Os Papas do Século XII – A Era das Cruzadas (Parte I)...

23/10/2014 11:39

 

cruzadas

É isso aí meu povo!

Estamos iniciando aqui mais um momento fantástico dessa história fascinante contada através das vida dos nossos pontífices.

O século XII da Nossa Era é-me especialmente caro porque estão aqui plantadas as sementes da Santa Inquisição, assunto que me fascina a 25 anos ou mais, e ao qual dediquei grande parte de meus estudos. Foi estudando a Santa Inquisição que deixei de ser um idiota ateu anticatólico e passei a ver com clareza a luz da Santa Igreja.  Interessa-me, fique claro, a Santa Inquisição Medieval; nem adianta perguntar-me sobre Inquisição Espanhola, pois não sou especialista neste último assunto, muito embora tenha conhecimento suficiente para desqualificar esses professorezinhos boçais que andam por aí.

Deixando de lado a viagem egocêntrica, passemos a falar um pouco sobre os pontífices desse tempo interessante e um tanto quanto (para variar) turbulento.

Pascoal II - Sucedeu Urbano II. Este papa institui três das Ordens cavaleirescas mais famosas de todos os tempos: os Templários, de tão triste lembrança (saibam porque em breve, aqui nO Catequista), os Cavaleiros Teutônicos – dos quais fazia parte a famosa casa dinástica dos von Hohenzollern (calma, também falaremos mais dos Hohenzollern; adoro escrever esse nome; em futuro próximo) – e os Cavaleiros da Ordem de São João, mas conhecidos como Hospitalários.

Não associam o nome às pessoas? Observem, com certeza vocês já viram no cinema, num livro ou num museu uma representação de uma dessas três ordens. Vejam como é fácil distingui-las: Templários usam túnica branca com uma cruz vermelha; os teutônicos também usam uma túnica branca, mas a cruz é preta; já os hospitalários usam uma túnica negra com uma cruz branca, Fácil não? Mas chega de falar de personagens de RPG, seguimos falando do Papa Pascoal II.

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O imperador Henrique V pressionando o Papa Pascoal II

Um dos documentos históricos mais interessantes dessa época é a carta direcionada ao Santo Padre por Godofredo de Bouillon descrevendo a tomada de Jerusalém ocorrida em 1099, ano que Pascoal ocupou o trono de Pedro. Enquanto isso, no Sacro Império, Henrique V passou a mão na coroa de seu pai e, a partir daí, começou uma campanha para revogar muitas das reformas feitas pelo Papa São Clemente VII.

Pascoal II fechou os olhos para muitas investiduras (ordenações de bispos) ilegais e acabou tendo o povo contra si. Numa jogada popularesca, no dia de sua coroação oficial, Henrique V, sob pressão dos populares “botou na conta do Papa” as investiduras fraudulentas que ele fizera, que acabou encarcerado. O que Henrique queria era ter o poder de investir sua rapaziada como bispos, coisa que só o Papa poderia fazer. Bom, ocorre que, depois de dois meses, o Papa cedeu a pressão de Henrique V, que poderia colocar como bispo quem ele quisesse, desde que o Papa aprovasse sua indicação, o que, na prática, era apenas uma formalidade,  já que o Papa não queria ir pro xilindró de novo.

O Imperador Henrique V, se fosse hoje, seria o rei do bullying. Depois de dar o cuecaço em meio mundo, continuava em cima do Papa enchendo o saco. Exigiu que o Papa não o excomungasse (motivos tinha de sobra) . Na ocasião dos distúrbios em 1116 que obrigaram o Papa a sair da cidade e refugiar-se em Benevento, o Imperador ficou na dele. No ano seguinte, veio o Próprio Henrique V arrumar encrenca (veio e ficou, diga-se). Lá vai o Papa para Benevento de novo. Retornou para Roma apenas em 1118, pouco antes de sua morte. Faleceu silenciosamente em Castel Sant´Angelo. Foi enterrado na Basílica de Latrão, uma vez que a Basílica de São Pedro estava sobre poder das forças imperiais. Papa de 1099 a 1116,

Gelásio II – Pobre Papa foi esse senhor. Muita tormenta num papado curto. Eleito papa secretamente no Mosteiro de Santa Maria in Pallara, esse monge beneditino acabou logo depois preso e espancado pela família patrícia à qual tinha jurado lealdade.

Fora isso, quando o povo de Roma e as famílias aristocráticas conseguiram sua liberdade, o Papa acabou tendo que fugir, pois o Imperador “te pego lá fora” Henrique V estava a caminho para aplicar mais cuecaços.  Resultado: quando o Imperador quis chamar o Papa para um “papinho” (eita trocadilho ruim), este se recusou, o que levou nosso amigo Henrique a colocar um português – com fado, bacalhau, toucinho do céu e tudo mais – como antipapa.  Este assumiu o nome de Gregório VIII.

Gelásio II, então, fez o que era sua obrigação: excomungou Henrique V e o antipapa Gregório VIII e espalhou a notícia por todos os reinos da cristandade. Aí o bicho pegou! Uma exército com base em Capua se formou e levou a guerra até as forças de Henrique em Roma, que tratou de escafeder-se.  Mesmo sumindo, o Imperador deixou a cidade sobre o controle de seus exércitos. Para evitar um banho de sangue, o Gelásio II e seus bispos resolveram se retirar para Cluny, na França, local do qual o Papa não retornaria. Papa de 118 a 1119.

Calisto II – Esta é a era dos Papas “II”. Calisto II reafirmou a excomunhão de Henrique V. A coisa tava muito feia. Um imperador excomungado, naquele tempo, era considerado um grande m%¨&$%&%&%$&¨*&*(&*erda. Espiritualmente, podemos ver, o Imperador dependia muito do Papa. Os príncipes alemães, preocupados com esse estado de coisas, pediram que o Imperador começasse a negociar a situação melhor com o Papa.

Antes de continuarmos, vamos recapitular… Para não dizerem por aí que titio aqui não tá explicando direito, precisamos deixar claro o que foi a questão das investiduras. Então, abrimos aqui esse razoável parênteses:

Vem da época dos reinos visigodos a pretensão dos chefes temporais de nomear quem eles bem quisessem para ocupar os cargos eclesiais, controlar suas ações e, principalmente, colocar aí gente que dançasse de acordo com sua música, como tudo que vem do Estado (isso vale até hoje), onde a mãozinha podre de Reis, Duques e membros do PT pousa, apodrece. Só que Deus não abandona os seus: por volta de 900 surgiram ideais e centros de reforma católicos, cujo o mais famoso com certeza é a Abadia de Cluny (QG dos Cistercienses), de onde partem grupos renovadores para a Bélgica, Itália, Espanha, Inglaterra, etc.

Abadia de Cluny foi fundada em 910 pelo P**** das Galáxias da época Guilherme, Duque da Aquitânia; foi doada para a Igreja durante o papado do monstrossauro Sérgio III, com a condição de que fosse administrada pelos monges. Isso era uma novidade já que, com essa base, em Cluny só tinha monge de primeiríssima linha. Seu exemplo pungente espalhou-se por todos a cristandade e seus monges eram convocados para mostrar como a coisa funcionava. Eles faziam mais ou menos uma espécie de workshop medieval de funcionamento de mosteiros.

Se observamos bem, a questão das investiduras (eleição de bispos), em que se levava em conta o interesse mais do Cappo local do que realmente a vocação da Igreja, é a base de muitos problemas, como simonia e “padres casadoiros”.  Claro que os historiadores boçais que enchem nossas cátedras da época do iluminismo até os dias de hoje tiram o peso da culpa do seu amado “Estado” e o jogam pra cima da Igreja. Pesem e pensem: quantos bispos safados os papas nem tinham a menor ideia que foram investidos? Era com essa sacanagem que São Leão IX estava lutando e que levou à reforma de Clemente VII.

Agora, acho que vocês, caros leitores desse  humilde blog, já têm um pouco mais de munição intelectual contra os sem-vergonha que querem atacar nossa Santa Igreja.

Voltando ao Papa Calisto II… Em 1122, o Papa assina a Concordata de Worms, que levava a uma definição essa questão das investiduras. Para tanto, Calisto assegurou ao “Imperador Bullying” a promessa de que não haveria investiduras sem a sua presença na Alemanha. No ano seguinte, durante o Concílio de Latrão, o Papa confirmou o postulado da Concordata de Worms e reafirmou a reforma promovida por São Clemente VII. Morreu em dezembro de 1124 e está sepultado ao lado de Pascoal II na Basília de Latrão. Papa de 1119 a 1124.

Honório II – Segura a onda gente, tem mais Papa “II” vindo por aí. Sobre Honório, pesa a acusação de que teria sido eleito através de suborno. Bem, isso não ficou muito claro para mim ainda, e prefiro não afirmar nem que sim nem que não. Fora isso, seu papado foi marcado pelas reformas. Foi um Papa bondoso e ajudou muito as ordens religiosas. Pregou também as virtudes morais e combateu o mal dentro da Igreja com todas as suas forças. Se todo Papa dessa época advindo de eleições ganhas com suborno fossem como ele…

Foi marcante no seu papado a concepção da ideia, vinda dos cônegos de Lyon, da Imaculada Conceição de Maria, ocorrida em 1125. Lamberto Scannabecchi (Honório II) foi um garoto pobre, um self-made man por assim dizer, estudou muito e conseguiu por mérito e esforço próprios as mais elevadas posições e funções da hierarquia durante os pontificados de Pascoal II e de Calisto II. Foi um dos signatário da Concordata de Worms e foi muito influente no Concílio de Latrão, que veio a ratificá-la (1123).

Foi eleito papa com o apoio da família Frangipane, após a morte (1125) do imperador Henrique V. Durante seu pontificado, o santo padre foi aos poucos reconquistando o terreno que o “Sr. Bullying” (pra quem não sacou – Henrique V) tentou abocanhar para si.

A tendência mafiosa dos italianos não deu sossego a Honório II. Os últimos meses de seu pontificado foram extremamente conturbados pelo acirramento das lutas entre os Frangipane, seus aliados, e os Pierleoni. Acuado, o papa  de número 164 refugiou-se no convento de S. Gregorio al Celio, onde morreu em 13 de fevereiro (1130), e foi sucedido por Inocêncio II(olha outro “II” aí, gente!). Foi durante seu pontificado que surgiram na Itália as seitas dos Guelfos, partidários do Papa, e a dos Gibelinos, partidários do Imperador, mas isso ainda é uma outra história, como diria o cronista do Conan. Papa de 1124 a 1130.

Continua…

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