará? A terceira premissa é inegável para qualquer um que esteja sinceramente em busca da verdade. É obvio que o universo existe! Logo, o ateu terá que negar a primeira ou a segunda premissa, se pretende continuar sendo ateu e racional. Portanto, a questão toda se resume a isso: A primeira e a segunda premissa são verdadeiras ou falsas? Vamos dar uma olhadinha nelas.
 
PARA REFLETIR:
Qual das três premissas você já ouviu um ateísta desafiar? Em que base eles o fizeram?
 
Primeira premissa
 
Tudo que existe tem uma explicação para existir.
 
Uma objeção à primeira premissa: “Deus deve ter uma explicação para sua existência” Em princípio, a primeira premissa pode parecer vulnerável de um modo bem evidente. Se tudo que existe tem uma explicação para existir, e Deus existe, logo Deus deve ter uma explicação para sua existência! Mas isso parece estar fora de questão, pois a explicação para a existência de Deus exigiria a explicação da existência de outro ser maior do que Deus. Uma vez que isso é impossível, a primeira premissa deve ser falsa. Algumas coisas devem ser capazes de existir sem que haja qualquer explicação para isso. Um cristão diria que Deus existe de forma inexplicável. O ateu diria: “Por que não parar no universo? O universo simplesmente existe, de forma inexplicável”. Com isso, parece que chegamos a um beco sem saída.
 
NECESSÁRIO OU CONTINGENTE
 
As coisas que existem necessariamente existem por uma necessidade de sua própria natureza. Existir é parte de sua própria natureza. As coisas que existem contingencialmente podem deixar de existir e, por isso, precisam de uma causa externa para explicar o porquê elas de fato existem.
 
Resposta à objeção anterior: “Certas coisas existem necessariamente”
 
Vamos mais devagar! Essa evidente objeção à primeira premissa se baseia em uma compreensão equivocada do que Leibniz quis dizer por “explicação”. Na visão dele existem duas classes de coisas: (a) as que existem necessariamente e (b) as que são geradas por alguma causa externa. Vou explicá-las.
(a) As coisas que existem necessariamente existem por uma imposição ou necessidade de sua própria natureza. Para elas é impossível não existir. Muitos matemáticos acreditam que os números, os conjuntos e outros entes da matemática pertencem a essa classe de coisas. Eles não são causados por outra coisa; apenas existem pela necessidade de sua própria natureza.
(b) Por contraste, as coisas que tem sua existência causada por outra não existem necessariamente. Elas existem porque algo além delas as gerou. Objetos tísicos conhecidos, como as pessoas, os planetas e as galáxias pertencem a essa categoria de coisas.
Portanto, quando Leibniz diz que tudo que existe tem uma explicação para existir, essa explicação pode se encontrar ou em uma necessidade da natureza da própria coisa ou em alguma causa externa. 
Assim, a primeira premissa poderia ser expressa de forma mais completa da seguinte maneira:
1. Tudo que existe tem uma explicação para existir, seja essa explicação uma necessidade da própria natureza da coisa ou uma causa externa.
 
PARA DISCUTIR:
Se Deus de fato existe, por que é impossível que ele tenha uma causa?
 
Mas com isso a objeção acima cai por terra. A explicação para a existência de Deus se encontra na necessidade da própria natureza de Deus. Como até um ateu reconhece, é impossível que Deus tenha uma causa. Logo, o argumento de Leibniz é na verdade um argumento em favor de Deus como um ser necessário, não causado.
Longe de diminuir o argumento de Leibniz, a objeção ateísta à primeira premissa na verdade ajuda a esclarecer e engrandecer quem Deus é! Se Deus existe, ele é um ser que necessariamente existe, que não é causado.
 
Defesa da primeira premissa: “Tamanho não importa”
 
Então, que razão podemos oferecer para alguém pensar que a primeira premissa é verdadeira? Bem, quando você começa a refletir sobre essa premissa, percebe que ela é uma espécie de premissa evidente em si mesma. Suponha que você esteja atravessando uma floresta e se depare com uma bola translúcida bem no meio da floresta. 
Sua reação natural seria se perguntar como aquilo foi parar ali. Se alguém que estivesse com você dissesse, Ora, isso apenas existe, não tem uma explicação. Não se preocupe com isso!”, você pensaria uma dessas duas coisas: que essa pessoa estava maluca ou que só estava querendo seguir em frente. Ninguém levaria a sério a sugestão de que aquela bola existia e estava lá sem nenhuma explicação, literalmente.
Suponha agora que você aumente o tamanho dessa bola e ela passe a ser do tamanho de um carro. Isso não mudaria em nada. A exigência de uma explicação para ela. Suponha que ela seja do tamanho de uma casa. Continua havendo a mesma necessidade de explicação. Ou que ela seja do tamanho de um continente ou de um planeta. A mesma coisa. Suponha que ela seja do tamanho do universo inteiro. A necessidade de explicação continua. Meramente aumentar o tamanho da bola não afeta em nada a necessidade de uma explicação.
 
 
A falácia do táxi
 
As vezes os defensores do ateísmo dirão que a primeira premissa é verdadeira para tudo que esteja no universo, mas não acerca do universo em si. Tudo o que existe no universo tem uma explicação, mas o próprio universo não tem.
Contudo, essa explicação comete algo que tem sido chamado de “falácia do táxi”. Como costumava dizer com sarcasmo Arthur Schopenhauer, filósofo ateu do século xix, a primeira premissa não pode ser dispensada com um aceno de mão, como se dispensa um táxi depois que se chega ao destino desejado! Não se pode dizer que tudo tem uma explicação para existir e, de repente, tirar o universo fora disso.
     Seria uma atitude arbitrária da parte do ateu se ele alegasse que o universo é uma exceção à regra (lembre-se que o próprio Leibniz não fez de Deus uma exceção à regra da primeira premissa). 
A ilustração que demos acima com a bola na floresta mostrou que o simples fato de aumentar o tamanho do objeto a ser explicado, mesmo que ele chegue ao tamanho do universo inteiro, não anula a necessidade de haver alguma explicação para a sua existência.
    Observe ainda o quanto essa resposta do ateísmo não é científica. Pois a própria cosmologia (estudo do universo) atual se dedica à busca de uma explicação para a existência do universo. A atitude ateísta mutilaria a ciência.
 
 
Outra falácia ateísta: “E impossível que o universo tenha uma explicação”
 
Assim, alguns defensores do ateísmo tentaram arrumar uma justificativa para fazer do universo uma exceção à primeira premissa. Eles disseram que é impossível que o universo tenha uma explicação para sua existência. Por quê? Porque essa explicação teria que ser um estado de coisas anterior no qual o universo ainda não existia. Mas isso seria o nada, e o nada não pode ser a explicação de algo que existe. 
Assim, o universo deve somente existir, de forma inexplicável.
 
Essa linha de raciocínio é uma evidente falácia. Pois ela assume que o universo seja tudo o que existe, de modo que se o universo não existisse, haveria o nada. Em outras palavras, a objeção presume que o ateísmo seja verdade! Os ateístas, portanto, estão cometendo uma petição de princípio, argumentando em círculos. 
 
Para discutir
 
É muito difícil imaginar o nada. Podemos imaginar o espaço vazio, mas esse espaço é algo, não é nada. Tente imaginar que somente Deus existe. Não existe o universo nem o espaço vazio nem mesmo o tempo. 0 que se passa em sua mente quando você tenta conceber isso? Suponha agora que nem mesmo Deus exista.
 
Leibniz concordaria com a colocação de que a explicação do universo deve estar em um estado de coisas anterior à existência do universo. Mas esse estado de coisas anterior é Deus e sua vontade, e não o nada.
    Parece-me, portanto, que a primeira premissa, em termos plausíveis, é mais verdadeira do que falsa, e isso é tudo que precisamos para um bom argumento.
 
Segunda premissa
 
Se o universo tem uma explicação para existir essa explicação é Deus. Os defensores do ateísmo concordam com a segunda premissa.
 
E quanto à segunda premissa, que afirma que se o universo tem uma explicação para existir essa explicação é Deus? 
Em termos plausíveis, ela é mais verdadeira 
ou falsa?
   O que mais causa estranheza para os defensores do ateísmo a essa altura é que a segunda premissa é logicamente equivalente à típica resposta ateísta ao argumento de Leibniz. Dois enunciados são logicamente equivalentes se for impossível um deles ser verdadeiro e o outro falso. Ou ambos se sustentam ou ambos caem por terra. Então, o que um ateísta quase sempre diz em resposta ao argumento de Leibniz? Como acabamos de ver, ele tipicamente afirma o seguinte: 
A. Se o ateísmo é verdadeiro, o universo não tem uma explicação para existir.
   Essa é precisamente a resposta dos ateístas à primeira premissa. Para eles o universo apenas existe de forma inexplicável. Mas isso equivale logicamente a dizer:
B. Se o universo tem uma explicação para existir, então o ateísmo não é verdadeiro.
 
Portanto, não se pode afirmar A e negar B
Mas B é praticamente um sinônimo
dois enunciados). Assim, ao dizer em resposta à primeira premissa que, dado o ateísmo, o universo não tem explicação, os ateístas estão implicitamente admitindo a segunda premissa, ou seja, se o universo tem uma explicação para existir, então Deus existe.
 
Objetos abstratos vs.
OBJETOS CONCRETOS 
 
Os filósofos diferenciam os objetos como sendo abstratos ou concretos. 0 que define a diferença entre eles é que os objetos abstratos são causalmente estéreis ou impotentes, enquanto que os objetos concretos são capazes de causar efeitos no mundo. Vários objetos têm sido identificados por diferentes filósofos como abstratos, principalmente entes matemáticos como números, conjuntos funções, mas também proposições, propriedades, personagens de ficção e até mesmo obras musicais e literárias.
 
 
   Outro argumento em favor da segunda premissa: “A causa do universo: um objeto abstrato ou uma mente sem corpo físico?” 
 
Além disso, a segunda premissa é muito plausível em seus próprios termos. Pense no que é o universo: toda realidade tempo-espaço. Inclusive toda matéria e energia. Segue-se que se o universo tem uma causa de existência, essa causa deve ser um ser não físico, imaterial. Que esteja além do tempo e do espaço. Incrível! 
     Ora, existem somente duas coisas que se encaixam nessa descrição: um objeto abstrato, como um número, ou uma mente sem corpo físico. Porém, objetos abstratos não podem ser causa de nada.
Isso faz parte do que significa ser abstrato. O numero 7, por exemplo, não pode causar nenhum efeito. Logo, a causa da existência do universo deve ser uma mente transcendente, e é isso que os cristãos entendem por Deus.
    Espero que esteja começando a captar a força do argumento de Leibniz. Se bem-sucedido, este argumento prova a existência de um Criador pessoal do universo, um Criador necessário, nao causad< acima do tempo e do espaço e imaterial. Não estou me referindo a alguma entidade mal concebida, como um ser extraterrestre, mas de um ser ultramundano e que possui as muitas propriedades tradicionais de Deus. Isso é verdadeiramente fascinante!
 
Ultramundano significa algo além do domínio do nosso mundo. A palavra “mundano” vem do termo em latim para mundo ou universo — mundus— e não implica necessariamente algo pecaminoso!
 
Alternativa ateísta: “O universo existe necessariamente!”
 
O que os ateístas podem fazer a esta altura? Eles têm a seu dispo» uma alternativa mais radical. Podem voltar atras, retitar sua ob|eçao à pnmeira premissa t dizer, em vez disso que, sim, o univetso de fato tem uma explicação para existir Mas que essa explicação e a segumte- O universo existe por uma necessidade de sua própria natureza. Para eles, o universo serviria como uma espécie de substituto de Deus que existe necessariamente.
    Ora, esse seria um passo muito radical para eles, e de fato nao consigo me lembrar de nenhum defensor do ateísmo que tenha adotado essa linha de raciocínio.  Há alguns anos, em uma conferência em Santa Barbara City College sobre a filosofia do tempo, cheguei a pensar que o professor Adoif Grunbaum, um beligerante ateu filósofo da ciência da Universidade de Pittsburgh, estava flertando com essa ideia. Mas quando levantei a questão sobre se ele pensava que o universo existia necessariamente, ele ficou positivamente indignado com a minha sugestão.
"Claro que não”, vociferou ele e prosseguiu, dando seqüência à alegação de que o universo «penas existe sem qualquer explicação.
    A razão pela qual os ateístas não parecem ansiosos para abraçar essa alternativa é clara.
 
Para discutir
 
Você conhece alguém que acredita que o universo ou mundo seja um Deus substituto (como Gaia ou a Força da saga Star Wars)?
0 que leva alguém a acreditar nisso?
 
 
Quando olhamos para o universo, vemos que nenhuma das coisas que o compõem, sejam as estrelas, os planetas, as galáxias, a poeira cósmica, a radiação ou o que quer que seja parece existir necessariamente. Todas essas coisas poderiam deixar de existir; na realidade, em algum momento do passado, quando o universo era muito denso, nenhuma delas existia.
    Mas pode ser que alguém diga: E quanto à matéria da qual essas coisas são feitas? Talvez a matéria exista necessariamente, e todas essas coisas sejam apenas configurações diferentes de matéria. O problema com essa possibilidade é que, de acordo com o modelo padrão da física subatômica, a própria matéria é composta por minúsculas partículas fundamentais que não podem continuar a ser decompostas. O universo é apenas um conjunto dessas partículas arranjadas de diferentes maneiras. Mas agora surge a seguinte questão: Não poderia ter existido um conjunto diferente dessas partículas fundamentais em vez desse que temos? Cada uma dessas partículas existe necessariamente?
 
 
            
                                               
          I                   II                  III    

 

U
up
 
     C
  charm
 
     T
      top
 
  Y
  fóton
 
      d
      down
 
S
strage
 
      b
   botom
 
  g
glúon
 
        V
         e
 neutrino 
 elétron
      V
       u
neutrino
nuônico
      V
 neutrino
tauônico
   
     Zº
bóson z

 
    e
 elétron
 
   u
  múon
 
    t
     tau
 
  W
bóson w
 

 

   
     
Observe bem o que os ateístas não podem dizer a respeito disso. 
Eles não podem dizer que as partículas subatômicas elementares são meras configurações da matéria e que poderiam ter sido diferentes do que são, mas que a matéria de que elas são compostas existe necessariamente. Eles não podem dizer isso, pois as partículas su- Datómicas elementares não são compostas de nada! Elas são apenas unidades básicas de matéria. Assim, se uma partícula específica não existir, a matéria não existe.
 
     Parece evidente que um conjunto diferente de partículas elementares poderia ter existido em vez desse que existe. Mas se fosse esse o caso, então teria existido um universo diferente. 
 
     Para entender esse ponto, pense em sua escrivaninha. Poderia ela ter sido feito de gelo? Note bem que não estou perguntando se você poderia ter tido uma escrivaninha de gelo em lugar da sua escrivaninha de madeira, que fosse do mesmo formato e tamanho. 
Antes estou perguntando se a sua própria escrivaninha, essa que é feita de madeira, se essa mesma escrivaninha poderia ter sido feita de gelo. A resposta obviamente é não. Se fosse feita de gelo seria uma escrivaninha diferente e não a mesma que você tem.
 
    Do mesmo modo, um universo composto de diferentes partículas subatômicas, ainda que elas fossem arranjadas de forma idêntica nesse universo, seria um universo diferente. Segue-se, portanto, que o universo não existe por uma necessidade de sua própria natureza.
 
    Ora, alguém poderia fazer uma objeção, dizendo que o corpo humano continua idêntico com o passar do tempo, a despeito de haver uma troca completa do material de seus constituintes por novos constituintes. Afirma-se que a cada sete anos a matéria que compõe nosso corpo é quase que completamente reciclada. Ainda assim, meu corpo é idêntico ao corpo que eu tinha antes. Por analogia, alguém poderia dizer que vários possíveis universos poderiam ser idênticos muito embora fossem compostos de diferentes conjuntos de partículas subatômicas.
 
   A falta de analogia crucial, entretanto, é que a diferença entre possíveis universos não é absolutamente alguma espécie de mudança,
 
PARA DISCUTIR:
Pergunte a um professor de física: Por que as partículas elementares existem?
É impossível para elas não existir?
(Esteja preparado para a possibilidade desse professor não querer ter esse tipo 
de conversa).
 
 pois não existe um sujeito que subsista e que vá passando por mudanças intrínsecas de um estado para outro. Logo, universos feitos de partículas diferentes não são como as fases diferentes pelas quais passa o meu corpo. Antes, são como dois corpos que não possuem qualquer conexão um com o outro, absolutamente. 
 
    Ninguém pensa que cada partícula subatômica do universo exista por uma necessidade de sua própria natureza. Segue-se que o universo, composto de tais partículas, também não existe por uma necessidade de sua própria natureza. Note que o caso permanece o mesmo quer estejamos pensando no universo como sendo em si um objeto (assim como uma estátua de mármore não é idêntica a outra estátua feita de mármore diferente) ou pensando nele como sendo um conjunto ou grupo (assim como um bando de pássaros não é idêntico a outro bando composto de pássaros diferentes), ou mesmo como sendo absolutamente nada além das partículas em si.
 
    Minha tese de que o universo não existe necessariamente fica ainda mais óbvia quando pensamos que parece ser inteiramente possível que os elementos fundamentais que constituem a natureza poderiam ter sido substâncias inteiramente diferentes as partículas subatômicas que hoje temos. Tal universo se caracterizaria por leis da natureza diferentes. Ainda que tomemos nossas leis da natureza como algo logicamente necessário, ainda assim é possível que existissem diferentes leis por causa das substancias dotadas de propriedades e capacidades diferentes das nossas partículas subatômicas poderiam ter existido. Nesse caso estaríamos claramente lidando com outro tipo inteiramente diferente de universo. Portanto, os defensores do ateísmo não foram tão ousados a ponto de negar a segunda premissa e dizer que o universo existe necessariamente. Como a primeira premissa, a segunda premissa também parece ser verdadeira em termos de plausibilidade.
 
PARA DISCUTIR:
 
Como este capítulo mostrou a você que Deus é uma mente não encarnada?
Que ele transcende o universo?
Que ele criou o universo?
 
 
 
Conclusão
 
Dada a verdade dessas três premissas, não há como escarparmos da seguinte conclusão lógica: Deus é a explicação da existência do universo. Além disso, o argumento implica que Deus é não causado, uma mente não encarnada em um corpo, que transcende o universo físico e até mesmo o tempo e o espaço, e que existe necessariamente. Tal conclusão é assombrosa! Leibniz expandiu nossas mentes muito além das questões mundanas da vida cotidiana. No próximo capítulo, vamos expandir um pouco mais nossas mentes, à medida que tentarmos entender o infinito e descobrir o começo do universo.
 
 
ARGUMENTO COSMOLÓGICO DE LEIBNIZ:
 
          Prós                                       Contras
1-Tudo que existe tem uma explicação para existir, seja ela uma necessidade de sua própna natureza ou uma causa externa.
 
Então Deus deve ter uma causa que o explique.
 
Não, Deus existe por necessidade de sua própria natureza.
 
 
Esse è um principio autoevidente: historinha da bola encontrada na floresta.
 
0 universo é uma exceção a esse principio.
 
Fazer do universo uma exceção é ser arbitrário e cometer a falácia do táxi.
 
 
 
Não é ser arbitrário, uma vez que é impossível o universo ter uma explicação.
 
Você está assumindo que o universo é tudo que existe, o que é uma petição de principio em favor do ateismo
 
 

 

 

 

 

 

ARGUMENTO COSMOLÓGICO DE LEIBNIZ (cont.)
 
 
                 Prós                                          Contras

2. Se o universo tem uma explicação para existir, essa explicação é Deus.
 
 
Isso é logicamente equivalente a própria declaração ateísta de que se Deus não existe, o universo não tem explicação.
Retiro o que disse.
O universo existe por uma necessidade de sua própria natureza.


 

O universo não existe necessariamente, uma vez que diferentes partículas elementares poderiam ter existido
 

Como a causa do espaço e do tempo, este ser deve ser uma mente encarnada em um corpo e transcendente
 
 
3 .0 universo existe,
 

4. Logo, o universo tem uma explicação para existir 
 
 
Isso se segue da primeira e terceira premissa.
 
 
5 Portanto, a explicação da existência do universo é Deus.
 

Isso se segue da segunda e quarta premissa.
 
 
 
 
 

 

A JORNADA DE FÉ DE UM FILÓSOFO 

PARTE 1

 

 

Tendo me convertido ao cristianismo durante o segundo grau, logo tive que enfrentar a decisão de qual faculdade escolher. Sandy, minha amiga cristã das aulas de alemão, sugeriu que eu fosse para o Wheaton College, onde estava seu irmão mais velho, Paul.

Estudar em uma faculdade cristã era algo que me atraía bastante como alguém novo na fé, então me inscrevi no processo seletivo e fui aceito. E preciso esclarecer que eu nunca fizera parte de uma subcultura cristã antes em minha vida. Assim, estudar em Wheaton era para mim uma prévia do céu os professores oravam antes de começar a aula, tínhamos devocionais diárias na capela, você nunca ouvia ninguém blasfemando ou falando palavrões no vestiário e assim por diante. Fiquei maravilhado!

    Mas o verdadeiro grande presente que o Wheaton College me deu foi a possibilidade de integrar minha fé àquilo que aprendia. La percebi que, como cristão, eu não precisava guardar meu cérebro em um bolso e a minha fé no outro, e nunca mais deixa-los ver a luz do dia novamente. Ao contrário, eu poderia ter uma cosmovisão crista— uma perspectiva cristã sobre a ciência, a história, as artes e assim por diante. Foi lá que cheguei a essa visão de compartilhar minha fé no contexto da apresentação de uma defesa intelectual do evangelho, apelando ao mesmo tempo ao coração é à mente.

    Infelizmente, naquela época o Wheaton College era surpreendentemente fraco em apologética, Meu professor de teologia, Robert Webber, nos ensinava que não havia bons argumentos em favor da existência de Deus e que as provas tradicionais tinham sido todas refutadas. Embora eu fosse um pouco cético em relação ao que ele disse, acabei mais ou menos aceitando aquilo com base em sua autoridade.

   Então, um pouco antes de terminar a faculdade, veio parar em minhas mãos um exemplar de The Resurrection o f Theism [A ressurreição do teísmo], escrito pelo professor Stuart Hackett, que estava sendo vendido em uma queima de estoque da livraria da faculdade. Devo confessar que na época eu não tinha bem certeza sequer do que o título da obra significava! Durante o outono, quando comecei a ler aquele livro, fiquei absolutamente pasmo com o que lia. Ao contrário do que me fora ensinado até então, o professor Hackett, com uma logica avassaladora, estava defendendo argumentos em favor da existência de Deus e fornecendo refutações de cada uma das possíveis objeções a esses argumentos.

   A peça central da defesa de Hackett foi um argumento que me tocou profundamente: Em termos racionais é inconcebível que a serie de eventos passados fosse infinita; deve ter havido um começo para o universo e, portanto, uma causa transcendente que o trouxe à existência. Ler a obra de Hackett foi uma experiência chocante que me abriu os olhos. Eu tinha de descobrir se ele estava certo.

   Durante meu ultimo ano no Wheaton, John Guest, durante uma preleção na capela, desafiou os formandos a dedicar dois anos, após a graduação, compartilhando nossa fé com estudantes universitários enquanto tínhamos mais ou menos a mesma faixa etária. Aquilo fez sentido para mim e decidi adiar meus planos de ir para um seminário e, por dois anos, juntei-me ao grupo da Cruzada Estudantil e Profissional para Cristo. Fui enviado para integrar o grupo da Universidade de Northern Illinois.

   Entre os membros do grupo havia uma jovem chamada Jan Coleman, que havia estudado na Universidade de Dakota do Norte. Cheia de vivacidade e extrovertida, ela passava uma ideia de confiança, independência e força. Ela era inteiramente dedicada à causa de Cristo e comprometida com o evangelismo. Além disso, com sua silhueta esguia, cabelos castanhos na altura da cintura e enormes olhos castanhos, ela era muito atraente! Por coincidência ela tinha planos de se matricular no mesmo seminário que eu. Bem, uma jovem como ela estava fora do meu alcance, mas não pude evitar e sentir atraído por sua beleza. E como milagres acontecem, enquanto eu trabalhava com os rapazes e ela com as garotas do campus, nós nos apaixonamos e decidimos casar no final daquele mesmo ano.

   Voltamos os olhos então para um mestrado em filosofia sob a orientação do Dr. Norman Geisler, no Trinity Evangelical Divinity School, ao norte de Chicago. Um dos requisitos para ser aceito nesse programa era passar em um exame na área de filosofia; assim, durante o ano seguinte, enquanto me preparava para esse exame, eu li e fiz anotações detalhadas na obra monumental de Frederick Copleston, com nove volumes, History ofPhilosophy. Foi nela que aprendi acerca da extensa história do pensamento judaico, muçulmano e cristão sobre o argumento que Hackett estava defendendo. E decidi que, se algum dia eu conseguisse chegar ao doutorado, minha tese seria a respeito desse argumento.

   Passamos dois anos maravilhosos no Trinity, estudando com grandes mestres como Paul Feinberg, David Wolfe, John Warwick Montgomery, David Wells, John Woodbridge, J. I. Packer, Clark Pinnock e Murray Harris. Concluí meus mestrados em filosofia da religião e história da igreja. O tempo que passamos no Trinity acabou se tornando um passo crucial na jornada que Deus tinha para nós.

   Jan e eu aprendemos juntos que o Senhor normalmente só iluminava o caminho o suficiente para o próximo passo, sem que soubéssemos o que estava mais a frente. Assim, certa noite estávamos sentados depois do jantar, conversando sobre o que fazer depois do término do mestrado. Nenhum de nós dois tinha a mais vaga ideia do que deveríamos fazer a seguir.

   Em determinado momento, Jan me disse: Bem, se dinheiro não fosse o problema, o que você realmente gostaria de fazer depois do mestrado?  “Se dinheiro não fosse o problema, eu gostaria de ir para a Inglaterra e fazer um doutorado sob a orientação de John Hick.

   “Quem é ele?” — perguntou Jan. “Ele é um famoso filosofo britânico que escreveu muitas coisas a respeito dos argumentos em favor da existência de Deus. Se pudesse estudar com ele, eu poderia desenvolver o argumento cosmológico em favor da existência da Deus”.

   Mas aquela ideia me parecia bem pouco realista. Na noite seguinte, Jan me deu um pedaço de papel onde estava escrito o endereço de John Hick. Fui até a biblioteca hoje e descobri que ele está na Universidade de Birmingham, na Inglaterra. Por que você não escreve para ele e pergunta se você poderia fazer seu doutorado com ele, e escrever sobre o argumento cosmológico?.

    Que mulher incrível! Fiz o que ela sugeriu e, para nosso espanto e alegria, o professor Hick me escreveu dizendo que teria o maior prazer em ser meu orientador nesse tema. Então, a porta estava aberta! O único problema era que a Universidade de Birmingham exigia uma declaração de um banco assegurando que tínhamos todo o dinheiro necessário para todo o tempo que eu precisasse para concluir o doutorado. (Eles não queriam ver estudantes estrangeiros desistindo do doutorado no meio do caminho por falta de fundos).

    Bem, nem preciso dizer que não tínhamos todo esse dinheiro. Para dizer a verdade, éramos mais pobres do que ratos de igreja. Nosso apartamento no Trinity era tão pequeno que, quando eu estava deitado no colchão em que dormíamos, no chão, eu conseguia tocar a geladeira com o pé. Costumávamos ate cortar pratos de papel na metade para economizar. (Isso nos rendeu certa vez um momento embaraçoso, pois convidamos Dr. Woodbridge para comer um doce, e a Jan, que nem se lembrou dos nossos pratos cortados, teve que servir-lhe um pedaço de torta em metade de um prato de papel! Sendo extremamente gentil, ele nunca disse uma palavra sequer sobre o episódio.)

   Lá no fundo sentíamos que o Senhor estava nos chamando a ir para a Inglaterra fazer aquele doutorado. Naquela época as universidades britânicas passavam por um período difícil e não disponibilizavam bolsas para estudantes estrangeiros. Tivemos que arrumar o dinheiro por conta própria. Então, começamos a orar, todos os dias, de manhã e à noite, para que o Senhor providenciasse o dinheiro necessário.

   Marcamos uma visita com um empresário que não era cristão, mas tinha investido no sustento de Jan no grupo da Cruzada Estudantil e explicamos a ele o que acreditávamos que Deus estava nos chamando a fazer. E foi essa pessoa que nos deu — não emprestou, mas deu — todo o dinheiro que precisávamos para o doutorado! Foi uma das mais incríveis provisões de Deus que eu já vi. Então, Jan e eu sentimos que o Senhor tinha miraculosamente nos arrancado dali e nos transportado para a Inglaterra, para fazer aquele doutorado.

   De fato escrevi sobre o argumento cosmológico, sob a orientação do professor Hick, e mais tarde publiquei três livros baseados na minha tese de doutorado. Tive a oportunidade de explorar as raízes históricas do argumento defendido por Hackett e também pude aprofundar e avançar em sua análise. Também descobri ligações bastante surpreendentes com a cosmologia e astronomia contemporâneas.

    Em função de suas raízes históricas na teologia islâmica medieval, batizei o argumento de Hackett de “argumento cosmológico kalam" (kalam é o termo árabe para teologia medieval). Hoje este argumento, que fora amplamente esquecido desde a época de Kant, está de volta ao centro da discussão. O The Cambridge Companion to Atheism (2007) relata que “uma contagem dos artigos nos periódicos de filosofia mostra que foram publicados mais artigos sobre a defesa que Craig faz do argumento kalam do que os que foram publicados sobre quaisquer outras formulações contemporâneas escritas por outros filósofos acerca do argumento em favor da existência de Deus. [...] Tantos ateístas quanto não ateístas ‘não conseguem deixar de falar sobre o argumento kalam, de Craig’” (p. 183).

    Agradeço ao Senhor por ter me proporcionado o privilégio de estudar esse argumento histórico. No próximo capítulo falarei a respeito dele.

 
 
Segue no próximo Capítulo 4...
 
 
 
 
 

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