6. Os sacramentos da iniciação cristã

6. Os sacramentos da iniciação cristã
A Igreja chama de “sacramentos da iniciação cristã” o Batismo, a Confirmação e a Eucaristia. Nesta aula, Padre Paulo Ricardo fala sobre eles e, de modo especial, do Batismo, porta de entrada para todos os outros.
 
A Igreja Católica traz em si mesma diversas tradições litúrgicas, separadas em duas grandes "famílias": a Oriental (gregos) e a Ocidental (latinos).
 
A liturgia latina possui diversos ritos: ambrosiano, moçarábico, cartuxos, etc. Aos poucos, tais ritos tomaram a direção do rito romano, pois ele exerceu uma influência muito grande na maneira de se celebrar. Desta forma, pode-se dizer que a maioria das pessoas no Brasil são católicos "romanos".
 
Embora exista diversidade de ritos, todos eles seguem o mesmo esquema, o que denota que há uma estrutura oriunda da tradição apostólica, dos primeiros padres da Igreja.
 
Liturgia não se faz, se recebe. E uma das grandes queixas com relação à reforma litúrgica do Concílio Vaticano II é de que justamente foi criada uma mentalidade em que as pessoas devem "fazer" a liturgia. Nada mais errôneo. Diz o Catecismo:
 
As diversas tradições litúrgicas (ou ritos), legitimamente reconhecidas por significarem e comunicarem o mesmo mistério de Cristo, manifestam a catolicidade da Igreja.
 
O critério que garante a unidade na pluralidade das tradições litúrgicas é a fidelidade à Tradição apostólica, isto é, a comunhão na fé e nos sacramentos recebidos dos apóstolos, comunhão significada e assegurada pela sucessão apostólica. (1208, 1209)
Tal mentalidade deve, portanto, ser combatida.
 
O Catecismo continua com o início da Segunda Seção, em que tratará dos sacramentos propriamente ditos. O Capítulo Primeiro introduz os chamados "sacramentos da iniciação cristã": Batismo, Crisma e Eucaristia. São eles que lançam os "fundamentos de toda vida cristã", que é a participação na vida divina. Nascer (Batismo), alimentar-se (Eucaristia) e crescer (Crisma). (1212)
 
O Batismo, enquanto tal, é chamado de " vitae spiritualis ianua", ou seja, a porta da vida no Espírito e que abre o acesso aos demais sacramentos. Por ele, os homens são "libertados do pecado e regenerados como filhos de Deus e feitos participantes de sua missão". Sem o Batismo a pessoa não ingressa na economia sacramental. Todos os outros sacramentos dependem desse primeiro. (1213)
 
O antigo Catecismo Romano ensina que "o Batismo é o sacramento da regeneração pela água na Palavra", isso significa que, para haver o Batismo, é preciso ter água, a Palavra ("eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo) e a intenção da Igreja.
 
A palavra Batismo é originária do grego (" baptízein") que significa "mergulhar". Portanto, "o mergulho na água simboliza o sepultamento do catecúmeno na morte de Cristo, da qual Ele ressuscita como nova criatura", ensina o Catecismo. Diante disso, uma questão se levanta: por que a Igreja não faz o Batismo com o mergulho? Sim, ela faz, pode fazer. Mas, entende que desde o início o mergulho pode significar também um banho regenerador. No dia de Pentecostes milhares de pessoas foram batizadas, no entanto, em Jerusalém não há rio. Como elas foram batizadas? Com a água disponível. (1214 e 1215)
 
O Batismo é chamado igualmente de iluminação, pois, segundo Justino o Mártir, citado pelo Catecismo, "aqueles que recebem este ensinamento [catequético] têm o espírito iluminado…". No entanto, diversas vezes no Novo Testamento aparecem referências aos batizados como sendo "iluminados".
 
Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu o Batismo como sacramento, porém, ele possui uma história anterior, chamada prefiguração, pois Deus preparou seu povo para ele através de figuras. A primeira é a figura da Antiga Aliança, quando na noite de Páscoa, "a Igreja faz solenemente memória dos grandes acontecimentos da história da salvação que já prefiguravam o mistério do Batismo". A passagem pelo Mar Vermelho, quando o povo saiu da escravidão do Faraó e passou para a liberdade de filhos de Deus. Para entrar na Terra Prometida, os judeus passaram duas vezes pela água: uma simbolizando a morte, a do Mar Vermelho, e outra simbolizando a entrada na Terra Prometida, a do Rio Jordão. Assim, a história da salvação é permeada pela presença da água. Ela é também considerada salvadora, conforme se vê primeiramente no episódio em que Noé escapou com sua família. Entre outros exemplos que nos fornece o Catecismo. (1218-1222)
 
Nosso Senhor Jesus Cristo não precisava ser batizado, mas foi. Ele "submeteu-se ao Batismo de S. João, destinado aos pecadores, para cumprir toda a justiça". No Batismo de Jesus "todas as prefigurações da antiga aliança encontram sua realização". No entanto, o Batismo enquanto "sacramento" somente passou a existir após a Sua Paixão. (1223-1224) Ensina o Catecismo:
 
Com efeito, já tinha falado da paixão que iria sofrer em Jerusalém como de um "batismo" com o qual devia ser batizado. O sangue e a água que escorreram do lado traspassado de Jesus Cristo crucificado são tipos do Batismo e da Eucaristia, sacramentos da vida nova: desde então é possível nascer da água e do Espírito para entrar no Reino de Deus. (1225)
O Batismo só começou a ser administrado na Igreja no dia de Pentecostes. O derramamento do Espírito Santo possibilitou que as graças que Cristo alcançou na Cruz fossem espalhadas pela Igreja (At 2,38). Deste modo, é preciso o Batismo para que a pessoa receba o Espírito Santo, as Sagradas Escrituras assim o atesta. (1226-1227).
 
Infelizmente, a maioria das igrejas pentecostais presentes no Brasil nega a eficácia do Batismo. Por estarem inseridas na heresia protestante, não aceitam a efetividade da economia sacramental. Não creem que o Batismo produza algo de extraordinário. Para eles, é uma questão somente pedagógica, apenas uma tomada de consciência. Não. Pelo Batismo a pessoa se torna Filho de Deus. Antes não o era. Simples assim. Todavia, até mesmo sacerdotes estão se deixando levar pela protestantização do pensamento acerca do Batismo.
 
A filiação divina tem vários níveis, segundo Santo Tomás de Aquino. Para ele, filho de Deus é tão somente Jesus Cristo, pois possui natureza divina. Abaixo estão os santos na glória do Céu, vendo Deus face a face, participam da natureza divina de uma forma extraordinária que podem ser considerados filhos de Deus por adoção e pela ação da glória de Deus neles. Num nível inferior, tem-se o santo aqui na Terra. Aquele que se configurou a Cristo nesta vida, carregando sua cruz, é perfeito como o Pai Celeste é perfeito, que alcançou a perfeição neste mundo, possui uma filiação divina. Por fim, os batizados também são filhos adotivos de Deus pela ação da graça sacramental, que os tornam "Corpo de Cristo".
 
Santo Tomás admite, contudo, que em todo ser humano existe a imagem e semelhança de Deus e por isso, embora corrompida pelo pecado original, todo homem teria a capacidade de ser chamado de filho de Deus de uma maneira que, mesmo não tendo a mesma consistência de um batizado, ainda assim seria válida. Finalmente, ele diz que todas as criaturas podem ser filhos de Deus, pois as Suas pegadas estão em toda a criação.
 
A (de)gradação dos filhos de Deus é bastante clara. O que não se deve é falar que a dignidade de um batizado é igual a de um ser humano filho de Deus por ser imagem e semelhança. Esta não é a linguagem tradicional da Igreja, na qual o pagão é criatura imagem e semelhança de Deus e, por isso, possui "algo" de filiação. Já o batizado o é por um título mais importante e especial, pois está inserido no corpo de Cristo, que é a Igreja.
 
Portanto, no Batismo existe a morte de um sujeito (aquele que está sendo batizado) e a ressurreição (de Cristo no homem). Trata-se de algo extraordinário. Mas, como é que se deve celebrar esse sacramento? O Catecismo dedica o item III desse artigo a explicar. Em primeiro lugar, fala da "iniciação cristã" e, em seguida, da "mistagogia da celebração".
 
Atualmente existem dois rituais básicos de celebração do Batismo: o de crianças e o de adultos. Na Igreja, originalmente, era mais comum o rito dos adultos, visto que a Igreja estava começando, mas desde lá as crianças já eram batizadas, às vezes, famílias inteiras se convertiam.
 
Tornar-se cristão, eis algo que se realiza desde o tempo dos apóstolos por um itinerário e uma iniciação que passa por várias etapas. Este itinerário pode ser percorrido com rapidez ou lentamente. Deverá sempre comportar alguns elementos essenciais: o anúncio da Palavra, o acolhimento do Evangelho acarretando uma conversão, a profissão de fé, o Batismo, a efusão do Espírito Santo, o acesso à Comunhão Eucarística. (1229)
Esses são os passos normais para uma pessoa adentrar ao Corpo de Cristo e que está descrito no Ritual de Iniciação cristã de Adultos. No entando, batizam-se também as crianças. Por um desenvolvimento específico do Ocidente o sacramento do Crisma ficou reservado para os Bispos, por isso, a ordem dos sacramentos iniciais é diferente: Batismo e Eucaristia, e só depois o Crisma, quando o Bispo passasse naquela comunidade.
 
No início da Igreja houve uma tendência de se seguir a ordem inicial, que era precedida de um catecumenato. Porém, pelo fato de se batizar também as crianças outra tendência surgiu: a do catecumenato pós-batismal. "Não se trata somente da necessidade de uma instrução posterior ao Batismo, mas do desabrochar necessário da graça batismal no crescimento da pessoa. É o lugar próprio do catecismo." (1231)
 
Com o advento do Concílio Vaticano II houve um reforço no catecumenato dos adultos, pois foi admitido que "em terras de missão estes outros elementos de iniciação cristã, cuja prática constatamos em cada povo, na medida em que possam ser adaptados ao rito cristão." (1232)
 
O ideal seria para o catecumenato dos adultos que os três sacramentos fossem recebidos na Vigília Pascal, como se celebrava no primeiro milênio. Para isso, o Código de Direito Canônico incentiva a que os Bispos concedam aos presbíteros a autorização para a Confirmação na noite de Páscoa.
 
Além disso, alguns sinais ajudam a perceber a grandeza do sacramento. É a chamada "mistagogia". São eles: o sinal da cruz, o anúncio da Palavra da Deus, os exorcismos (ou escrutínios), a bênção da água do batismo, o rito essencial do Batismo, unção com o óleo do crisma, a veste branca, a luz da vela, a recitação do Pai Nosso, a primeira comunhão e a bênção solene. É de muita importância que os catequistas leiam as instruções detalhadas do Catecismo para que possam explicar aos catecúmenos o que cada um dos símbolos significam dentro do ritual do Batismo.