O impacto de Roma sobre Lutero e Santa Teresinha – quanta diferença!

O impacto de Roma sobre Lutero e Santa Teresinha – quanta diferença!

 

 

Continuamos nossa dissecação anatômico-coprológica sobre Martinho Lutero. Seus esforços nos estudos renderam-lhe o título de Bacharel em História Sagrada (historiador? Isso explica muita coisa…). Aos 25 anos, foi convidado para lecionar em Wittenberg. Esta foi a impressão que o monge maluco teve da cidade:

“É grande a pobreza na cidade e a preguiça ainda maior. Ali não é possível convencer um pobre de que ele deve trabalhar. Prefere pedir esmolas.”

(Fonte: JORGE, Fernando. Lutero e a Igreja do Pecado)

Pelo jeito, o nosso bom Lutero já tinha esquecido seus tempos de cantor de rua…. ao menos na hora de emitir seus profundos julgamentos. Mas, de sua carreira artística, ficou sua habilidade de apresentar-se para as platéias. Uma coisa não podemos deixar de falar: o bocudo tinha lábia. Fala-se que a sua voz era sensacional e a sua oratória irretocável.

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O monge Lutero, ainda jovem.

Sua curiosidade intelectual levou-o de volta a Erfurt para estudar grego, a fim de ler os originais do Santo Evangelho. Lutero é um ponto de ruptura com a tradição escolástica (devia ser profunda demais para ele). Como diria Caê: o relacionamento entre fé e razão fundiu a cabeça de Lulu.

Vejo aqui outro desvirtuamento muito comum ao protestantismo herdado de Lutero: protestantes, de uma forma geral, quando se deparam com conflitos entre fé e razão, piram na batatinha; xingam, babam e, geralmente, precisam tomar vacina. Protestante quer racionalizar tudo, mesmo sem ter uma base teológica e filosófica profunda que os permita isso. O que na prática, sem que o percebam, é tentar pôr Nosso Senhor Jesus Cristo dentro de um tubo de ensaio.

Quando o monge pirado foi a Roma, para resolver problemas internos da ordem agostiniana, parecia uma criança que ganhou uma viagem para Disney. Era o ano de 1510. Só que, aos olhos de Lutero, a Disney virou Bancoc. Não podemos perder de vista que, no século XVI (convenhamos, não só esse século, mas, pelo menos, os últimos 2 mil anos anteriores), Roma era um ímã… atraía tudo o que prestava, e o que não prestava também. Tinha muita coisa errada acontecendo na Cidade Eterna, é verdade, mas não podemos perder de vista o contexto em que isso acontecia.

Outro louco, o monge Savonarola, já alertava sobre a cupidez e hábitos dissolutos dos sacerdotes romanos. Realmente, nos séculos XV e XVI tivemos papas e colégios cardinalícios do calibre da rapaziada do século X (o período da pornocracia). Mas a crítica existia e partia, principalmente, de dentro da própria Igreja, que sempre foi vigilante e zelosa da necessidade de se preservar o legado de Nosso Senhor Jesus Cristo. Surtiu muito efeito. Observem que, em termos de escândalos, os de hoje são gota no oceano comparados com os despautérios de outras épocas. Era realmente necessário repensar o modo de vida dos romanos, como o foi no século X. E isso de fato ocorreu.

Para Lutero, a decepção foi terrivel. Ele não conseguia ver na Cidade Eterna a presença viva da promessa de Cristo; percebia apenas os malefícios do magnetismo de Roma. Seu racionalismo terra-terra recusou-se a ver ali o lar de grandes homens de Deus no passado, como São Gregório Magno e São Nicolau. Ele enxergava somente a Roma de Tibério, Helioboros e Calígula. Concordo que rolavam grossas sacanagens, e gente barulhenta faz você xingar. Mas a chamar a casa da Noiva de “puttana”… Pera lá! Era papa nestes tempos Leão X.

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SANTA TERESINHA e sua irmã Celina, durante um passeio turístico, ajoelhadas na arena do Coliseu. Elas beijaram o solo e oraram para que suas vidas seguissem o exemplo dos mártires.

 

Que diferença do monge maluco para Santa Teresinha do Menino Jesus! Um abismo de lucidez e de caridade os separam. Aos 15 anos, a santa viajou para Roma com seu pai e sua irmã Celina, e nesta ocasião amargou também a sua dose de desilusão. Durante um mês, ela relata ter convivido com muitos “padres santos” de “sublime dignidade”, mas também entristeceu-se com a frouxidão moral e espiritual de alguns sacerdotes. Entretanto, em vez de esfriar o seu amor pela Igreja, isso aumentou ainda mais o seu desejo de entregar toda a vida para a santificação dos sacerdotes do Senhor, com orações e sacrifícios.

“Se padres santos (…) mostram em sua conduta que precisam extremamente de orações, o que dizer daqueles que são tíbios?”

“O que eu vinha fazer no Carmelo, declarei-o aos pés de Jesus-Hóstia, no exame que antecedeu minha profissão: ‘Vim para salvar as almas e sobretudo, rezar pelos sacerdotes’.”

(Santa Teresinha do Menino JesusHistória de uma alma)

De modo muito diverso da santa das rosas, Lutero não desejava lutar pela santificação dos membros da Igreja. Seu pensar occaniano entrou em ação mais uma vez. Salvem-se quem puder! O monge maluco buscou a solução mais fácil: tacou a navalha na cristandade. Esse processo não foi agudo como muitos pensam, mas gradativo, e culminou com os fatos ocorridos em Wittenberg tempos depois. A semente do mal estava germinando.

Estamos caminhando nessa direção e apresentando as cartas do jogo aos nossos leitores. Queremos, na medida do possível, levá-los conosco nesta viagem. Esperamos estar conseguindo.