Magistério da Igreja e a Tradição Apostolica

Magistério da Igreja e a Tradição Apostolica
 
São Paulo, escrevendo aos Tessalonicenses (2,15), alerta os cristãos sobre um importante assunto: “Portanto, irmãos, ficai firmes; guardai as tradições que vos ensinamos oralmente ou por escrito”.
 
 
O Senhor Jesus, repetidas vezes, disse aos apóstolos que, para recordar e completar seus ensinamentos, enviaria o Espírito Santo.
Após Pentecostes, com a vinda do Paráclito, começa a atividade missionária da Igreja, o anúncio de Jesus Cristo e, com ele, também têm início os escritos cristãos. O primeiro texto do Novo Testamento é a Primeira carta de São Paulo aos Tessalonicenses (do início da década de 50). Logo se seguiram outros, do próprio Paulo e de outros discípulos do Senhor. Ao lado desses escritos, começam a surgir os redigidos pelos Santos Padres, fruto da tradição oral e pelos quais foram cuidadosamente transmitidos os ensinamentos de Jesus. O Concílio Vaticano II na Constituição Dogmática “Dei Verbum”, sobre a Revelação Divina, assim se expressa: 
 
“Cristo Senhor (...) ordenou aos Apóstolos que o Evangelho (...) fosse por eles pregado a todos os homens como fonte de toda a verdade salvífica e disciplina de costumes comunicando- lhes dons divinos. E isto foi fielmente executado, tanto pelos Apóstolos que na pregação oral, exemplos e instituições, transmitiram aquelas coisas que receberam das palavras, da convivência e das obras de Cristo ou aprenderam das sugestões do Espírito Santo como também por aqueles Apóstolos e varões apostólicos que, sob a inspiração do mesmo Espírito Santo, puseram por escrito a mensagem da salvação. Mas, para que o Evangelho sempre se conservasse inalterado e vivo na Igreja, os Apóstolos deixaram como sucessores os Bispos, a eles transmitindo o seu próprio encargo do Magistério” (“Dei Verbum”, 7).
 
 
Desde a origem da Igreja, os Apóstolos manifestaram o cuidado na preservação dos ensinamentos de Jesus, em toda sua pureza e autenticidade. E assim agiram, pois, com o trigo, havia quem espalhasse o joio. Os livros sagrados que temos hoje são o resultado de um intenso trabalho para preservar das heresias a pureza doutrinária. O Santo Padre Bento XVI, na sua habitual alocução na quarta-feira, a 3 de maio de 2006, abordou o tema com o título “Tradição Apostólica”. São Paulo, afirma “não queria inventar um novo cristianismo, por assim dizer paulino”.
Tertuliano, escrevendo em torno do ano 200, revela o zelo da Igreja de então em preservar a autenticidade do seu ensino, frente à multiplicidade de outros ensinamentos, os chamados escritos apócrifos gnósticos: Os Apóstolos “no princípio afirmaram a fé em Jesus Cristo e estabeleceram igrejas para a Judéia; logo a seguir, espalhados pelo mundo, anunciaram a mesma doutrina e uma mesma fé às nações e, por conseguinte, fundaram igrejas em cada cidade. Depois, outras igrejas multiplicaram a ramificação de sua fé e as sementes da doutrina (...). Desta forma, também elas são consideradas apostólicas como descendência das Igrejas dos Apóstolos” (“De praescriptione haereticorum” ,20).
O Concílio Vaticano II mostra a Igreja de nossos dias, autêntica, a mesma de suas origens. Hoje “a Igreja, na sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo o que ela é, tudo o que professa” (Constituição “Dei Verbum”, 8). E o Santo Padre, em sua alocução, conclui:
 
 “A Igreja transmite tudo o que ela é e crê, transmite-o no culto, na vida, na doutrina. A Tradição é, portanto, o Evangelho vivo, anunciado pelos Apóstolos na sua integridade, com base na plenitude de sua experiência, única e irrepetível; pela sua ação a fé é comunicada aos outros, até nós, até o fim do mundo. Por conseguinte, a Tradição é a história do Espírito Santo que age na história da Igreja através da mediação dos Apóstolos e de seus sucessores, em fiel continuidade com a experiência das origens. Esta continua até hoje e continuará até o fim do mundo”.
 
 
A visão retrospectiva não exclui a presença de sombras, resultado do pecado. A Redenção não mudou nossa natureza, mas assegurou algo de extraordinário: “As portas do inferno não prevalecerão”. Esta presença do Espírito Santo, ao mesmo tempo em que condena os que pecam, assegura o perdão aos que se arrependem.
Quem tem fé e é obediente ao Espírito Santo, que dirige a Igreja conserva a tranqüilidade ao surgirem notícias que contrariam os ensinamentos dos Apóstolos, seus sucessores, bem como dos Santos Padres, que recolheram em seus escritos os ensinamentos da Igreja nos primeiros séculos da era cristã. Surgiram com abundância novas doutrinas, advindas de crenças do Oriente. Em conseqüência, os primeiros séculos foram marcados, por um zelo particular preservando a pureza doutrinária. Paulo escreveu aos Coríntios: “Transmito-vos o que eu próprio recebi” (1Cor 15,3). No fim da vida escreve a Timóteo: “Guarda, pelo Espírito Santo que habita em nós, o precioso dom que te foi conferido” (2Tm 1,14). As novidades que hoje aparecem, envolvendo o ensino, devem ser confrontada com o conteúdo da Palavra de Deus oral e escrita. A multiplicação de ataques à Igreja nos deve levar a uma maior vigilância. Na celebração da Santíssima Trindade, uma das leituras da Missa é um trecho do Evangelho de São Mateus no qual Jesus indicava um monte para os discípulos se reunirem. Antes de subir aos céus, Ele se aproxima e assim fala: “Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. Portanto, ide, fazei discípulos todos os povos, batizando-os (...) e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que estarei convosco todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28,16-28).
 
Assim o Papa Bento XVI concluiu sua alocução intitulada “A Tradição Apostólica”: “No rio vivo da Tradição, Cristo, não está distante dois mil anos, mas está realmente presente entre nós, e doa-nos a verdade e a luz que nos fazem viver e encontrar o caminho para o futuro”. 
 
 
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