2. A Liturgia - Obra da Santíssima Trindade

2. A Liturgia - Obra da Santíssima Trindade

“Cristo glorificado a partir da Igreja dos Apóstolos está presente na liturgia terrestre que participa da liturgia celeste”, assim ensina o Catecismo da Igreja Católica.

 

Toda a obra de Deus, inclusive os sacramentos, poderia ser resumida da seguinte forma: Deus Pai envia o Espírito Santo para gerar o Filho; o Filho gerado une as pessoas a Ele, no Espírito Santo, para levar a Igreja (os membros de Seu corpo) à vida trinitária no Céu.
 
É uma ação em que o Pai (que habita em luz inacessível, cfr. 1 Tim, 6) não vem ao mundo, mas age enviando seu Espírito Santo, suas duas mãos e seus dois braços - utilizando a famosa comparação de Santo Irineu de Lyon - para salvar a humanidade: o Espírito Santo e o Filho. O Espírito derramado gera o Filho e este retorna para o Pai. Esta é a obra da salvação. Assim, em primeiro lugar, o Pai é a fonte, o princípio da Trindade. É também a fonte da própria Liturgia.
 
Em português, bênção e bendição são palavras diferentes, com significados diferentes, contudo, em grego, hebraico e latim, elas possuem o mesmo significado, embora duas direções. Deus diz o bem ( benedictio, eulogia, em grego), bendiz, bênção. Interessante notar como o ato de pronunciar qualquer palavra é semelhante à Trindade: é necessário, para tanto, aquele que pronuncia, da palavra pronunciada e do sopro, que é o veículo para a palavra chegar., tal como a Trindade. E a palavra de bênção que vem do Pai é o próprio Filho Jesus.
 
Abençoar é uma ação divina que dá a vida e da qual o Pai é a fonte. Sua bênção é ao mesmo tempo palavra e dom ( benedictio, eulogia, pronuncie "euloguia"). Aplicado ao homem, esse termo significará a adoração e a entrega ao seu criador, na ação de graças. (1078)
No Gênesis, capítulo 1, Deus pronuncia a criação, ou seja, Ele diz: "Faça-se a luz" e a luz se faz. Quando Ele fala tudo acontece. E a cada dia terminado, Ele diz: "E viu que era bom". Após ter pronunciado o homem "viu tudo o que tinha feito: e era muito bom" (cfr. 1, 30). Ora, isto é uma bênção, pois Deus pronunciou a palavra ao fazer, mas Ele também bendisse o que fez ("e viu que era bom), por isso se diz que Deus é a fonte da bendição. Continua o Catecismo:
 
Na liturgia da Igreja a bênção divina é plenamente revelada e comunicada: o Pai é reconhecido e adorado como a fonte e o fim de todas as bênçãos da criação e da salvação; em seu Verbo, encarnado, morto e ressuscitado por nós, ele nos cumula com suas bênçãos, e por meio dele derrama em nossos corações o dom que contém todos os dons: o Espírito Santo. (1082)
A liturgia é assim também. Deus diz o bem do homem, que é chamado a dizer o bem Dele. Quando a palavra boa "desce", ela é bênção, e quando "sobe", é bendição. A bênção é uma forma apocopada de bendição. Diz o Catecismo:
 
Compreende-se então a dupla dimensão da liturgia cristã como resposta de fé e de amor às "bênçãos espirituais" com as quais o Pai nos presenteia. Por um lado, a Igreja, unida a seu Senhor e "sob a ação do Espírito Santo", bendiz o Pai "por seu dom inefável" mediante a adoração, o louvor e a ação de graças. Por outro, e até a consumação do projeto de Deus, a Igreja não cessa de oferecer ao Pai "a oferenda dos seus próprios dons" e de implorar que Ele envie o Espírito Santo sobre a oferta, de si mesma, sobre os fiéis e sobre o mundo inteiro, a fim de que pela comunhão com a morte e ressurreição de Cristo-Sacerdote e pelo poder do Espírito estas bênçãos divinas produzam frutos de vida "para louvor e glória de sua graça. (1083)
"Cristo glorificado, a partir da Igreja dos Apóstolos, está presente na liturgia terrestre, que participa da liturgia celeste", assim está subdividido o item número dois: A obra de Cristo na liturgia. A Igreja é um corpo só tanto no céu quanto na terra, portanto, participar do corpo de Cristo (ser Igreja) significa colocar o homem dentro da realidade na qual está o próprio Cristo.
 
Cristo, cabeça da Igreja, é glorificado no céu e sua glória vem do próprio Pai. Todas as vezes que Deus abençoa o homem, Ele se rebaixa, se humilha, se faz servo, lava a sujeira da humanidade, como lavou ao derramar seu Sangue na cruz para lavá-la dos seus pecados. O mistério do Lava-pés acontece precisamente na Cruz quando o Sangue é derramado. Esta é a bendição que desce do céu. Mas ela não fica na terra, volta para o céu. E quando a bendição volta para Deus, Cristo é glorificado no céu. Isso só se dá na Igreja "apostólica", pois somente nela se tem a garantia de que o corpo a que os homens pertencem é o corpo de Cristo (Igreja). Ensina a Sacrossantum Concilium citada pelo Catecismo:
 
Assim como Cristo foi enviado pelo Pai, da mesma forma Ele mesmo enviou os apóstolos, cheios do Espírito Santo, não para pregarem o Evangelho a toda criatura, anunciarem que o Filho de Deus, por sua Morte e Ressurreição, nos libertou do poder de Satanás e da morte e nos transferiu para o reino do Pai, mas ainda para levarem a efeito o que anunciavam: a obra da salvação por meio do sacrifício e dos sacramentos, em torno dos quais gravita toda a vida litúrgica. (1086)
Portanto, a Igreja não é simplesmente um envio para evangelizar, mas também a economia sacramental. Jesus quando diz "ide e ensinai", ele diz também "ide e batizai" (Mateus, 28). A missionariedade da Igreja é palavra e sacramento. Não é somente a palavra enquanto ensinamento, mas aquela "encarnada" no sacramento, ou seja, os sacramentos fazem parte da dinâmica encarnatória da salvação. Sendo assim, a liturgia compõe a própria estrutura da Igreja. Continua o Catecismo:
 
Dessa forma, Cristo ressuscitado, ao dar o Espírito Santo aos Apóstolos, confia-lhes seu poder de santificação: eles tornam-se assim sinais sacramentais de Cristo. Pelo poder do mesmo Espírito Santo, os Apóstolos confiam este poder a seus sucessores. Esta "sucessão apostólica" estrutura toda a vida litúrgica da Igreja; ela mesma é sacramental, transmitida pelo sacramento da ordem. (1087)
O Cristo é o sujeito da Liturgia. Quando a Santa Missa é celebrada, o sacerdote visível (e imperfeito) é mera causa instrumental daquela que é a verdadeira causa eficiente que é Cristo, o sacerdote invisível que oferece verdadeiramente a Missa. O sacrifício é uma realidade cultual, assim, a Santa Missa hoje, de forma sacramental e incruenta repete o culto que Cristo prestou no Calvário.
 
Quando Cristo lá se oferece é Ele quem adora, dá graças, suplica e repara. Se o sacerdote fizer isso com Ele tanto maior será a graça para em sua vida, mas mesmo que não faça, mesmo que esteja totalmente distraído, existe um sacerdote que está oferecendo o santo sacrifício de forma infinitamente perfeita: Cristo. Assim, na liturgia da terra há a união com aquela liturgia do Calvário, pois a cabeça, que é Cristo, ofereceu a Deus o perfeito louvor, que é feito a Deus nas moradas celestes.
 
O Espírito Santo, por sua vez, é aquele prepara a humanidade para acolher a Cristo, recorda o mistério de Cristo e atualiza esse mesmo mistério. Estas são as obras que Ele realiza, segundo o Catecismo:
 
A missão do Espírito Santo na liturgia da Igreja é preparar a assembleia para encontrar-se com Cristo; recordar e manifestar Cristo à fé da assembleia; tornar presente e atualizar a obra salvífica de Cristo por seu poder transformador e fazer frutificar o dom da comunhão na Igreja. (1112)
Esta é a linha de leitura referente ao artigo primeiro intitulado "A liturgia. Obra da Santíssima Trindade". Na aula seguinte será contemplado o "Mistério Pascal nos sacramentos da Igreja".