5. O Tempo Litúrgico

5. O Tempo Litúrgico

O tempo litúrgico e a controvérsia a respeito do cálculo do tempo pascal. Os lugares sagrados na economia sacramental. Aprenda nesta aula sobre o “quando” e “onde” celebrar. 

 

Ainda dentro da parte que contempla a Economia Sacramental de uma forma geral, vimos na aula passada a questão do “como” celebrar, as imagens, os símbolos, os sinais, etc. Nesta aula, serão estudados o “onde” e o “quando” celebrar, partindo do número 1163, do Catecismo, ou seja, o Tempo Litúrgico.
 
Além do Catecismo, uma boa leitura complementar indicada é a Carta Apostólica Dies Domini, de 31 de maio de 1998, de autoria do Bem-Aventurado Papa João Paulo II.[01] Ela trata de forma extensa e magisterial a questão do Dia do Senhor. O Papa recorda aos fiéis a importância do domingo que, dentro da espiritualidade cristã, é fundamental; não pode ser relativizado ou ser tido como um dia qualquer, não! ele é a Páscoa semanal de todo cristão. Esta é a ideia da carta apostólica oportunamente publicada pelo Papa João Paulo II. Ela não foi citada no Catecismo pois sua publicação foi posterior a ele.
 
Deus entra no tempo do homem para salvá-lo, portanto, celebrar o domingo é celebrar um fato extraordinário. Logo no primeiro capítulo, o Papa começa falando sobre a criação, e a primeira coisa que a semana representa é a obra criadora de Deus e que o mundo foi criado para um “repouso”, um dia escatológico, a paz que haverá no Céu. O “shabbat” (sábado) que os judeus guardavam no Antigo Testamento é simplesmente um sinal que aponta para um repouso que fora prometido (cfr. Salmo 94), a felicidade eterna junto de Deus.
 
Na Carta Apostólica há a explicação da transição do sábado para o domingo como Dia do Senhor. Ele cita uma frase de São Gregório Magno que, diz: “nós consideramos como verdadeiro sábado a Pessoa do nosso Redentor, Nosso Senhor Jesus Cristo.” Jesus se torna o sábado. Ele é o repouso, a paz dos homens. De um dia, passou-se para uma pessoa. O domingo se tornou o dia do Senhor por causa da Sua ressurreição.
 
Já no século V, o Papa Inocêncio I disse: “nós celebramos o domingo por causa da venerável ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, não somente a Páscoa, mas todo o ciclo semanal”. Finalmente, para que não haja dúvida quanto a essa mudança, o Papa João Paulo II apresenta uma série de textos bíblicos nos quais se vê com toda clareza a progressão da mudança, de tal forma que Santo Inácio de Antioquia (por volta do ano 100 d.C) escreveu na Carta aos Magnésios, diz: “se aqueles que viviam na antiga ordem de coisas vieram para uma nova esperança, não observando mais o sábado, mas vivendo segundo o dia do Senhor, dia no qual a nossa vida surgiu através Dele e a sua morte, mistério do qual recebemos a fé e no qual perserveramos para sermos discípulos de Cristo, nosso único mestre, como poderíamos viver sem ele e também os profetas esperavam a ele como mestre, sendo seus discípulos no Espírito.”
 
Durante o Novo Testamento os discípulos observavam as duas coisas: iam às sinagogas no sábado e aos domingos faziam as suas celebrações, até que foram expulsos das sinagogas pelos judeus. Santo Agostinho também fala sobre a mudança: “Porque também o Senhor imprimiu o seu selo no seu dia, que é o terceiro depois da Paixão. Ele, porém, no ciclo semanal é o oitavo, depois do sétimo, ou seja, depois do sábado, o primeiro da semana.” Portanto, desde o início a Igreja começou a chamar o domingo de “Oitavo Dia”. A Carta Apostólica traz esses e outros esclarecimentos e sua leitura é muito recomendada.
 
O Catecismo da Igreja Católica, por sua vez, dá início ao tema recordando a Sacrosanctum Concilium, dizendo que o dia do Senhor é a Páscoa Semanal. Importante lembrar também que celebrar a liturgia no tempo significa que existe também um tempo sagrado e não só espaço sagrado. “Kairós” é o modo como os gregos chamam o tempo oportuno. Assim também Nosso Senhor tem seus dias oportunos. Ele santificou o tempo vindo viver o tempo humano.
 
O Ano Litúrgico (1168) é organizado em torno da Páscoa. Viver o ano litúrgico é entrar na pedagogia da Igreja. Não só isso, mas em uma realidade espiritual que transcende o método de ensino. São vários os tempos fortes e a Páscoa é o grande domingo de todo cristão.
 
Existe, porém, uma controvérsia quanto ao cálculo do tempo da Páscoa (1170). Ela se deve à adaptação feita pelos católicos (por ordem papal) em face do atraso existente no calendário solar. Os astrônomos sabiam há séculos desse atraso e no ano 1582 [02] houve a publicação da ordem papal. Como os ortodoxos não aceitam a autoridade do Papa, também não aceitaram a supressão de dez dias no novo calendário e continuam calculando com o calendário antigo.
 
O cálculo da Páscoa se dá da seguinte maneira: primeiro é preciso procurar o início da primavera no hemisfério norte (21 de março), a partir da primeira lua cheia conta-se a Páscoa no domingo seguinte. Todas as outras festas são calculadas a partir da Páscoa.
 
Além destas festas do Senhor que são calculadas a partir do ciclo pascal, existem dias fixos do ano solar, que são as festas dos santos (chamados também de Santoral). Por exemplo, as festas de Nossa Senhora, a Mãe de Deus. Também os grandes santos têm seus dias fixos. O Catecismo também reforça quanto à Liturgia das Horas, que é a forma de a Igreja santificar o dia. Assim, dia, mês e ano são contemplados.
 
Como último ponto, é preciso recordar a questão do espaço sagrado. Após o CVII, algumas pessoas iniciaram uma teologia que não é propriamente a teologia da Igreja, em que dizem que após a vinda de Jesus não existe mais espaço sagrado, pois o véu do templo foi rasgado e agora seria o tempo da secularização.
 
Em completo desacordo com esta teologia, é preciso lembrar que não se trata, porém, de secularização do espaço, posto que Deus se fez carne e, portanto, ao se fazer homem, passou a viver no tempo e no espaço. É exatamente o contrário do que prega essa nova teologia: não é o tempo da secularização, mas sim, a divinização do tempo. Jesus santificou o tempo e o espaço.
 
Por isto mesmo, dentro da economia sacramental, os lugares e os tempos em que se celebram os sacramentos são sagrados, pois neles acontece uma extensão da Encarnação. A partir do número 1182, o Catecismo elenca alguns lugares considerados como sagrados: o altar, o tabernáculo (sacrário), o local onde se guarda o óleo do Santo Crisma, a cátedra do presbítero, o ambão, o batistério e o confessionário.
 
A partir da liturgia do CVII passou a valorizar ainda mais a tríade: altar, ambão e cátedra. Elas enfatizam os três múnus de Cristo: Sacerdote (altar), Profeta (ambão) e Rei (cátedra). O altar é mais importante, posto que incensado, beijado e iluminado, nem a cadeira nem o ambão são beijados. Beija-se sim o livro da Palavra, durante a proclamação do Evangelho. Por isso não procede a fala de que a mesa da Palavra e o altar possuem a mesma importância.
 
Na próxima aula serão iniciados os estudos dos sacramentos propriamente ditos.
 
Referências
 
  1. Carta Apostólica Dies Domini do Sumo Pontífice João Paulo II ao episcopado, ao cler e aos fiéis da Igreja Católica sobre a santificação do domingo
  2. Santa Teresa de Jesus morreu no dia 04 de outubro de 1582. No mesmo ano, o Papa Gregório XIII, aconselhado por astrônomos, em especial por Luigi Lílio, publicou a Bula Inter gravissimas, em 24 de fevereiro em que decretou a reforma do calendário, o qual passou a chamar-se “gregoriano”, em sua homenagem.