6. O Cristianismo é um acontecimento

6. O Cristianismo é um acontecimento
A Constituição "Dei Verbum" traz a ideia central da aula de hoje na qual será aprofundado ainda mais o tema da Revelação divina: "o conteúdo íntimo da verdade comunicada por esta revelação a respeito de Deus e da salvação do homem se manifesta a nós em Cristo, que é ao mesmo tempo mediador e plenitude de toda a revelação." (DH4202)
 
O Cristianismo é um acontecimento
 
Não é a religião de um livro, como muitos imaginam - e vivem -, mas, acontece a partir do encontro com uma Pessoa viva e real: Jesus Cristo, que tem o mistério de sua Encarnação prolongado ao longo dos séculos por meio da Igreja.
 
A constituição dogmática Dei Verbum tem como tema central a Revelação divina. De modo conciso, traz em seu terceiro parágrafo a história da salvação, a maneira pela qual Deus aplicou à humanidade a sua pedagogia salvífica:
 
Deus, criando e conservando todas as coisas pelo Verbo, oferece aos homens um testemunho perene de Si mesmo na criação e, além disso, decidindo abrir o caminho da salvação sobrenatural, manifestou-se a Si mesmo, desde o princípio, aos nossos primeiros pais. Depois da sua queda, com a promessa de redenção, deu-lhes a esperança da salvação, e cuidou continuamente do gênero humano, para dar a vida eterna a todos aqueles que, perseverando na prática das boas obras, procuram a salvação. No devido tempo chamou Abraão, para fazer dele pai dum grande povo, povo que, depois dos patriarcas, ele instruiu, por meio de Moisés e dos profetas, para que o reconhecessem como único Deus vivo e verdadeiro, pai providente e juiz justo, e para que esperassem o Salvador prometido; assim preparou Deus através dos tempos o caminho ao Evangelho.
A plenitude da Revelação é Jesus Cristo. A mesma constituição afirma que todo o “conteúdo íntimo da verdade comunicada por esta revelação a respeito de Deus e da salvação do homem se manifesta a nós em Cristo, que é ao mesmo tempo mediador e plenitude de toda a revelação." (DH4202)
 
Nesta ideia, o Concílio Vaticano II apresenta uma das maiores contribuições teológicas e magisteriais para a compreensão da Revelação. Normalmente, quando se fala de Revelação a imagem que se forma é a que Deus dá ao homem algo pronto, definitivo. Porém, não é assim que acontece.
 
Primeiro, porque Jesus - que é a plenitude da Revelação - não deixou um catecismo, uma doutrina ou um livro. Pelo contrário, embora a doutrina escrita tenha uma enorme importância no cristianismo, no início tudo era transmitido de forma oral, por testemunhos e ações. O cristianismo não era e continua não sendo a religião de um livro, mas sim do encontro com a Pessoa de Jesus Cristo. Quando Jesus Cristo é conhecido e amado, aí sim Ele dá a ideia, a palavra, o dogma. A Revelação, portanto, é um acontecimento. É o que diz o Papa Bento XVI, no início da carta encíclica Deus caritas est:
 
Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, dessa forma, o rumo decisivo.
Tudo está dito em Jesus Cristo. A Revelação cristã não precisa ser aperfeiçoada. Não. A plenitude da Revelação está concentrada em Sua divina Pessoa. O Catecismo é bem claro em dizer que "Cristo, o Filho de Deus feito homem, é a Palavra única, perfeita e insuperável do Pai. Nele o Pai disse tudo, e não haverá outra palavra senão esta." (CIC 65)
 
Apesar disso, surge na Igreja uma heresia formulada por um abade franciscano chamado Joaquim di Fiori. Ele pregava que a história poderia ser dividida em três grandes fases, sendo que a primeira diria respeito ao Pai, a segunda ao Filho e a atual seria a do Espírito Santo. Ora, o que ele pregava hereticamente é que a revelação divina teria sido superada em Jesus Cristo pelo Espírito Santo. Esse modo de pensar, influenciou inúmeros pensadores ao longo do tempo, de Comte a Marx.
 
Depois de ter falado em muitas ocasiões e de diversos modos nos Profetas, ultimamente, nestes dias, Deus nos falou em seu Filho. Com efeito, ele enviou seu Filho, o Verbo eterno que ilumina todos os homens, para que habitasse entre eles e lhes desse a conhecer os arcanos de Deus. Jesus Cristo, portanto, Verbo feito carne, enviado como "homens aos homens", "fala as palavras de Deus" e consuma a obra salvífica que o Pai lhe confiou. (DH 4204)
Deus veio, revelou-se na pessoa de Jesus Cristo. Depois que Jesus subiu ao céu mandou seu Espírito Santo aos apóstolos, que foram guiados a uma compreensão maior e melhor daquilo que Jesus veio trazer. A assistência do Espírito Santo aos apóstolos fixou o depósito da fé.
 
Com morte do último apóstolo encerram-se as novidades. Os dogmas que foram proclamados depois não se traduzem em novas revelações, são apenas afirmações de verdades que sempre estiveram lá, no depósito da fé.
 
Todavia, embora a Revelação esteja terminada, não está explicitada por completo. caberá a fé cristã captar gradualmente todo o seu alcance ao longo dos séculos. (CIC 66)
As revelações públicas são consideradas dogmas de fé e todo católico é obrigado a crer. Já as revelações privadas, não obrigam o católico, embora algumas tenham sido reconhecidas pela autoridade da Igreja, não pertencem ao depósito da fé. “A função delas não é “melhorar’’ ou "completar" a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a viver dela com mais plenitude em determinada época da história." (CIC 67) São exemplos as aparições de Maria Santíssima em Fátima, La Salette, Lourdes e tantas outras, que tiveram seus cultos reconhecidos pela Igreja.
 
No entanto, a fé dispensada às revelações privadas reconhecidas pela Igreja exige um outro posicionamento do católico, diferente daquele adotado em relação às públicas. Em se tratando dos dogmas, o católico mesmo não entendendo ou achando improvável, crê porque foi revelado pelo próprio Deus ou pela Igreja, ou seja, por causa da autoridade de quem fala a fé é estabelecida. Já nas revelações privadas é preciso utilizar as argumentos racionais apresentados para formar a fé:
 
A fé cristã não pode aceitar revelações que pretendam ultrapassar ou corrigir a Revelação da qual Cristo é a perfeição. Este é o caso de certas religiões não-cristãs e também de certas seitas recentes que se fundamentam em tais "revelações". (CIC 67)
Diante disso, é importante ter sempre a clareza espiritual de saber que Jesus Cristo é a Revelação. Assim, o cristianismo não é e nunca foi a religião de um livro, mas do encontro com uma Pessoa real e concreta, a pessoa de Jesus Cristo. 
 
A plenitude da Revelação é Jesus Cristo. A mesma constituição afirma que todo o “conteúdo íntimo da verdade comunicada por esta revelação a respeito de Deus e da salvação do homem se manifesta a nós em Cristo, que é ao mesmo tempo mediador e plenitude de toda a revelação." (DH4202)