Inspiração e verdade da Sagrada Escritura

22/09/2014 10:53

Inspiração e verdade da Sagrada Escritura

Para o católico não existe dificuldade alguma em crer que: 1. Deus é o autor da Sagrada Escritura; 2. Deus inspirou os autores humanos dos livros sagrados; 3. Os livros inspirados ensinam a verdade.

O tema desta aula - inspiração e verdade da Sagrada Escritura - apesar de um tanto quanto explosivo, foi apresentado de forma bastante simples pelo Catecismo da Igreja Católica.

Para o católico não existe dificuldade alguma em crer que: 1. Deus é o autor da Sagrada Escritura; 2. Deus inspirou os autores humanos dos livros sagrados; 3. Os livros inspirados ensinam a verdade. Entretanto, durante os séculos XVIII e XIX, a inspiração da Sagrada Escritura foi bastante questionada, principalmente por Immanuel Kant. O auge da contestação deu-se no final do século XIX, tanto que o Papa São Pio X, no ínicio do sécuo XX escreveu a encíclica Pascendi dominici gregis, condenando o modernismo. Antes, porém, o Santo Ofício baixou um decreto acerca dos erros correntes naquela época. Trata-se do Decreto Lamentabili, de 03 de julho de 1907, o qual traz as seguintes frases condenadas pela Igreja:

"9. Demonstram demasiada ingenuidade ou ignorância os que crêem que Deus é verdadeiramente o autor da Sagrada Escritura.

10. A inspiração dos livros do Antigo testamento consiste em que os escritores israelitas ensinaram as doutrinas religiosas sob um peculiar aspecto, pouco conhecido ou desconhecido dos pagãos.

11. A inspiração divina não se estende a toda a Escritura a tal ponto que se preserve de todo erro todas e cada uma de suas partes.

12. Se o exegeta quer dedicar-se com proveito aos estudos bíblicos, deve antes de tudo pôr de lado toda ideia preconcebida a respeito da origem sobrenatural da Sagrada Escritura e não interpretá-la de outro modo que os outros documentos humanos.

13. Foram os próprios Evangelistas e os cristãos da segunda e terceira geração que redigiram artificiosamente as parábolas evangélicas, justificando deste modo os diminutos frutos da pregação de Cristo no meio dos judeus.

14. em muitas narrativas os Evangelistas não narraram tanto o que é verdade, quanto o que julgaram ser de maior proveito para os leitores, embora falso.

15. Os evangelhos foram aumentados com adições e correções contínuas até a definitiva constituição do cânon; neles sobrou apenas um vestígio tênue e incerto da doutrina de Jesus.

16. As narrativas de João não são propriamente história, mas contemplação mística do Evangelho; os sermões nele contidos são meditações teológicas acerca do mistério da salvação, desprovidas de verdade histórica.

17. O quarto Evangelho exagerou os milagres, não tanto para que aparecessem mais extraordinários, mas para que fossem mais aptos para significar a obra e a glória do Verbo encarnado.

18. João reivindica para si o título de testemunha de Cristo; na realidade, porém, é apenas uma testemunha exímia da vida cristã, ou seja, da vida da Igreja de Cristo no fim do primeiro século.

19. Os exegetas heterodoxos expressaram o verdadeiro sentido das Escrituras com mais fidelidade que os exegetas católicos." (DH 3409 - 3419)

As afirmações acima põem em dúvida a sobrenaturalidade das Sagradas Escrituras e foram condenadas pela Igreja. Para dirimir qualquer dúvida que, porventura, ainda possa existir, o Catecismo cita a Constituição Dogmática "Dei Verbum", que diz:

"As coisas divinamente reveladas que se encerram por escrito na Sagrada Escritura e nesta se nos oferecem foram consignadas sob o sopro do Espírito Santo." (DV 11)

Importante recordar que em Teologia quando se indaga quem age, a resposta é sempre a Trindade, contudo, é possível, por apropriação perceber algumas características próprias de cada uma das Pessoas da Santíssima Trindade. Por exemplo: embora o Filho e o Espírito Santo tenham participado da Criação, é o Pai o Criador. O Filho é quem redimiu o mundo, embora Deus Pai e Espírito Santo sejam também redentores. Da mesma forma, por apropriação é possível dizer que o Espírito Santo é o santificador. Com respeito às Sagradas Escrituras diz-se que foi inspirada pelo Espírito Santo. O texto continua:

"Pois a Santa Mãe Igreja, segundo a fé apostólica, tem como sagrados e canônicos os livros completos tanto do Antigo como do Novo testamento, com todas as suas partes, porque, escritos sob a inspiração do Espírito Santo, tem Deus por autor e foram como tais transmitidos à Igreja." (DV 11)

Qual foi, então, a função do hagiógrafo? Deus é o verdadeiro autor da Bíblia, contudo, essa verdade coexiste com a verdade de que também o hagiógrafo deu a sua contribuição. A Dei Verbum continua:

"Na redação dos livros sagrados Deus escolheu pessoas humanas, das quais se utilizou sem tirar-lhes o uso das próprias capacidades e faculdades, a fim de que, agindo ele próprio neles e por eles, transmitissem por escrito, como verdadeiros autores, tudo e só aquilo que ele próprio quisesse." (DV 11)

Assim, Deus inspirou os autores bíblicos que, dispondo de suas próprias faculdades (estilo, gramática e outras) transmitissem somente a vontade de Deus. É por isso que as Sagradas Escrituras não contém erros. Continuando, a Dei Verbum ensina que:

"Portanto, já que tudo o que os autores inspirados ou hagiógrafos afirmam deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo, segue-se que devemos confessar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade que Deus, para nossa salvação, quis fosse consignada nas sagradas Letras. Por isso, ‘toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, para argumentar, para corrigir e para instruir na justiça, para que o homem de Deus seja perfeito, capacitado para toda boa obra." (DV 11)

O número 108 do Catecismo é bastante esclarecedor quanto à natureza da fé cristã:

"Todavia, a fé cristã não é a religião do Livro. O Cristianismo é a religião da Palavra de Deus, não de uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo. Para que as Escrituras não permaneçam letra morta, é preciso que Cristo, Palavra eterna de Deus Vivo, pelço Espírito Santo nos abra o espírito à compreensão das Escrituras."

Assim, o Espírito Santo inspira o hagiógrafo para que escreva tão somente aquilo que é a vontade do Pai, mas inspira também a Igreja quando ela interpreta o que foi escrito. A ação deu-se nos dois pólos: no emissor e no receptor, de modo que a mensagem compartilhada fosse aquela que Deus quis transmitir.

A Igreja é o canal receptor que conta com a inspiração do Espírito Santo, mais que isso, é o próprio corpo de Cristo, do Verbo, da Palavra encarnada, dessa forma, ainda que seus membros sejam homens pecadores, pela assistência do Espírito Santo em seu conjunto, especialmente no seu Magistério é o único lugar de interpretação das Sagradas Escrituras.

 

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