8ª aula - A MAORAL E AS VIRTUDES
A MAORAL E AS VIRTUDES
8ª aula
A virtude é uma vontade constante de fazer bem; por isso faz parte da moral.
As virtudes infusas são aquelas que não são adquiridas pelo homem, mas lhe são dadas por Deus, para agir corretamente e se comporte como filho de Deus, elevado à ordem sobrenatural. Ao renascer como filho de Deus pelo Batismo, todo homem recebe essas virtudes infusas. Destas, três se orientam diretamente para Deus (a fé, a esperança e a caridade) e quatro se orientam para uso correto dos bens deste mundo (prudência, justiça, temperança, fortaleza).
As virtudes humanas são as disposições permanentes da inteligência e da vontade que dirigem os nossos atos, comandando as nossas paixões e guiando-nos segundo a razão e a fé. A Igreja as agrupa em quatro virtudes cardeais: a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança. Vivendo essas virtudes, estaremos vivendo as leis morais verdadeiras.
- A prudência leva-nos a discernir na prática, em qualquer circunstância, nosso verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para realizá-lo, não aceitando que os fins justifiquem os meios, e nem aceitando usar meios maus para chegar a fins bons.
- A justiça consiste na vontade e firme de dar a Deus o que é de Deus e ao próximo o que lhe é devido.
- A fortaleza garante, nas dificuldades, a firmeza e a constância na busca do bem, vencendo as provações da vida cristã.
- A temperança vence a atração dos prazeres sensíveis e procura o equilíbrio no uso dos bens criados, não se entregando à gula, à luxúria, à vanglória, etc.
- As virtudes morais crescem pela educação, pelos atos bons realizados com liberdade e pela perseverança no esforço. A graça divina coopera conosco e nos purifica e o eleva.
- As virtudes teologais são aquelas que nos dispõem a viver em relação coma Santíssima Trindade, por isso são chamadas de teologias. Deus é a sua origem, e objeto. Elas nos levam a conhecer a Deus pela fé, o esperamos e o amamos por causa de si mesmo, sem qualquer outra intenção. As virtudes teologais são a fé, a esperança e a caridade (cf. 1Cor 13,13).
- Pela fé, nós cremos em Deus e em tudo o que Ele nos revelou e que a Santa Igreja nos propõe para crê.
- Pela esperança, desejamos e guardamos de Deus, com firme e confiança, a vida eterna e as graças para merecê-la.
- Pela caridade, amamos a Deus sobre todas as coisas e a nosso próximo como a nós mesmos por amor a Deus. São Paulo ensinou que ela é o “vinculo da perfeição” (Cl 3,14) e a forma de todas as virtudes. A Igreja sempre nos ensinou a rezar pedindo essas virtudes. Essas três pequenas orações são muito antigas e profundas:
Ato de fé
Eu creio e firmemente que há um só Deus, em três Pessoas realmente distintas, Pai, Filho e Espírito Santo. Creio que o Filho de Deus se fez homem, padeceu e morreu na cruz para nos salvar e ao terceiro dia ressuscitou. Creio em tudo mais que crê e ensina a Santa Igreja Católica, porque Deus, Verdade infalível, o revelou. Nesta crença quero viver e morrer.
Ato de esperança
Eu espero, meu Deus, com firme confiança, que, pelos merecimentos de nosso Senhor Jesus Cristo, me dareis a salvação eterna e as graças necessárias para consegui-la, porque Vós, sumamente bom e poderoso, o haveis prometido a quem observar o Evangelho de Jesus, como eu proponho fazer com o vosso auxílio.
Ato de caridade
Eu Vos amo, meu Deus, de todo o meu coração e sobre todas as coisas, porque sois infinitamente bom e amável, e antes quero perder tudo do que Vos ofender. Por amor de Vós amo ao meu próximo como a mim mesmo.
A base da moral: a dignidade da pessoa
A Igreja ensina que: “A pessoa humana é e deve ser o princípio, sujeito e fim de todas as instruções sociais.” (GS 25,1). E incentiva uma ampla participação em associações e instituições de livre escolha.
A dignidade da pessoa humana está, sobre tudo na sua liberdade; por isso diz o nosso Catecismo que: “Segundo o princípio de subsidiariedade, nem o Estado nem qualquer outra sociedade mais ampla deve substituir a iniciativa e a responsabilidade das pessoas e dos órgãos intermediários” (Cat. §1894).
O Papa João Paulo II costumava dizer que o Reino de Deus é feito de amor, paz, justiça, verdade e liberdade. Não adianta dar apenas um dos componentes à pessoa. A sociedade deve favorecer o exercício das virtudes, e não pôr-lhe obstáculos, como vemos muitas vezes. Não adianta dar ao homem o pão se lhe tiramos a liberdade.
Assim faz o comunismo.
Sobre a questão social a Igreja ensina que o pecado perverte o clima social, por isso é preciso apelar à conversão dos corações e à graça de Deus. A caridade exige da sociedade reformas justas para o bem comum; mas não existe solução da questão social fora do Evangelho (cf. CA 5: AAS 83 (1991) 800).
O Bem Comum
A Igreja possui uma doutrina social, muito bem elaborada a partir do século XIX, com Leão XIII, e aperfeiçoada pelos Papas subsequentes, em várias encíclicas de cunho social. A justiça social visa o bem de todos. Esse bem comum compreende “o conjunto daquelas condições da vida social que permitem aos grupos e a cada um de seus membros atingirem de maneira mais completa a própria perfeição” (GS 26,1).
O Catecismo da Igreja ensina sobre isto que:
“O bem comum comporta três elementos essenciais: o respeito e promoção dos direitos fundamentais ad pessoa; a prosperidade ou o desenvolvimento dos bens espirituais e temporais da sociedade; a paz e a segurança do grupo e de seus membros. A dignidade da pessoa humana implica a procura do bem comum. Cada pessoa deve preocupar-se e suscitar e conservar as instituições que aprimoram as condições da vida humana.” (Cat. §1925-26)
“O respeito pela pessoa humana considera o outro como um “outro eu mesmo”. Supõe o respeito pelos direitos fundamentais que decorrem da dignidade intrínseca da pessoa.
As diferenças entre as pessoas pertencem ao plano de Deus, o qual quer que todos nós tenhamos necessidade uns dos outros. Essas diferenças devem estimular a caridade.
A dignidade igual das pessoas humanas exige o esforço para reduzir as desigualdades sociais e econômicas excessivas e leva ao desaparecimento das desigualdades iníquas.
A solidariedade é uma virtude eminente cristã que pratica a partilha dos bens espirituais mais ainda que dos materiais.” (Cat. §1944-48)
Os Papas têm clamado ao mundo globalizado que promova a mais importante das globalizações, a da solidariedade, expressão de uma humanidade que é uma família de irmãos, filhos do mesmo Pai.
A graça de Deus na vida cristã
O cristão vive sustentado pela graça santificante e pela graça atual.
A graça santificante é recebida no Batismo e nos dirige para a vida eterna; é a “participação da natureza divina” (2Pd 1,4). Se ela for perdida pelo pecado mortal, pode ser recuperada pelo Sacramento da Confissão. Por meio dela o Espírito Santo santifica a alma. Ela nos torna filhos adotivos de Deus, herdeiros do reino dos céus e co-herdeiros com Cristo. Ela traz em si as virtudes infusas, especialmente a caridade. (cf. Rm 5,5). Ela nos faz o templo vivo da Santíssima Trindade (cf. 2Cor 6,16).
A graça santificante é a maior riqueza do cristão, mas alerta São Paulo: “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro” (2 Cor 4,7)) e daí a necessidade do temor de perder a Deus, não se expondo nunca ao pecado. Pela graça santificante o cristão contempla a Deus dentro de si e ouve seus apelos (Rm 8,26), sente o aroma da virtude, tem fome da santidade e da justiça.
A graça atual é um auxílio sobrenatural e transitório concedido por Deus para aclarar a inteligência e fortificar a vontade na realização de atos sobrenaturais. Este auxílio divino ilumina a inteligência sobre a malícia do pecado e suas terríveis consequências. Auxilia o cristão na luta diária contra a tentação e o pecado, e o faz perceber que os preceitos de Deus são, de fato, o caminho da felicidade. Ela nos ajuda a procurar o bem e a evitar o mal.
A graça atual é necessária para toda ação sobrenatural. Jesus foi claro:
“Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). É pela graça atual que conseguimos perseverar na fé até a morte. Para que Deus nos conceda sua graça devemos fugir das ocasiões do pecado, pois, “quem ama o perigo nele perecerá” (Ecl 3,27).
O cristão obtém as graças atuais pela oração, e por ela consegue cumprir suas obrigações. Sem a graça atual é impossível ser fiel a Deus. É preciso também uma disposição permanente para corresponder à graça, pois isto torna o cristão mais apto a receber novas graças. São Paulo viveu esta disposição e pôde dizer: “Não recebi a graça de Deus em vão” (1 Cor 15,10). É preciso cooperar com a graça de Deus, fazendo a nossa parte.
O Catecismo ensina que:
“A iniciativa divina na obra da graça precede, prepara suscita a livre resposta do homem. A graça responde às aspirações profundas da liberdade humana; chama-a cooperar consigo e a perfeiçoa.
A graça santificante é o dom gratuito que Deus nos faz de sua vida, infundida pelo Espírito Santo em nossa alma, para curá-la do pecado e santificá-la.
A graça santificante nos faz “agradáveis a Deus”. Os carismas, graças especiais do Espírito Santo, são ordenados à graça santificante e têm como alvo o bem comum da Igreja. Deus opera também por graças atuais múltiplas, que se distinguem da graça habitual, permanente em nós.
A graça do Espírito Santo, em virtude de nossa filiação adotiva, pode conferir-nos um verdadeiro mérito segundo a justiça gratuita de Deus. A caridade constitui, em nós, a fonte principal do mérito diante de Deus.
Ninguém pode merecer a graça primeira que se acha na origem da conversão. Sob a moção do Espírito Santo, podemos merecer, para nós mesmos e para outros, todas as graças úteis para chegar a vida eterna, como também os bens temporais necessários.” (Cat. §1920-27)
“O apelo à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade se dirige a todos os fiéis cristãos.” (LG 40)
São Gregório de Nissa ensinava que: “A perfeição cristã só tem um limite: ser ilimitada” (V. Mos: PG 44,300D).
Tópico: A Moral Católica
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