4. As várias etapas da Revelação

4. As várias etapas da Revelação

Sabe-se que o homem é capaz de Deus, pois recebeu Dele uma racionalidade. Embora tenha sofrido com o pecado original, esta racionalidade não foi totalmente deturpada, pois, de alguma maneira, o homem ainda é capaz de ouvir Deus.

 

As várias etapas da Revelação
Sabendo que o homem é capaz de Deus, pois recebeu Dele uma racionalidade e que, embora tenha sofrido com o pecado original, esta racionalidade não foi totalmente deturpada, pois, caso isso tivesse acontecido, o homem seria incapaz de ouvir Deus.
 
"O constante sentir da Igreja Católica tem também sustentado e sustenta que há duas ordens de conhecimento, distintas não só pelo princípio, mas também pelo objeto; pelo princípio, visto que numa conhecemos pela razão natural e na outra, pela fé divina; e pelo objeto, porque, além daquilo que a razão natural pode atingir, são propostos para crermos mistérios escondidos em Deus, que não podemos conhecer sem a divina revelação.
 
E eis por que o Apóstolo, que assegura que os gentios conheceram a Deus "por meio do que foi feito", discorrendo, todavia, sobre a graça e a verdade que vieram a ser por Jesus Cristo, diz: "Pregamos a sabedoria de Deus em mistério, que está escondida; que, antes dos séculos, Deus destinou para nossa glória, e que nenhum dos poderosos deste mundo conheceu. A nós, porém, Deus revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito tudo penetra, até as profundezas de Deus". E o próprio Unigênito louva o Pai, porque escondeu essas coisas aos sábios e entendidos e as revelou as pequeninos." (DH 3015)
Assim, fé e razão andam juntas. Pela fé é possível ter acesso à Revelação querida por Deus. Pela razão, pelo esforço filosófico é possível se chegar a um conhecimento ainda maior daquilo que foi revelado.
 
De que maneira se dá a Revelação divina? Como é que Deus revela aos homens o seu projeto benevolente? A Constituição Dei Verbum é que fornece a resposta e é nela que todo esse capítulo se baseará.
 
"Aprouve a Deus, em sua bondade e sabedoria, revelar a si próprio e tornar conhecido o mistério de sua vontade, pelo qual os homens por Cristo, Verbo feito carne, no Espírito Santo tem acesso ao Pai e se tornam partícipes da natureza divina. Mediante esta revelação, portanto, o Deus invisível, levado por seu grande amor, fala aos homens como a amigos e entretém-se com eles para convidá-los e recebê-los em sua comunhão." (DH 4202)
Deus revela aos homens não como um matemático, expondo uma fórmula exata, mas como um Pai, paulatinamente. A Revelação ocorreu porque Deus quis, por bondade, revelar-se e ao mistério da sua vontade. Por causa dessa revelação, o homem tem acesso ao mistério da Santíssima Trindade. Ele vai ao Pai pelo Filho no Espírito.
 
Assim, desde o início é preciso saber que existe um abismo imenso entre o homem e Deus. Como o homem não teria jamais condições de se aproximar de Dele, Ele vem, transpõe o abismo e se encarna, assumindo a natureza humana. Em Jesus, Deus e o homem estão unidos. O Espírito Santo é o elemento que une todas as pessoas em Jesus. É o mistério da Igreja, onde Cristo é a cabeça de um corpo e o Espírito Santo é a alma. É assim que o homem é salvo.
 
O agir de Deus e a Palavra de Deus se completam mutuamente. Portanto, a Revelação divina acontece na pessoa de Jesus Cristo.
 
"Esta economia da revelação se concretiza através de acontecimentos e palavras intrinsecamente conexos, de sorte que as obras realizadas por Deus na história da salvação manifestam e corroboram os ensinamentos e as realidades significadas pelas palavras, que, por sua vez, proclamam as obras e elucidam o mistério nelas contido. No entanto, o conteúdo íntimo da verdade comunicada por esta revelação a respeito de Deus e da salvação do homem se manifesta a nós em Cristo, que é ao mesmo tempo mediador e plenitude de toda a revelação." (DH 4202)
Para revelar-se ao homem Deus se utiliza de uma pedagogia peculiar. A história da salvação mostra como Deus prepara o homem durante todo o Antigo Testamento para receber a plenitude da revelação, Jesus Cristo. É o que continua dizendo a Constituição "Dei Verbum":
 
"Criando pelo Verbo o universo e conservando-o, Deus proporciona aos homens, nas coisas criadas, um permanente testemunho de si mesmo; e, no intuito de abrir o caminho da salvação do alto, manifestou-se a si mesmo desde os primórdios a nossos primeiros pais. Ora, após a queda deles, havendo prometido a redenção, alentou-os a esperar uma salvação e velou permanentemente pelo gênero humano, a fim de dar a vida eterna a todos aqueles que, pela perseverança na prática do bem, procuram a salvação." (DH 4203)
Santo Irineu de Lyon, a propósito da pedagogia divina, diz que: "O Verbo de deus habitou no homem e fez-se Filho do homem para acostumar o homem a apreender a Deus e e acostumar Deus a habitar no homem, segundo o beneplácito do Pai." (CIC 53)
 
Mesmo após o pecado dos primeiros pais, Deus não parou de revelar-se aos homens, pelo contrário, "alentou-os a esperar uma salvação e velou permanentemente pelo gênero humano, a fim de dar a vida eterna a todos aqueles que, pela perseverança na prática do bem, procuram a salvação." (CIC 55) Portanto, mesmo em vista do pecado dos primeiros pais, Deus não virou as costas para a humanidade, abandonando-os ao poder da morte, mas ofereceu por várias vezes aliança com o homem pecador.
 
A primeira aliança de Deus com o homem foi aquela firmada com Noé. A humanidade havia sido dizimada pelo dilúvio e somente Noé e a família foram salvos, de modo que a aliança firmada entre eles é válida para toda a humanidade. Assim, Deus estabelece a chamada "economia", que nada mais é do que aquilo que Deus faz para possibilitar à humanidade a salvação. Deus, então, dividiu os povos para que o orgulho dos povos fosse limitado:
 
"Esta ordem ao mesmo tempo cósmica, social e religiosa da pluralidade das nações destina-se a limitar o orgulho de uma humanidade decaída que, unânime em sua perversidade, gostaria de construir por si mesma sua unidade à maneira de Babel. Contudo, devido ao pecado, o politeísmo, assim como a idolatria da nação e de seu chefe, constitui uma contínua ameça de perversão pagã para essa Economia provisória." (CIC 57)
A aliança que Deus firmou com Noé permanece válida até a plenitude dos tempos, com a Encarnação do Verbo. E, mesmo o homem tendo se entregado ao politeísmo e à idolatria, por causa do pecado, Deus a mantém e suscita ao longo do tempo grandes figuras que reforçam e relembram a aliança noística.