9ª aula - OS STE DONS DO ESPÍRITO SANTO

9ª aula - OS STE DONS DO ESPÍRITO SANTO
 
OS STE DONS DO ESPÍRITO SANTO
9ª aula
 
    Desde o nosso Batismo, o Espirito Santo habita em nossa alma e produz aí os seus frutos e dons para nos conduzir ao amor de Deus e ao serviço dos irmãos. Eles nos ajudam a vencer o pecado e viver de acordo com as leis morais. 
   Os sete dons do Espírito Santo concedidos ao cristão são: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus.
    Para explicar os dons do Espírito Santo, D. Estêvão Bettencourt usa a seguinte comparação:
    “Para ilustrar o que são os dons, pode-se recorrer à imagem de um barco que navega: se for movido a remos, avança lenta e penosamente, com grande esforço para os remadores. Caso, porém, estes desdobrem as velas do barco para que capte os sopros dos ventos favoráveis, os remadores descansam e o barco progride em estilo novo segundo de velocidade “sobre-humana”. Ora, o barco movido ao sopro do vento que bate contra as velas, é imagem do cristão impelido pelo Espírito, segundo medidas divinas, para a meta da sua santificação.”
    “Com outras palavras podemos dizer que os dons do Espírito Santo podem ser comparados a faculdades novas ou “antenas” que nos permitem apreender moções do Espirito Santo em virtude das quais agimos segundo um estilo novo, certeiro, firme, sem hesitação alguma e com toda clarividência.” (Pergunte e Responderemos nº 237, Ano 1979, p. 365). Vamos citar adiante a explicação de cada um dos dons como está no artigo citado, com autorização do autor.
    Os dons do Espírito não são privilégios dos santos. Todos os cristãos os recebem no Batismo. Eles são indispensáveis à santificação do cristão mesmo na vida cotidiana, e não apenas para as grandes obras.
   O cristão pode permitir cada vez mais a ação do Espírito Santo em sua vida mediante os dons, se ele se dedica ao cultivo das virtudes, principalmente da caridade, e se torne mais e mais dócil às inspirações do Espírito Santo. Especialmente é importante viver o amor, porque Deus é amor.
    A Tradição da Igreja entendeu os sete dons do texto de Is 11,1-3 traduzido para o grego na versão dos LXX:
    “Brotará uma vara do tronco de Jessé, e um rebento germinará das suas raízes. E repousará sobre ele o Espírito do Senhor:
Conselho e Fortaleza, Ciência e Temor de Deus, Piedade...”
   O texto bíblico não pretende esgotar a realidade dos dons; eles são tantos quantos se fazem necessários para que o Espírito o cristão à perfeição definitiva. Os sete dons enumerados pelo texto dos LXX e pela Tradição são os principais. Vejamos como D. Estêvão os explica.
 
O dom da Ciência
 
A ciência humana perscruta o universo e seus fenômenos, procurando as causas imediatas destes e concatenando-as entre si para ter uma explicação mais ou menos clara da realidade.
Ora, o dom da ciência, embora não defina a natureza e as propriedades físicas ou químicas de cada criatura, faz que o cristão penetre na realidade deste mundo sob a luz de Deus; ver cada criatura como reflexo da sabedoria do Criador e como aceno ao Supremo Bem. 
    Mais: o dom da ciência leva o homem a compreender, de um lado, o vestígio de Deus que há em cada ser criado, e, de outro lado, a exiguidade ou insuficiência de cada qual. 
    Vestígio de Deus... São Francisco de Assis soube ouvir e proclamar o canto das criaturas ao Senhor. As flores, as aves, a água, o fogo, o sol... tudo lhe falava de Deus; tudo lhe era ocasião de contemplar e amar a Deus.
Exiguidade... Toda criatura, por mais bela que seja, é sempre limitada e insuficiente para o coração humano. Este foi feito para o bem infinito e só neste pode repousar. Percebendo isto após uma vida leviana, muitos homens e mulheres se converteram radicalmente a Deus. Tal foi o caso de São Francisco Borja (1572), que, ao contemplar o cadáver da rainha Isabel, exclamou: “Não voltarei a servir a um senhor que possa morrer!” Tal foi outrossim o caso de São Silvestre (1267)... Estes cometeram a “loucura” de tudo deixar a fim de possuir mais plenamente uma só coisa: o Reino de Deus ou a presença do próprio Deus.
    O dom da ciência ensina também a reconhecer melhor o significado do sofrimento e das humilhações; estes “contravalores”, no plano de Deus, têm o valor de escola que liberta e purifica o homem.  Configuram o cristão a Jesus Cristo, outorgando-lhe um penhor de participação na glória do próprio Senhor Jesus. Se não fora o sofrimento, muitos e muitos homens não sairiam de sua estatura anã e mesquinha, nunca atingiriam a plenitude do seu desenvolvimento espiritual.
 
O dom do entendimento ou inteligência 
 
    A palavra “inteligência” é, segundo alguns, derivada de intellegere = intuslegere, ler dentro, penetrar a fundo.
    Na ordem natural, entendemos (intellgimus) quando captamos o âmago de alguma realidade. Na linha da fé, paralelamente entender é penetrar, ler no íntimo das verdades reveladas por Deus, é ter a intuição do seu significado profundo. Pelo dom do entendimento, o cristão contempla com mais lucidez o mistério da Santíssima Trindade, o amor do Redentor para com os homens, o significado da Sagrada Eucaristia na vida cristã...
    A penetração outorgada pelo dom da inteligência (ou do entendimento) difere daquela que o teólogo obtém mediante o estudo; esta é relativamente penosa e lenta além do que, pode ser alcançada por quem tenha acume intelectual, mesmo que não possua grande amor. Ao contrário, o dom da inteligência é eficaz mesmo sem estudo; é dado aos pequeninos e ignorantes, desde que tenham grande amor a Deus.
    Para ilustrá-lo, conta-se que um irmão leigo franciscano disse certa vez a São Boaventura (1274), o Doutor Seráfico: “Felizes vós, homens doutos, que podeis amar a Deus muito mais do que nós, os ignorantes!” Respondeu-lhe Boaventura: “Não é a doutrina alcançada nos livros que mede o amor; uma pobre velha ignorante pode amar a Deus mais do que um grande teólogo se estiver unida a Deus”. O irmão compreendeu a lição e sal gritando pelas ruas: “Velhinha ignorante, você pode amar a Deus mais do que o mestre Frei Boaventura!”.
    O irmão dizia a verdade. Na ordem natural, é compreensível que o amor brote do conhecimento. Na ordem sobrenatural, pode acontecer o inverso: é o amor que abre os olhos do conhecimento. Os que mais amam a Deus, são os que mais profundamente dissertam sobre Ele.
    Como frutos do dom do entendimento, podemos enunciar as intuições das verdades da fé que são concedidas a muitos cristãos durante os seu retiro espiritual ou no decurso de uma leitura inspirada pelo amor a Deus. O “renascer da água e do Espírito”, a imagem da videira e dos ramos, o “seguir a Cristo”... tornam então clareza nova, apta a transformar a vida do cristão.
    O dom do entendimento manifesta também o horror do pecado e a vastidão da miséria humana. Por mais paradoxal que pareça, é preciso observar que os santos, quanto mais se aproximaram de Deus (ou quanto mais foram santos), mais tiveram consiência do seu pecado ou da sua distância daquele que é três vezes santo.
    Em sua, o dom do entendimento faz ver melhor a santidade de Deus, a infinidade do seu amor, o significado dos seus apelos e também... a pobreza, não raro mesquinha, da criatura que se compraz em si mesma em vez de aderir corajosamente ao Criador.
 
O dom da Sabedoria
 
    A palavra sabedoria vem de saber, derivado do verbo latino sapere, que significa “ter gosto de...” – O vocábulo português sabor se origina do latino sapor que é da mesma raiz que sapere.
    Na ordem natural do conhecimento, a inteligência humana não se contenta com noções isoladas, mas procura reunir suas concepções numa síntese sistemática, de modo a concatena-las numa visão harmoniosa. A mente humana procura atingir os primeiros princípios e as causas supremas de toda a realidade que ela conhece.
    Ora, a mesma sistematização harmoniosa ocorre também na ordem sobrenatural. O dom da ciência e do entendimento já proporcionam uma penetração profunda no significado de cada criatura e de cada verdade revelada respectivamente; oferece também uma certa síntese dos objetos contemplados, relacionando-os com o Supremo Senhor, que é Deus. Todavia o dom que, por excelência, efetua essa síntese harmoniosa e unitária, é o da sabedoria. Esta abrange todos os conhecimentos do cristão e os põe diretamente sob a luz de Deus, mostrando a grandeza do plano do Criador e a insondabilidade da vida daquele que é o Alfa e o Ômega de toda criação.
    Mais: o dom da sabedoria não realiza a síntese dos conhecimentos da fé em termos meramente intelectuais. Ele oferece um conhecimento sabido ou saboroso da verdade... Saboroso ou delicioso, porque se deriva da experiência do próprio Deus feita pelo cristão ou da afinidade que o cristão adquire com o Senhor pelo fato de mais a mais amar a Deus. Uma comparação ajudará a compreender tal proposição: para conhecer o sabor de uma laranja, posso consultar, intelectual e cientificamente, os tratados de Botânica; terei assim uma noção aproximada do que seja esse sabor. Mas a melhor via para aproximar do que seja esse sabor, para conseguir o objetivo será, sem dúvida, a experiência da própria laranja que se faz pelo paladar. Os resultados do estudo meramente intelectual são frios e abstratos, ao passo que as vantagens da experiência são concretas e saborosas.
    Ora, na verdade, os dons da ciência e do entendimento fazem-nos conhecer principalmente por via de amor ou de afinidade com Deus. Todavia é o dom da sabedoria que, por excelência resulta dessa conaturalidade ou familiaridade com o Senhor. Ele se exerce a proporção da íntima união que o cristão tenha com o Senhor Deus. “O dom da sabedoria faz-nos ver com os olhos do Bem-amado”, dizia um grande místico; a partir  da excelsa atalaia que é o próprio Deus, contemplamos todas as coisas quando usamos o dom da sabedoria.
    Estas verdades dão a ver quanto nesta vida importa o amor de Deus. É este que propicia o conhecimento o conhecimento mais perspicaz e saboroso do mesmo Deus (o que não quer dizer que se possa menosprezar o estudo, pois, se o Criador nos deu a inteligência, foi para que a apliquemos à verdade por excelência, que é Deus). Aliás, observam muito a propósito os teólogos: veremos a Deus face-a-face por toda a eternidade na proporção do amor com que o tivermos amado nesta vida. O grau do nosso amor, na hora da morte, será o grau da nossa visão de Deus na vida eterna ou por todo o sempre. É por isso que se diz que o amor é o vínculo ou o remate da perfeição (cf. Cl 3,14). “No ocaso de sua vida, cada um de nós será julgado na base do amor”, diz São João da Cruz.
 
O dom do Conselho
 
    Afirmam os teólogos que Deus não deixa faltar às suas criaturas o que lhes é necessário, nem é propenso a dons supérfluos, pois Deus tudo faz com número, peso e medida (cf. Sb 11,20). Em tudo resplandece a sua sabedoria. Por isto é que Deus é providente, ou seja, Ele providencia os meios para que cada criatura chegue retamente ao seu fim devido.
    Ora, acontece que, para realizarmos determinada atividade, exercemos um processo mental que tem por objetivo examinar cuidadosamente não só a convivência dessa atividade, mas também todas as circunstâncias em que ela se deve desenrolar. Muitas vezes esse processo se efetua sem que ele tomemos plena consiência. Quando, porém, nos vemos diante de uma tarefa rara ou mais exigente do que as de rotina, o processo deliberativo é mais intenso e, por isto, se torna mais consciente; a mente se esforça por ver claro e fazer a opção mais adequada, sem que, porém, o consiga de imediato. Não raro é necessário recorrer ao conselho de outra pessoa mais experimentada.
    É por efeito da virtude (natural e infusa) da prudência, que cada cristão delibera sobre o que deve e não deve fazer. É a prudência que avalia os meios em vista do respectivo fim.
    Pois bem. Em correspondência à virtude da prudência, existe um dom do Espirito Santo, chamado “dom do conselho”. Este permite ao cristão tomar as decisões oportunas sem a fadiga e a insegurança que muitas vezes caracterizam as deliberações da virtude da prudência. Esta por si não basta para que o cristão se comporte à altura da sua vocação de filho de Deus... vocação que exige simultaneamente grande cautela ou circunspecção e extrema audácia ou coragem. A criatura, limitada como é, nem sempre consegue conhecer adequadamente o momento presente, menos ainda é apta a prever o futuro e, ainda, sente dificuldade em aplicar os conhecimentos do passado à compreensão do presente e ao planejamento do futuro. É preciso, pois, que o Espírito Santo, em seu divino estilo, lhe inspire a reta maneira de agir no momento oportuno e exatamente nos termos devidos.
    Assim o dom do conselho aparece como um regente de orquestra que coordena divinamente todas as faculdades do cristão e as incita a uma atividade harmoniosa e equilibrada. Imagine-se com que circunspecção (cautela e audácia) um maestro rege os múltiplos instrumentos de sua orquestra: assinala a cada qual o momento precioso em que deve entrar e os matizes que deve dar à sua melodia. Assim faz o Espírito mediante o dom do conselho em cada cristão.
    Diz a Escritura que há tempo exato para cada atividade; fora desse momento preciso, o que é oportuno pode tornar-se inoportuno. Ora, nem sempre é fácil discernir se é oportuno falar ou calar, ficar ou partir, dizer sim ou dizer não. Nem as pessoas prudentes após muito refletir, conseguem definir com segurança o que convém fazer. Ora, é precisamente para superar tal dificuldade que o Espírito move o cristão mediante o dom do conselho. Eis o texto de Ecl 3,1-8:
 
“Todas as coisas têm o seu tempo, e tudo o que existe debaixo dos céus tem a sua hora. Há tempo para nascer, e tempo para morrer. Tempo para plantar, tempo para arrancar o que se plantou. Tempo para matar, e tempo para dar vida. Tempo para destruir, e tempo para edificar. Tempo para chorar, e tempo para rir. Tempo para se afligir, e tempo para dançar. Tempo para espalhar pedras, e tempo para as ajuntar. Tempo para dar abraços, e tempo para se afastar deles. Tempo para adquirir, e tempo para perder.
Tempo para guardar, e tempo para atirar fora. Tempo para rasgar, e tempo para coser. Tempo para calar, e tempo para falar. Tempo para amar, e tempo para odiar. Tempo para a guerra, e tempo para a paz.”
 
O dom da Piedade
 
    Todo homem é chamado a viver em sociedade, relacionando-se com Deus e com os seus semelhantes. Requer-se que esse relacionamento seja reto ou justo. Por isso a virtude da justiça rege as relações de cada ser humano, assumindo diversos nomes de acordo com o tipo de relacionamento que ela deve orientar: é justiça propriamente dita, sempre que nos relacionamos com aqueles a quem temos uma dívida rigorosa; a justiça se torna religião desde que nos voltemos para Deus; é piedade, se nos relacionamos com nossos pais, nossa família ou nossa pátria; é gratidão, em relação aos benfeitores.
    Ora, há um dom do Espírito que orienta divinamente todas as relações que temos com Deus e com o próximo, tornando-as mais profundas e mais perfeitas: é perfeitamente o dom da piedade. São Paulo implicitamente alude a este dom quando escreve: “Recebestes o espírito de adoção filial, pelo qual bradamos: “Abbá” ó Pai” (Rm8,15). O Espírito Santo, mediante o dom da piedade, nos faz, como filhos adotivos, reconhecer Deus como Pai.
    E, pelo fato de reconhecermos Deus como Pai, consideramos as criaturas com olhar novo, inspirados pelo mesmo dom da piedade.
    Examinemos de mais perto os efeitos do dom da piedade.
    Frente a Deus ele nos leva a superar as relações de “dar e receber” que caracterizam a religiosidade natural; leva a não considerar tanto os benefícios recebidos da parte de Deus, mas, muito mais, o fato de que Deus é sumamente santo e sábio:
    “Nós vos damos graças por vossa grande glória”, diz a Igreja no hino da Liturgia Eucarística; é, sim, próprio de um filho olhar a honra e a glória de seu pai, sem levar em conta os benefícios  que ele possa receber do mesmo. É o dom da piedade que leva os santos a desejar, acima de tudo, a honra e a glória de Deus “... para que em tudo seja Deus glorificado”, diz São Bento, ao passo que São Inácio de Loiola exclama: “... para a maior glória de Deus”. É também o dom da piedade que desperta no cristão viva e inabalável confiança em Deus Pai... confiança e entrega das quais dá testemunho Santa Teresinha de Liseux na sua doutrina sobre a infância espiritual.
    O dom da piedade não incita os cristãos apenas cumprir seus deveres para com Deus de maneira filiar, mas leva-os também a experimentar interesse fraterno para com todos os seus semelhantes. Típico exemplo deste sentimento encontra-se na vida de São Francisco de Assis: quando este, certo dia, sonhando com as glórias de um cavaleiro medieval, avistou um leproso, sentiu-se impelido a superar qualquer repugnância e a dar-lhe o ósculo que exprimia a fraternidade de todos os homens entre si.
    O dom da piedade, tornando o cristão consciente de sua inserção na família dos filhos de Deus, move-o a ultrapassar as categorias do direito e do dever, a fim de testemunhar uma generosidade que não regateia nem mede esforços desde que sirva aos irmãos. É o que manifesta o Apóstolo ao escrever: “Quanto a mim, de bom grado me despenderei, e me despenderei todo inteiro, em vosso favor” (2 Cor 12,15). 
 
O dom da Fortaleza
 
    A fidelidade à vocação cristã depara-se com obstáculos numerosos, do seu íntimo ou das suas paixões. Por isto que diz o Senhor que “o Reino dos céus sofre violência dos que querem entrar, e violentos se apoderam dele” (Mt 11,12).
    Ora, em vista da necessidade de coragem e magnanimidade que incumbe ao cristão, o Espírito lhe dá o dom da fortaleza. Este nem sempre consiste em realizar façanhas vultuosas e admiradas pelo público, mas não raro implica paciência, perseverança, tenacidade, magnanimidade silenciosas... Pelo dom da fortaleza, o Espírito impele o cristão não apenas àquilo que as forças humanas podem alcançar, mas também àquilo que a força de Deus atinge. É essa força de Deus que pode transformar os obstáculos em meios é ela que assegura tranquilidade e paz mesmo nas horas mais tormentosas. Foi ela que inspirou São Francisco de Assis palavras tão significativas quanto estas: “Irmão Leão, a perfeita alegria consiste em padecer por Cristo, que tanto quis padecer por nós”.
 
O dom do Temor de Deus
 
    Para entender o significado deste dom, distingamos diversos tipos de temor: a) o temor covarde ou da covardia; b) o temor servil ou do castigo; c) o temor filial. Este consiste na repugnância que o cristão experimenta diante de expectativa de poder-se afastar de Deus; brota das próprias  entranhas do amor. Não se concebe o amor sem este tipo de temor.
    Com outras palavras: as virtudes afastam, sim, o cristão do pecado, ajudando-o a vencer as tentações. Isto, porém, acontece através de lutas, hesitações e, não raro, deficiências. Ora, pelo dom do temor de Deus a vitória é rápida e perfeita, pois então é o Espírito que move o cristão a dizer não à tentação.
    O dom do temor de Deus se prende inseparavelmente à virtude da humildade. Esta nos faz conhecer nossa miséria; impede a presunção e a vã glória, e assim nos torna conscientes de que podemos ofender a Deus; daí surge o santo temor de Deus. O mesmo dom também se lida à virtude da temperança;  esta modera a concupiscência e os impulsos desordenados do coração; com ela converge o temor de Deus, que, por impulso de ordem superior, modera os apetites que poderiam ofender a Deus.
    Os santos deram provas sensíveis de santo temor de Deus. Tenha-se em vista São Luís de Gonzaga, que, conforme se narra, derramou copiosas lágrimas certa vez quando teve que confessar suas faltas... faltas que, na verdade, dificilmente poderiam ser tidas como pecados. Para o santo, essas pequeninas faltas eram sinais do perigo de poder um dia afastar-se de Deus. Ora, para quem ama, qualquer perigo deste tipo tem importância.
    Eis, em grandes linhas, o significado dos dons do Espírito Santo na vida cristã. São elementos valiosos para o progresso interior, elementos que o Espírito mais e mais utilizam, se o cristão procura amar realmente a Deus e ao próximo e jamais dizer um não consciente às inspirações de graça.
 
 
 
 

Tópico: A Moral Católica

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