Papas do Séc. XIV – o exílio do papado em Avignon e a excomunhão dos Templários

23/10/2014 11:57

 

Vamos seguir contando essa história de mil aventuras e peripécias. Para reiniciar a série dos Papas, temos:

Bento XI – Era um homem muito culto. Seu nome de batismo era Niccolò Boccasini. Filho espiritual de São Domingos, era da Ordem dos Pregadores e ascendeu ao trono de Pedro em 1303. Bento XI foi o último papa em Roma antes do exílio papal em Avignon, período da história conhecido como “papado de Avignon”.

Seu papado iniciou com uma tremenda confusão política. Só pra relembrar, o papa anterior, Bonifácio VIII, foi espancado por membros da poderosa família Colloni (vide o post anterior desta série). Em virtude disso, a família foi excomungada, afinal, é muito feio bater num papa até quase a morte, ai, ai, ai. Precisando desesperadamente restaurar a paz, Bento aceitou retirar a excomunhão dos Colonni, mas recusou-se a reempossar os dois cardeais que eles haviam elegido de forma ilegítima.

Concordamos como o santo papa: os Colonni eram bons de porrada? Então vão para o UFC! Não bastasse isso, ter que aturar a megalomania do Rei Felipe IV, o Belo, era de lascar. Aboletado em sua ambição sem tamanho, o monarca estava exigindo a convocação de um concílio. Não que ele estivesse muito interessado em questões de religiosidade e teologia; o que ele queria mesmo era sair sem pagar a conta das bagunças ocorridas durante o papado de Bonifácio VIII. O papa se viu numa sinuca de bico danada e, sem opção, para não ceder às gracinhas teológicas do Felipe belelê, perdoou as dívidas da coroa francesa (entenda-se que, aqui, “coroa francesa” não é a digníssima patroa do Rei).

FELIPE_o_belo_2Bento XI viu-se também obrigado a abrir um precedente que todo rei safado estava doidinho para conseguir: permitiu que Felipe IV tributasse a Igreja no território francês, e ainda pagou dois anos de dízimo ao Rei. Peraí, o Papa pagou dízimo ao Rei? É isso mesmo meus amigos, Felipão era “O Cara”, ou assim pensava que era. E Bento XI era, antes de mais nada, um diplomata.

Durante seu curto papado (apenas um ano), ocorreram fatos de enorme importância. A Sérvia ornou-se católica; Dinamarca e Alemanha assinaram um armistício que selou a paz, acabando com uma sangrenta disputa; regiões da Espanha e da Itália, como a Pádua de Santo Antônio, foram pacificadas. Poderia ter feito mais, mas seu papado terminou abruptamente. Especula-se que “abruptamente” demais… Cogita-se que fora reativado o Departamento de Envenenamento Papal (DEP). Papa de 1303 a 1304.

marionete_papaClemente V - O primeiro papa do exílio de Avignon (França), quando o Papa foi obrigado a partir de Roma. A desculpa oficial foi que a Cidade Eterna, por suas recorrentes pertubações de ordem civil, não poderia ser, por hora, a capital espiritual do mundo; mas a realidade política foi que o rei Felipe, o “lindjo”, queria ter a Igreja como refém e bem debaixo dos seus pés.

Em virtude da fraqueza em que as forças continentais europeias se encontravam, sendo a França a grande potência da época, o Papa nada mais era do que uma marionete nas mãos de Felipe IV. Foi este monarca quem lançou as sementes do que alguns séculos a frente veio a se tornar o estado absolutista moderno continental, bem como os germes iniciais de ideias que descambaram para a nefasta Revolução Francesa (é sério, pode parecer exagerado uma ligação direta de mais de 400 anos, mas as coisas são assim mesmo).

O rei Felipe, apesar de poderoso, não nadava em dinheiro, era um duro. E ele precisava de muita grana para custear o seu aparato estatal-militar. Sua cobiça se voltou para os cofres dos Templários, que funcionavam como banqueiros. Pressionado por Felipe, o papa Clemente V excomungou os Templários. Assim, ficou fácil para Felipe meter as mãos nos caras e arrancar toda grana deles com falsas acusações de adoração e heresia. Observem que, ao contrário do que os detratores da Santa Igreja dizem, a motivação foi mais financeira e política do que religiosa.

O povão não estava gostando nada dessa história, uma vez que os Templários foram os reais inventores do cartão de crédito (mais detalhes futuramente), o que facilitava a vida de muita gente que precisava viajar pelas estradas da Europa. Então, para aliviar a barra, o papa “passou a gerência” dos bens templários para os Cavaleiros de São João (Hospitalários) mas na verdade a bolada que os templários gerenciavam para o povo de Deus estava nas mãos do Felipe IV e de seus barões.

jacques_de_molay_fogueira_templarioO fim da vida de Clemente V estava ligado a uma maldição que teria sido proferida justamente pelo grão-mestre dos Templários. Jacques de Molay, um senhor já idoso quando encarou a fogueira, amaldiçoou o Rei, o Papa e toda a sua maldita raça contra crimes contra Nosso Senhor Jesus Cristo. Um ano após a execução de De Molay, o Rei Felipe e o Papa morreram; Felipe, após avistar uma cruz brilhante na floresta e cair do cavalo; Clemente, de câncer no estômago. Além disso, toda a linha de descendência do Rei, ao subir ao trono, faleceu sem deixar herdeiros, o que eliminou a dinastia dos Capetos em meros 5 anos, que foi substituída pela dos Valois.

Essa foi a era dos “reis malditos” da França. Clemente foi Papa de 1305 a 1314.

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No próximo post desta série, apresentaremos as aventuras dos demais papas do século XIV.

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