3. O mistério pascal nos sacramentos da Igreja

3. O mistério pascal nos sacramentos da Igreja

Os sacramentos operam a salvação do homem, pois em cada um celebrado existe um sujeito invisível que os celebra: Cristo. Não se trata de mágica.

 

O Catecismo começa o Artigo 2: "O mistério pascal nos sacramentos da Igreja" dizendo que "toda a vida litúrgica gravita em torno do sacrifício eucarístico e dos sacramentos". Existem sete sacramentos: Batismo, Confirmação e Eucaristia (chamados de sacramentos da iniciação cristã), Penitência, Unção dos Enfermos (chamados sacramentos da cura), Ordem e Matrimônio (sacramentos de estado de vida).
 
Os sacramentos são de Cristo. Por causa de uma controvérsia com protestantes, o Concílio de Trento, em 1547, publicou o Decreto sobre os sacramentos no qual afirmou:
 
Cân.1. Se alguém disser que os sacramentos da Nova Lei não foram todos instituídos por nosso Senhor Jesus Cristo; ou que são mais ou menos do que sete, a saber: batismo, confirmação, Eucaristia, penitência, extrema-unção, ordem e matrimônio; ou também que algum destes sete não é sacramento no sentido verdadeiro e próprio: seja anátema. (DH 1601)
Cristo é o autor dos sacramentos, portanto. Eles brotaram do peito aberto de Cristo na cruz, porém, os momentos de instituição também existiram. No entanto, eles não precisam ser vistos de forma jurídica e estrita, mas sim de forma mais ampla. Diz o Catecismo:
 
As palavras e as ações de Jesus durante sua vida oculta e durante seu ministério público já eram salvíficas. Antecipavam o seu mistério pascal. Anunciavam e preparavam o que iria dar à Igreja quando tudo fosse realizado. Os mistérios da vida de Cristo são os fundamentos daquilo que agora, por meio dos ministros da sua Igreja, Cristo dispensa nos sacramentos, pois aquilo que era visível em nosso Salvador passou para seus mistérios. (1115)
Jesus fez gestos salvadores enquanto esteve nesse mundo. Quando subiu aos céus deu o poder à Igreja (seu corpo) de também realizar tais gestos. "Os sacramentos são forças que saem do corpo de Cristo sempre vivo e vivificante; são ações do Espírito Santo operante no Corpo de Cristo, que é a Igreja; são obras-primas de Deus na Nova e Eterna Aliança", explica o Catecismo. (1116)
 
Os sacramentos são de Cristo, mas também são da Igreja e ela aos poucos foi percebendo a grande riqueza legada por Jesus. Não foi algo automático, embora os sacramentos eles já estivem lá. Lembrando que o sacramento não pode ser visto como uma lembrança, um sinal, um símbolo impregnado de um caráter semântico afetivo, pois esta leitura é feita a partir de uma visão naturalista, modernista, portanto, sem fé. É verdade, porém, que muitas vezes a palavra "sacramento" foi usada para outras coisas, em seus dois sentidos (próprio e análogo), mas, no decorrer do tempo, a diferenciação foi feita.
 
A Igreja como um todo é quem celebra os sacramentos, porém, embora ela seja o sujeito místico, existem os ministros. Diz o Catecismo: "O ministério ordenado ou sacerdócio ministerial está a serviço do sacerdócio batismal. Garante que, nos sacramentos, é Cristo que age pelo Espírito Santo para a Igreja." (1120) E continua:
 
A missão da salvação confiada ao Pai a seu Filho encarnado é confiada aos apóstolos e, por meio deles, a seus sucessores: recebem o Espírito de Jesus para agir em seu nome e em sua pessoa. Assim, o ministro ordenado é o elo sacramental que liga a ação litúrgica àquilo que disseram e fizeram os apóstolos, e, por meio destes, ao que disse e fez Cristo, fonte e fundamento dos sacramentos. (idem)
Os sacramentos têm uma íntima ligação com as Sagradas Escrituras. São elas que preparam o fiel para bem recebê-los. Não somente isso, a forma de a Igreja celebrar ao longo dos séculos também demonstra a fé. É a explicação da expressão lex orandi les credendi. Diz o Catecismo:
 
A fé da Igreja é anterior à fé do fiel, que é convidado a aderir a ela. Quando a Igreja celebra os sacramentos, confessa a fé recebida dos apóstolos. Daí o adágio antigo: lex orandi, lex credendi (...). A lei da oração é a lei da fé, ou seja, a Igreja traduz em sua profissão de fé aquilo que expressa em sua oração. A liturgia é um elemento constitutivo da santa e viva Tradição.
Portanto, para se saber o que a Igreja crê, basta olhar a forma como ela sempre celebrou. E o Catecismo é taxativo quando ao modo de proceder:
 
É por isso que nenhum rito sacramental pode ser modificado ou manipulado ao arbítrio do ministro ou da comunidade. Nem mesmo a suprema autoridade da Igreja pode alterar a Liturgia ao seu arbítrio, mas somente na obediência da fé e no religioso respeito do Mistério da Liturgia. (1125)
Os sacramentos realmente operam a salvação do homem, pois em cada sacramento celebrado existe um sujeito invisível que os celebra: é Cristo, "é ele quem batiza, é ele quem atua em seus sacramentos, a fim de comunicar a graça significada pelo sacramento." (1127) A eficácia dos sacramentos vem do fato de que aquela obra é do Cristo que opera. Não se trata de uma mágica.
 
Além disso, a Igreja reforça que os sacramentos são necessários para a salvação e que estão voltados para a vida eterna. No céu não haverá sacramentos.