Inácio de Antioquia - e suas Cartas

28/02/2014 15:44
Inácio de Antioquia
 
Bispo da cidade de Antioquia, Inácio foi condenado, no reinado de Trajano, a ser dilacerado pelas feras. Em seu trajeto para o martírio, da Síria até Roma, escreveu sete cartas, para as igrejas de Éfeso, Magnésia, Trales, Roma, Filadélfia, Esmirna, e para seu irmão no episcopado, Policarpo.
 
Para Inácio, a eucaristia é "a carne de nosso Salvador Jesus Cristo, que sofreu por nossos pecados e que, na sua bondade, o Pai ressuscitou". Ensina que para a unidade da Igreja é fundamental a comunhão com a hierarquia: bispos, presbíteros e diáconos.
 
Santo Inácio utiliza, pela primeira vez, o termo "Igreja católica" para designar a verdadeira Igreja de Jesus Cristo. "Onde aparece o bispo, aí esteja a multidão, do mesmo modo que onde está Jesus Cristo, aí está a Igreja católica". Distingue a comunidade de Roma dentre todas as demais. É ela a igreja que "preside na região dos romanos, digna de Deus, digna de honra, digna de ser chamada feliz, digna de louvor, digna de sucesso, digna de pureza, que preside ao amor, que porta a lei de Cristo, que porta o nome do Pai..." Lá os apóstolos Pedro e Paulo selaram seu testemunho. Em Roma se encontra o autêntico magistério da fé.
 
Seu martírio ocorreu por volta do ano 110.
 
Epístola aos Efésios
Inácio, Bispo de Antioquia (35-110 d.C)
 
PARTE I - SAUDAÇÃO INICIAL
 
Inácio, também chamado Teóforo, àquela que é bendita em grandeza na plenitude de Deus Pai, predestinada antes dos séculos a existir em todo o tempo, unida para uma glória imperecível e imutável, e eleita na Paixão verdadeira, pela vontade do Pai e de Jesus Cristo nosso Deus à Igreja digna de bem-aventurança, que vive em Éfeso da Ásia, todos os bens em Jesus Cristo e os cumprimentos numa alegria impoluta.
 
PARTE II - AMOR AOS EFÉSIOS
 
1. Tomei conhecimento em Deus de vosso nome tão apreciado, que granjeastes por uma apresentação correta, baseada na fé e caridade em Jesus Cristo nosso Salvador. Sendo imitadores de Deus reanimados no sangue de Deus, levastes a termo a obra que vos é congênita. Assim ouvindo que eu vinha da Síria, preso pelo Nome e pela esperança que nos são comuns, confiando chegar até Roma para combater as feras, graças à vossa oração, a fim de ter a felicidade de tornar-me discípulo, vós vos apressastes em ver-me. Recebi, pois, toda a vossa grande comunidade em nome de Deus na pessoa de Onésimo, dotado de indizível caridade e vosso bispo segundo a carne. Peço-vos que o ameis em Jesus Cris­to e que a Ele todos vos assemelheis. Bendito Aquele que vos fez a graça, já que vos mostrastes dignos de possuirdes tal bispo.
2. Quanto a Burrus, meu companheiro de serviço e vosso diácono bendito em todas as coisas segundo o coração de Deus, pediria que continue a meu lado para honra vossa e de vosso bispo. Mas também Crocos, digno de Deus e de vós, a quem acolhi como prova de vosso amor, confortou-me ele de toda a sorte, como também o Pai de Jesus Cristo lhe há de dar conforto junto com Onésimo, Burrus, Euplos e Fronton, pois em suas pessoas vi a todos vós na caridade. Gostaria de merecer a graça de alegrar-me convosco em tudo. Bem, por isso é que convém glorificar de toda sorte a Jesus Cristo que vos tem glorificado para que, reunidos em uma só submissão, sujeitos ao bispo e ao presbitério, vos santifiqueis em todas as coisas.
 
PARTE III - EXORTAÇÃO À UNIDADE
 
3. Não vos dou ordens como se fora alguém. Mesmo que carregue os grilhões pelo Nome, ainda não cheguei à perfeição em Jesus Cristo. Pois agora é que começo a instruir-me e vos falo como a meus condiscípulos. Eu de fato deveria ser ungido por vós com fé, exortações, paciência, grandeza d’alma. Mas, desde que a caridade não me permite calar-me sobre vós, tomei a dianteira de exortar-vos a correr de acordo com o pensamento de Deus. Pois Jesus Cristo, nossa vida inseparável, é o pensamento do Pai, como por sua vez os bispos, estabelecidos até os confins da terra, estão no pensamento de Jesus Cristo.
4. Segue daí, que vos convém avançar junto, de acordo com o pensamento do bispo, como aliás fazeis. Pois vosso presbitério digno de tão boa reputação, digno que é de Deus, sintoniza com o bispo como cordas com a cítara. Por isso, no acorde de vossos sentimentos e em vossa caridade harmoniosa, Jesus Cristo é que é cantado. Mas também, um por um, chegais a formar um coro, para cantardes juntos em harmonia; acertando o tom de Deus na unidade, cantais em uníssono por Jesus ao Pai, a fim de que vos escute e reconheça pelas vossas boas obras, que sois membros de seu Filho. Vale assim a pena viver em unidade intangível, para que a toda hora também participeis de Deus.
5. Pois, se em tão curto lapso de tempo tive tal intimidade com vosso bispo, não em sentido humano mas espiritual, quanto mais devo felicitar-vos por estardes tão profundamente ligados a ele como a Igreja a Jesus Cris­to e como Jesus Cristo ao Pai, para que todas as coisas estejam em sintonia na unidade. Não se iluda ninguém. Se não se encontrar no interior do recinto do altar, ver-se-á privado do pão de Deus. Vede, se a oração de um e dois possui tal força, quanto mais então a do bispo e de toda a Igreja! Aquele que não vem à reunião comum já se revela como orgulhoso e se julgou a si próprio, pois está escrito: «Deus se opõe aos orgulhosos». Por conseguinte, cuidemo-nos de não nos opormos ao bispo, para estarmos submissos a Deus.
6. E quanto mais alguém percebe que o bispo se cala, mais o respeite. Pois aquele a quem o dono da casa delega para a administração e preciso que o recebamos como receberíamos ao que o enviou. Torna-se pois evidente que se deve olhar para o bispo, como para o próprio Senhor. De fato, porém, o mesmo Onésimo exalta vossa boa disciplina em Deus, dizendo que viveis to­dos conforme a verdade e que entre vós não há heresia que chegue a tomar pé. Antes pelo contrário, a ninguém mais prestais ouvido, a não ser a Jesus Cristo, que fala na verdade.
 
PARTE IV - FUGIR DA HERESIA
 
7. Há os que costumam, por um ardil pernicioso, servir-se por toda parte do Nome, mas praticam coisas indignas de Deus. A estes evitareis como a animais selvagens. São realmente cães raivosos, que mordem traiçoeiramente. É preciso precaver-vos de suas mordeduras, difíceis de curar. Um é o médico, em carne e espírito, gerado e não gerado, aparecendo na carne como Deus, na morte vida verdadeira, tanto de Maria como de Deus, primeiro capaz de sofrer, depois impassível, Jesus Cristo Senhor Nosso.
8. Que ninguém vos iluda pois. Nem vos deixeis aliás iludir, sendo todo inteiros de Deus. Pois, se nenhuma intriga se armou entre vós, que vos possa atormentar, é sinal de que viveis segundo Deus. Sou vossa vítima e me ofereço em sacrifício por vossa Igreja, efésios, que será celebrada pelos séculos. Os carnais não podem praticar obras espirituais, nem os espirituais obras carnais, como nem a fé pratica as obras da infidelidade nem a infidelidade as da fé. Mas também aquilo que praticais, segundo a carne, é espiritual, pois fazeis tudo em Jesus Cristo.
9. Soube de pessoas que por lá passaram, fazendo-se portadoras de más doutrinas: não lhes permitistes espalhá-las entre vós, tapando os ouvidos para não acolher as sementes por eles espalhadas, sabendo que sois pedras do templo do Pai, preparadas para a construção de Deus Pai, alçadas para as alturas pela alavanca de Jesus Cristo, alavanca que é a Cruz, servindo-vos do Espírito Santo como de um cabo. Vossa fé por um lado é o guia, enquanto a caridade se transforma em caminho que leva para cima, até Deus. Sois assim todos companheiros de viagem, portadores de Deus, porta­dores de um templo, portadores de Cristo, portadores do que é santo, adornados em todos os sentidos com os preceitos de Jesus Cristo. Alegro-me por isso convosco, por­que tive a honra de falar-vos através dessa carta e de vos felicitar, porque, segundo a nova vida, nada amais senão somente a Deus.
 
PARTE V - DAR EXEMPLO DE VIRTUDES
 
10. Mas também pelos demais homens rezai sem cessar. Pois neles existe esperança de conversão, de chegarem a Deus. Permiti-lhes que se instruam junto a vós por vossas obras. Diante de suas explosões de cólera, vós sereis mansos; diante de sua presunção, se­reis humildes; diante de suas blasfêmias, oferecereis orações, diante dos erros deles, manter-vos-eis firmes na fé, diante de sua selvageria, sereis pacíficos, sem pro­curar imitá-los. Que nos encontrem como irmãos pela bondade. Esforcemo-nos por sermos imitadores do Senhor quem mais do que Ele foi injustiçado? quem mais despojado? quem mais desprestigiado? Assim não seja encontrada entre vós planta alguma do diabo, mas que em toda pureza e temperança, permaneçais em Jesus Cristo, corporal e espiritualmente.
 
PARTE VI - PROCURAR CRISTO, FONTE DE VIDA E UNIDADE
 
11. Chegamos aos últimos tempos: resta envergonharmo-nos, temermos a longanimidade de Deus, para que ela não se transforme para nós em condenação. Ou temeremos a ira vindoura, ou amaremos a graça presente. Uma das duas. Só o fato de nos encontrarmos em Cristo Jesus nos garantirá entrada para a vida verdadeira. Fora dele, nada tenha valor para vós. É n’Ele que carrego os grilhões, estas pérolas espirituais. Com elas gostaria de ressuscitar, graças à vossa oração, na qual espero ter sempre parte para compartilhar também a herança dos cristãos de Éfeso, que também sempre estiveram unidos aos Apóstolos na força de Jesus Cristo.
12. Sei quem sou e a quem escrevo. Eu, um condenado; vós, os que alcançastes misericórdia. Eu, em perigo; vós, seguros. Vós sois o lugar de trânsito dos que são assumidos para Deus, iniciados nos mistérios com Paulo, o santificado, que recebeu testemunho, e mereceu chamar-se bem-aventurado, em cujas pegadas gostaria de encontrar-me na hora de estar com Deus, ele que em todas as cartas de vós se lembra em Cris­to Jesus.
13. Cuidai, pois, de reunir-vos com mais freqüência, para dar a Deus ação de graças e louvor. Pois, quando vos reunis com freqüência, abatem-se as forças de Satanás e desfaz-se o malefício, pela vossa união na fé. Nada melhor que a paz, que aniquila toda guerra de poderes celestes ou terrestres.
 
PARTE VII - FÉ E CARIDADE: CRITÉRIO DO VERDADEIRO DISCÍPULO
 
14. Nada disso constitui novidade, se mantiverdes de modo perfeito em Jesus Cristo a fé e a caridade, que são o começo da vida e seu fim. Pois o começo é a fé e o fim a caridade. Ambas reunidas são Deus, enquanto que tudo o mais é conseqüência para a perfeição humana. Ninguém peca enquanto professa a fé, ninguém odeia enquanto possui a caridade. Conhece-se a árvore pelos seus frutos, assim os que professam ser de Cristo serão reconhecidos pelas obras. Pois nesta hora não é de profissão de fé que se trata, mas de nos mantermos na prática da fé até ao fim.
 
PARTE VIII - NÃO SE DEIXAR SEDUZIR PELA HERESIA
 
15. É melhor calar-se e ser do que falar e não ser. É maravilhoso ensinar, quando se faz o que se diz. Assim, um é o Mestre «que falou e tudo foi feito», também aquilo que realizou em silêncio é digno do Pai. Quem de fato possui a Palavra de Jesus pode até ouvir-lhe o silêncio; para ser perfeito, para agir pelo que fala e ser reconhecido pelo que cala. Nada escapa ao Senhor; antes, o ue é s
Epístola aos Tralianos
Inácio, Bispo de Antioquia (35-110 d.C)
Tradução: Toni Lopes
 
INTRODRUÇÃO
 
Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja santa de Trales na Ásia, Igreja amada por Deus, Pai de Jesus Cristo, eleita e digna de Deus, que possui a paz na carne e no espírito pela Paixão de Jesus Cristo, nossa esperança na ressurreição que nos conduzirá a ele. Saúdo-a em toda a plenitude, à maneira dos Apóstolos e lhe transmito os votos da maior felicidade.
 
CAPÍTULO I
 
Convenci-me de vossos sentimentos puros e intocáveis na paciência; vós os tendes não apenas para uso mas por natureza, como me esclareceu Políbio, vosso bispo, que compareceu por vontade de Deus e Jesus Cristo, em Esmirna, para regozijar-se desta forma comigo prisioneiro em Jesus Cristo. Nele, pude assim contempla toda a vossa comunidade. Tendo pois experimentado através dele vossa benevolência segundo Deus, eu O glorifiquei, sabendo-vos imitadores d’Ele.
 
CAPÍTULO II
 
Na hora em que vos submeteis ao bispo como a Jesus Cristo, me dais a impressão de não viverdes segundo os homens, mas segundo Jesus Cristo, que morreu por nós para fugirdes à morte pela confiança na morte d’Ele. É mesmo necessário, como alias e de vosso feitio, nada empreender sem o bispo, mas submeter-vos também ao presbitério como a apóstolos de Jesus Cristo nossa Esperança, no qual nos encontraremos se assim nos portarmos. Faz-se igualmente mister que os que são diáconos dos mistérios de Jesus Cristo agradem a todos em tudo. Pois não é de comidas e bebi das que são diáconos, mas são servos da Igreja de Deus. Terão que precaver-se pois contra as acusações, como contra o fogo.
 
CAPÍTULO III
 
Da mesma forma deverão todos respeitar os diáconos como a Jesus Cristo, como também ao bispo que é a imagem do Pai, aos presbíteros, porém como ao se nado de Deus e ao colégio dos apóstolos. Sem eles, já não se pode falar de Igreja. Estou convencido que em relação a eles assim procedeis, pois recebi e guardo comigo a prova de vossa caridade na pessoa de vosso bispo: sua mesma presença se constitui num grande ensinamento, sua mansidão é um poder. Suponho que os próprios ateus o respeitem. Por amor vos poupo, embora pudesse escrever com mais veemência sobre o assunto. Não me atrevi a dar-vos ordens, como se fosse Apóstolo, pois me encontro na condição de condenado.
 
CAPÍTULO IV
 
Chego a pensar muita coisa em Deus, mas me contenho, para não me perder na vanglória. É exata mente nesta hora que mais devo cuidar-me, não dando atenção aos que me exaltam, pois enquanto falam estão a flagelar-me. Amo, é certo, o sofrimento, mas não sei se sou digno dele. Minha impaciência não transparece aos olhos da multidão, a mim é que me tortura tanto mais. Necessito assim de mansidão, na qual se aniquila o príncipe deste mundo.
 
CAPÍTULO V
 
Não saberia eu descrever-vos as coisas do céu? Receio, porém, fazer-vos mal, já que sois ainda crianças. Perdoai-me, se não o faço; não sendo capazes de assimilar, poderíeis sufocar-vos. Pois também eu, embora prisioneiro e capaz de conhecer coisas celestes, mesmo as hierarquias dos anjos e os exércitos dos principados, coisas visíveis e invisíveis, nem por isso ainda sou discípulo. Muito nos falta, para que Deus não nos chegue a faltar.
 
CAPÍTULO VI
 
Exorto-vos, pois - não eu, mas o amor de Jesus Cristo: Servi-vos tão somente de alimento cristão, abstende-vos de planta estranha, isto é, de heresia. Misturam Jesus Cristo a si próprios, fazendo passar-se por dignos de fé, como quem mistura droga mortífera juntamente com vinho e mel, bebida que o ignorante toma com gosto, mas gosto mau, pois é para a morte.
 
CAPÍTULO VII
 
Cuidai-vos, pois, de tais pessoas. Fá-lo-eis, se não vos orgulhardes e não vos separardes de Jesus Cris to Deus, nem do bispo nem das prescrições dos Após tolos. Quem se encontra no interior do santuário é puro; quem se encontra fora do santuário não é puro, isto é, quem pratica alguma coisa sem o bispo, o presbitério e o diácono, este não é puro em sua consciência.
 
CAPÍTULO VIII
 
Não que tivesse conhecimento de algo assim entre vós; tento sim prevenir-vos como a pessoas queridas, prevendo as ciladas do diabo. Adotai, pois a mansidão e renovai-vos na fé, que é a carne do Senhor, e na caridade, que é o sangue de Jesus Cristo. Ninguém dentre vós tenha algo contra o vizinho. Não deis pretextos aos gentios, para que a comunidade de Deus não seja injuriada por causa de uns poucos insensatos. Pois ai daquele por cuja leviandade meu nome for por alguns blasfemado.
 
CAPÍTULO IX
 
Mantende-vos surdos na hora em que alguém vos falar de outra coisa que de Jesus, da descendência de Davi filho de Maria, o qual nasceu de fato, comeu e bebeu, foi de fato perseguido sob Pôncio Pilatos, de fato foi crucificado e morreu à vista dos que estão nos céus, na terra e debaixo da terra. O qual de fato também ressurgiu dos mortos, ressuscitando-O o próprio Pai. É o mesmo Pai d’Ele que, à Sua semelhança, ressuscitará em Cristo Jesus aos que cremos n’Ele; fora d’ele, não temos vida verdadeira.
 
CAPÍTULO X
 
Se porém, como afirmam alguns que são ateus, isto é, sem fé, Ele só tivesse sofrido aparentemente - eles é que só existem aparentemente - eu por que estou preso, por que peço para combater com as feras? Morro pois em vão. Estaria então a mentir contra o Senhor.
 
CAPÍTULO XI
 
Fugi pois destas plantas parasitas, que produzem fruto mortífero. Se alguém provar delas morre na hora. Não são pois eles plantação do Pai. Se o fossem, apareceriam como rebentos da cruz, e seu fruto se ria imperecível. Pela Cruz, Ele vos conclama em sua Paixão como Seus membros. Não pode uma cabeça nascer sem membros, uma vez que Deus nos promete a unidade que é Ele próprio.
 
CAPÍTULO XII
 
Saúdo-vos de Esmirna, em companhia das Igrejas de Deus que estão comigo, elas que em todo sentido me confortaram na carne e no espírito. Meus grilhões, que carrego por amor de Jesus Cristo com o pedido de que encontre a Deus, vos conclamam: perseverai em vossa concórdia e na oração comum! Convém que cada um de vós, e de modo particular os presbíteros, confortem o bispo para a honra do Pai, de Jesus Cristo e dos Apóstolos. Desejo que me escuteis com amor, para que com minha carta não me transforme em testemunho contra vós. Rezai também por mim, que preciso de vossa caridade junto à misericórdia de Deus, para tornar-me digno da herança que me toca alcançar, para não ser encontrado indigno de recebê-la.
 
CAPÍTULO XIII
 
Saúda-vos a caridade dos esmirnenses e efésios. Lembrai-vos em vossas orações da Igreja na Síria: não mereço trazer-lhe o nome, pois sou o último dentre eles. Passar bem em Jesus Cristo, sujeitando-vos ao bispo como ao mandamento do Senhor, e também ao presbitério. Amai-vos mutuamente, um por um, em coração indiviso. Meu espírito por vós se empenha, não apenas agora, também quando com Deus me encontrar. Ainda estou em perigo, mas o Pai é fiel para cumprir em Jesus Cristo o meu e o vosso pedido. Oxalá vos encontreis irrepreensíveis n’Ele.egredo para nós está perto d’Ele. Façamos pois tudo como se Ele em nós morasse, para sermos seus templos e Ele nosso Deus em nós. E é essa a realidade; e ela se manifestará aos nossos olhos, se o amarmos devidamente.
16. Não vos iludais, meus irmãos, os corruptores da família não herdarão o Reino de Deus. Pois, se pereceram os que praticavam tais coisas segundo a carne, quanto mais os que perverterem a fé em Deus, ensinando doutrina má, fé pela qual Jesus Cristo foi crucificado? Um tal, tornando-se impuro, marchará para o fogo inextinguível, como também marchará aquele que o escuta.
17. Por isso, recebeu o Senhor unção sobre a cabeça para exalar em favor da Igreja o perfume da incorrupção. Não vos deixeis ungir pelo mau odor da doutrina do príncipe deste mundo, de forma que vos leve cativos para longe da vida que vos espera. Por que não nos tornamos prudentes, aceitando o conhecimento de Deus, isto é, Jesus Cristo? Por que morrermos tolamente, desconhecendo o dom que o Senhor nos enviou de verdade?
 
PARTE IX - O HOMEM NOVO
 
18. Meu espírito é vítima destinada à Cruz, e esta é escândalo para os incrédulos; para nós, porém, salvação e vida eterna. Onde se encontra o sábio? Onde o pesquisador? Onde a fama dos assim chamados intelectuais? Pois nosso Deus, Jesus Cristo, tomou carne no seio de Maria segundo o plano de Deus, sendo de um lado descendente de Davi, provindo por outro do Espírito Santo. Nasceu, foi batizado, para purificar a água pela sua Paixão.
19. Permaneceu oculta ao príncipe deste mundo a virgindade de Maria e seu parto, como igualmente a morte do Senhor: três mistérios de grande alcance que se processaram no silêncio de Deus. Como então foram eles manifestados aos séculos? Um astro brilhou no céu, mais que todos os astros, sua luz era inenarrável e sua novidade suscitou estranheza; todas as demais estrelas por sua vez junto com o sol e a lua formaram coro em torno do astro, ele, no entanto, projetava mais luz que todos os demais; produziu-se con­fusão: donde viria a novidade, tão diversa deles próprios? A conseqüência disso foi que toda a magia se desfez e que desapareceu toda cadeia de maldade; a ignorância se dissipou, o antigo reinado se destruiu, quando Deus apareceu em forma humana, para a novidade da vida eterna; começou a realizar-se o que fora decidido jun­to a Deus. Desde então tudo se movimentou a um tempo, porque se preparava a destruição da morte.
20. Se Jesus Cristo, pela vossa oração, me tornar digno e se for de Sua vontade, num segundo escrito que desejo compor para vós, hei de esclarecer o que iniciei, a saber, o plano da salvação, em relação ao homem novo, Jesus Cristo, na fé para Ele e no amor para com Ele, em Sua Paixão e Ressurreição. Sobretudo se o Senhor me revelar, que todos, em particular e em comum, na graça que procede do Nome, vos reunis na mesma fé e em Jesus Cristo, que descende segundo a carne de Davi, filho do homem e filho de Deus, para obedecermos ao bispo e ao presbitério numa concórdia indivisível, partindo um mesmo pão, que é o remédio da imortalidade, antídoto contra a morte, mas vida em Jesus Cristo para sempre.
 
PARTE X - DESPEDIDA E RECOMENDAÇÕES
 
21. Sou preço de resgate para vós e para os que enviastes para honra de Deus a Esmirna, donde também vos escrevo, em sinal de gratidão ao Senhor e como prova de amor a Policarpo como a vós. Lembrai-vos de mim, como também Jesus Cristo se lembra de vós. Rezai pela Igreja da Síria, donde sou levado preso para Roma. Sendo o último dos fiéis de lá fui julgado digno de servir à honra de Deus. Saudações em Deus Pai e em Jesus Cristo, nossa esperança comum.
Fonte: Patrística - Livro Padres Apostólicos, Ed. Paulus
 
 
Epístola aos Magnésios
Inácio, Bispo de Antioquia (35-110 d.C)
 
INTRODUÇÃO
 
Inácio, também chamado Teóforo, à [Igreja] abençoada na graça de Deus Pai, em Jesus Cristo nosso Salvador, com quem eu saúdo a Igreja que está na Magnésia, próxima ao [rio] Meandro, e desejo a ela grande alegria em Deus Pai e em Jesus Cristo.
 
CAPÍTULO I
 
Tendo sido informado sobre o vosso amor devoto e perfeito, alegrei-me profundamente e resolvi comunicar-me convosco na fé em Jesus Cristo. Para aquele que pensa ser digno de portar o mais honrável de todos os nomes, nestas cadeias que ora carrego, louvo as igrejas, nas quais oro pela união entre o corpo e o espírito de Jesus Cristo, fonte constante da nossa vida, da fé e do amor, e para as quais nada pode ser especialmente preferível a Jesus e ao Pai; certamente encontraremos a Deus se resistirmos a todos os assaltos do príncipe deste mundo.
 
CAPÍTULO II
 
Portanto, já que tive a honra de vos ver na pessoa de Damas, vosso ilustre bispo, e de vossos ilustres presbíteros, Basso e Apolônio, bem como do diácono Zótio, meu companheiro de serviço, cuja amizade espero sempre possuir - já que ele é submisso ao bispo como à graça de Deus e ao presbitério como à lei de Jesus Cristo - [passo agora a vos escrever]:
 
CAPÍTULO III
 
Não deveis tratar vosso bispo com tanta familiaridade em razão de sua juventude, mas deveis tratá-lo com toda a reverência, respeitando ao poder de Deus Pai, assim como fazem os santos presbíteros - como fiquei sabendo - que não o julgaram imprudentemente, a partir de sua aparência jovem claramente manifesta, mas, sendo prudentes em Deus, submeteram-se a ele, ou melhor, não a ele, mas ao Pai de Jesus Cristo, que é o Bispo de todos nós. Assim, é adequado a vós, sem qualquer hipocrisia, obedecerdes [ao vosso bispo], em honra dAquele que nos amou tanto, já que [pela falsa conduta] não se tenta enganar ao bispo visível, mas Àquele que é invisível. E, com tal conduta, não se faz referência ao homem, mas a Deus, que conhece todos os segredos.
 
CAPÍTULO IV
 
É adequado, então, não apenas ser chamados "cristãos", mas sê-lo também de verdade: como alguém reconhece outro com o título de bispo e depois faz todas as coisas sem ele? Tais pessoas parecem-me desprovidas de boa consciência, visto que se reúnem em desconformidade com o mandamento.
 
CAPÍTULO V
 
Visto, então, que todas as coisas têm um fim, estas duas coistas são simultaneamente à nossa frente: a morte e a vida; todos encontrarão seu próprio lugar. É como se fossem dois tipos de moedas: a de Deus e a do mundo, cada qual com suas próprias características estampadas nelas. O descrente é deste mundo, mas o crente tem, no amor, a característica de Deus Pai, por Jesus Cristo; se não estivermos prontos para morrer em Sua Paixão, Sua vida não estará em nós.
 
CAPÍTULO VI
 
Nas pessoas acima mencionadas, pude observar, na fé e no amor, toda a vossa comunidade; assim, exorto-vos a estudarem todas as coisas com divina harmonia, tendo vosso bispo presidindo no lugar de Deus e vossos presbíteros no lugar da assembléia dos apóstolos, junto com seus diáconos - que são muito queridos para mim - aos quais foi confiado o serviço de Jesus Cristo, que estava com o Pai antes do início dos tempos e que por fim se manifestou. Fazei tudo, então, imitando a mesma conduta divina, mantendo o respeito uns pelos outros, não olhando para o seu próximo segundo a carne, mas amando-o continuamente em Jesus Cristo. Que nada exista entre vós causando divisão, mas sejais unidos ao vosso bispo e àqueles que vos presidem, como um sinal evidente da vossa imortalidade.
 
CAPÍTULO VII
 
Assim como o Senhor nada fez sem o Pai, ainda que estivesse unido a Ele, nem por si mesmo e nem pelos apóstolos, também vós não deveis fazer nada sem o bispo e os presbíteros. Nem deveis tentar fazer com que algo pareça razoável e justo para vós mesmos; mas, reunindo-vos num mesmo lugar, orai uma única prece, fazei uma única súplica, tenham uma única mente e esperança, no amor e na alegria imaculada. Há um só Jesus Cristo e nada é melhor que Ele. Então, correi todos juntos ao único templo de Deus, ao único altar, ao único Jesus Cristo, que procede do único Pai, está com Ele e a Ele retornou.
 
CAPÍTULO VIII
 
Não sejais enganados por doutrinas estranhas, nem por velhas fábulas, as quais são inúteis, pois se ainda vivemos segundo a Lei dos judeus, devemos reconhecer que não recebemos a graça. 2Ora, os diviníssimos profetas viveram segundo Cristo Jesus e, por isso, acabaram sendo perseguidos, pois eram inspirados por Sua graça a convencerem plenamente os descrentes de que existe apenas um Deus, que Se manifestou por Jesus Cristo, Seu Filho, o qual é o Seu Verbo eterno - não procedendo do silêncio - e que em todas as coisas agradou Aquele que O enviou.
 
CAPÍTULO IX
 
Se, então, aqueles que eram educados na antiga ordem das coisas se apossaram da nova esperança, não mais observando o sábado, mas observando o Dia do Senhor, no qual também a nossa vida foi libertada por Ele e por Sua morte - alguns negam que por tal mistério obtemos a fé e nele perseveramos para que ser contados como discípulos de Jesus Cristo, nosso único Mestre - 2como seremos capazes de viver longe Dele, cujos discípulos e os próprios profetas esperaram no Espírito para que Ele fosse o Instrutor deles? Era Ele que certamente esperavam, pois vindo, os libertou da morte.
 
CAPÍTULO X
 
Assim, não sejamos insensíveis à Sua bondade. Se Ele nos recompensasse conforme as nossas obras, certamente deixaríamos de existir. Porém, por termos tornado Seus discípulos, devemos aprender a viver de acordo com os princípios do Cristianismo. Quem é chamado por outro nome além deste não é de Deus. Abandonando, contudo, o mal, o passado, as más influências, estais vós sendo chamados a mudar de comportamento, o qual é de Jesus Cristo. Sede temperados Nele, para que ninguém entre vós seja corrompido, já que por vosso sabor próprio seríeis condenados. É absurdo professar Cristo Jesus e judaizar. O Cristianismo não precisa abraçar o Judaísmo, mas o Judaísmo deve abraçar o Cristianismo, para que toda língua possa professar a companhia de Deus.
 
CAPÍTULO XI
 
Amados: estas coisas [que vos escrevo] - não que eu saiba algo sobre o vosso comportamento, mas por ser inferior a vós - tem por objetivo previni-los para que não sejais fisgados pelos anzóis da vã doutrina, mas para que possais conquistar a segurança plena a respeito do nascimento, paixão e ressurreição que ocorreram na época do governo de Pôncio Pilatos, sendo verdadeiro e certo que tais eventos foram efetuados por Jesus Cristo, nossa esperança, de quem jamais possais ser afastados.
 
CAPÍTULO XII
 
Que eu possa alegrar-me convosco em todas as coisas, se o merecer! Mesmo acorrentado, não sou digno de ser comparado a qualquer de vós que estais em liberdade. Sei que vós não estais inchados de orgulho. já que possuis Jesus Cristo em vós mesmos. E tudo o mais que louvo em vós, sei que guardais com modéstia de espírito; como está escrito: "O homem justo é seu próprio acusador".
 
CAPÍTULO XIII
 
Portanto, estudai para manter-vos na doutrina do Senhor e dos apóstolos, para que todas as coisas que fizerdes possam prosperar tanto na carne quanto no espírito, na fé e no amor, no Filho e no Pai e no Espírito, no princípio e no fim; unidos com o vosso admirável bispo, com toda a preciosa coroa espiritual do vosso presbitério e com os diáconos que estão em conformidade com Deus. Sejais submissos ao bispo e uns aos outros, como Jesus Cristo é com o Pai, segundo a carne, e os apóstolos com Cristo, o Pai e o Espírito. Que haja assim uma união entre a carne e o espírito.
 
CAPÍTULO XIV
 
Sei que estais repletos de Deus e, por isso, exortei-vos brevemente. Lembrai-vos de mim em vossas orações, para que eu possa alcançar a Deus. E [lembrai-vos também] da Igreja que está na Síria, já que não sou digno de portá-la em meu nome. Necessito da vossa oração unida em Deus e do vosso amor, para que a Igreja da Síria seja considerada digna de ser refrescada pela vossa Igreja.
 
CAPÍTULO XV
 
Os efésios que habitam em Esmirna - de onde eu vos escrevo - estão aqui para a glória de Deus, como vós também fizestes; eles me reconfortam e vos saúdam juntamente com Policarpo, bispo dos esmirniotas. As demais igrejas, em honra de Jesus Cristo, também vos saúdam. Ficai bem na harmonia de Deus, vós que obtivestes o Espírito inseparável que é Jesus Cristo.
 
Epístola aos Romanos
Inácio, Bispo de Antioquia (35-110 d.C)
 
PARTE I - SAUDAÇÃO INICIAL
 
Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja que recebeu misericórdia pela grandeza do Pai altíssimo e de Jesus Cristo Seu Filho único, Igreja amada e iluminada pela vontade d’Aquele que escolheu todos os seres, isto é, segundo a fé e a caridade de Jesus Cristo nosso Deus, ela que também preside na região da terra dos romanos, digna de Deus, digna de honra, digna de ser chamada bem-aventurada, digna de louvor, digna de êxito, digna de pureza, e que preside à caridade na observância da lei de Cristo e que leva o nome do Pai. Saúdo-a também em nome de Jesus Cristo, filho do Pai. Aos que aderem a todos os seus mandamentos segundo a carne e o espírito, inabalavelmente cumulados e confirmados pela graça de Deus, purificados de todo colorido estranho, desejo todo o bem e irrepreensível alegria em Cristo Jesus nosso Deus.
 
PARTE II - VER A COMUNIDADE E IR A DEUS
 
1Pela oração, me foi concedida por Deus a graça de um dia contemplar vossos rostos dignos de Deus. Com insistência havia implorado tal favor. Preso em Cris­to Jesus, espero abraçar-vos, se for da vontade d’Ele, que eu mereça chegar ao termo. Deu certo o começo. Oxalá consiga a graça de receber sem impedimento minha herança. É que temo não venha prejudicar-me vossa caridade. Pois a vós é fácil realizar o que pretendeis, enquanto é difícil para mim encontrar-me com Deus, caso vós não me poupeis.
 
PARTE III - NÃO IMPEDIR O MARTÍRIO
 
2Não quero que procureis agradar a homens, mas que agradeis a Deus, como de fato agradais. Nem eu terei jamais igual oportunidade de chegar a Deus, nem vós, caso calardes, jamais haveis de ligar vosso nome a obra melhor. Pois, se calardes a meu respeito, serei palavra de Deus; se porém amardes minha carne, não passarei de novo a ser senão uma voz. Não queirais favorecer-me, senão deixando imolar-me a Deus, enquanto há um altar preparado, para formardes pelo amor um coro em homenagem a Deus e cantardes ao Pai em Jesus Cristo, por que Deus se dignou conceder de o bispo da Síria encontrar-se no Ocidente vindo do Oriente. É maravilhoso o ocaso: vir do ocaso do mundo em direção a Deus, para levantar-me junto a Ele.
 
PARTE IV - SER CRISTÃO DE FATO
 
3Jamais tivestes inveja de alguém, instruístes sim a outrem. É meu desejo que guardem sua força as lições que inculcais a vossos discípulos. Pedi em meu favor unicamente a força exterior e interior, a fim de não apenas falar, mas também querer, de não apenas dizer-me cristão, mas de me manifestar como tal. Pois, se me manifestar como tal também posso chamar-me assim e ser fiel, na hora em que já não for visível para o mundo. Nenhuma ostentação é boa, pois o nosso Deus, Jesus Cristo, aparece mais desde que está oculto no Pai. O cristianismo não é o resultado de persuasão, mas grandeza, justamente quando odiado pelo mundo.
 
PARTE V - "SOU TRIGO DE DEUS"
 
4Escrevo a todas as Igrejas e insisto junto a todas que morro de boa vontade por Deus, se vós não mo impedirdes. Suplico-vos, não vos transformeis em benevolência inoportuna para mim. Deixai-me ser comida para as feras, pelas quais me é possível encontrar Deus. Sou trigo de Deus e sou moído pelos dentes das feras, para encontrar-me como pão puro de Cristo. Acariciai antes as feras, para que se tornem meu túmulo e não deixem sobrar nada de meu corpo, para que na minha morte não me torne peso para ninguém. Então de fato serei discípulo de Jesus Cristo, quando o mundo nem mais vir meu corpo. Implorai a Cristo em meu favor, para que por estes instrumentos me faça vítima de Deus. Não é como Pedro e Paulo, que vos ordeno. Eles eram após­tolos, eu um condenado; aqueles, livres, e eu até agora escravo. Mas, quando tiver padecido, tornar-me-ei alforriado de Jesus Cristo, e ressuscitarei n’Ele, livre. E agora, preso, aprendo a nada desejar.
5Desde a Síria, venho combatendo com feras até Roma, por terra e por mar, de noite e de dia, preso a dez leopardos, isto é, a um destacamento de soldados, que se tornam piores quando se lhes faz o bem. Por seus maus tratos, porém, estou sendo mais instruído, mas nem por isso estou justificado. Oxalá goze destas feras que me estão preparadas; rezo que se encontrem bem dispostas para mim: hei de instigá-las, para que me devorem depressa, e não aconteça o que aconteceu com outros que, amedrontadas, me não toquem. Se elas por sua vez não quiserem de boa vontade, eu as forçarei. Perdoai-me: sei o que me convém; começo agora a ser discípulo. Coisa alguma visível e invisível me impeça que encontre a Jesus Cristo. Fogo e cruz, manadas de feras, quebraduras de ossos, esquartejamentos, trituração do corpo todo, os piores flagelos do diabo venham sobre mim, contanto que encontre a Jesus Cristo.
 
PARTE VI - IMITAR A PAIXÃO DE CRISTO
 
6De nada me valerão os confins do mundo nem os remos deste século. Maravilhoso é para mim morrer por Jesus Cristo, mais do que reinar até aos confins da terra. A Ele é que procuro, que morreu por nós; quero Aquele que ressuscitou por nossa causa. Aguarda-me o meu nascimento. Perdoai-me, irmãos: não queirais impedir-me de viver, não queirais que eu morra; ao que quer ser de Deus não o presenteeis ao mundo nem o seduzais com a matéria. Permiti que receba luz pura: quando lá chegar serei homem. Permiti que seja imitador do sofrimento de meu Deus. Se alguém o possui dentro de si, há de saber o que quero e se compadecerá de mim, porque conhece o que me impulsiona.
7O príncipe deste século quer arrebatar-me e perverter o pensamento voltado para Deus. Ninguém dos presentes queira auxiliá-lo. Passai antes para o meu lado, isto é, para o de Deus. Não tenhais a Jesus Cristo na boca, para irdes desejar o mundo. Não habite inveja em vosso meio. Nem que eu, em pessoa, vos imploras­se, não deveríeis obedecer-me: obedecei antes ao que vos escrevo, pois eu o faço como alguém que vive e anela morrer. Meu amor está crucificado e não há em mim fogo para amar a matéria; pelo contrário, água viva murmurando dentro de mim, falando-me ao interior: Vamos ao Pai! Não me agradam comida passageira, nem prazeres desta vida. Quero pão de Deus que é carne de Jesus Cristo, da descendência de Davi, e como bebida quero o sangue d’Ele, que é Amor in­corruptível.
 
PARTE VII - O AMOR CRUCIFICADO
 
8Já não quero viver à maneira de homens. É o que no entanto acontecerá, caso me apoiardes. Apoiai, para também receberdes apoio. Eu vo-lo peço em poucas palavras: Crede-me, Jesus Cristo, por Sua vez, há de manifestar-vos que digo a verdade, pois é Ele a boca sem mentiras, pela qual o Pai falou a verdade. Rezai por mim, para que chegue até lá. Não vos escrevi segundo a carne, mas segundo o pensamento de Deus. Se sofrer, será por vossa benevolência; se for reprovado, será por causa do vosso ódio.
 
PARTE VIII - DESPEDIDA E RECOMENDAÇÕES
 
9 Lembrai-vos em vossa oração da Igreja na Síria, a qual, em meu lugar, tem Deus como pastor. Só Jesus Cristo será seu bispo e a vossa caridade. Eu por minha parte me envergonho de ser chamado um deles; pois não o mereço em nada, sendo o último dentre eles e um abortivo. Mas, por misericórdia, sou alguém, se chego até Deus. Saúda-vos o meu espírito e a caridade das Igrejas que me receberam em nome de Jesus Cristo e não como simples transeunte. Até mesmo aquelas Igrejas que não se encontravam em meu roteiro, segundo a carne, vieram de todas as cidades ao meu encontro.
10 Escrevo estas coisas a vós de Esmirna, por obséquio dos efésios dignos de serem bem-aventurados. Entre muitos outros, encontra-se comigo também Crocos, nome que me é querido. Quanto aos que me precederam da Síria a Roma para a glória de Deus, espero que com eles tenhais travado conhecimento: comunicai-lhes também que estou perto. Todos eles são dignos de Deus e de vós; conviria que os confortásseis em tudo. Esta minha carta data do nono dia das calendas de setembro. Passar bem, até o fim, à espera de Jesus Cristo.
 
Epístola aos Filadélfos
Inácio, Bispo de Antioquia (35-110 d.C)
 
 
SAUDAÇÃO
 
Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo de Filadélfia da Ásia, que encontrou misericórdia e se fortaleceu na união que vem de Deus, cheia de imperturbável alegria na Paixão de Nosso Senhor e plenamente convencida da Ressurreição d'Ele, em toda misericórdia. Saúdo-a no sangue de Jesus Cristo, pois ela é minha perene e constante alegria, sobretudo se continuarem unidos ao Bispo, aos Presbíteros e Diáconos que estão com ele, instituídos segundo o plano de Jesus Cristo, que por Sua própria vontade os fortaleceu no Seu Espírito Santo.
 
I. ELOGIO AO BISPO
 
1. Sei que não foi por si mesmo, nem por meios humanos, nem tampouco por ambição, mas na caridade de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo, que o Bispo obteve a incumbência de estar a serviço da comunidade. Admiro comovido sua bondade, que, calada, mais ressonância encontra que as invencionices dos faladores. Harmoniza-se ele com os mandamentos, como a cítara com as cordas. Bem por isso, minha alma lhe engrandece a mente voltada para Deus - pois é virtuosa e perfeita - seu caráter firme e manso, tão do agrado do Deus vivo.
 
II. FUGIR DA HERESIA
 
2. Filhos que sois da luz da verdade, fugi da cisão das más doutrinas. Onde estiver o pastor, segui-o, quais ovelhas. Pois muitos lobos, aparentemente dignos de fé, apanham, através dos maus prazeres, os atletas de Deus. Se porém permanecerdes unidos, não acharão lugar entre vós.
3. Apartai-vos das ervas daninhas que Jesus Cristo não cultiva, por não serem plantação do Pai.Não que tenha encontrado em vosso meio discórdias, pelo contrário encontrei um povo purificado. Na verdade, o que são propriedade de Deus e de Jesus Cristo estão com o Bispo, e todos os que se converterem e voltarem à unidade da Igreja, pertencerão também a Deus, par terem uma vida segundo Jesus Cristo. Não vos deixeis iludir, meus irmãos. Se alguém seguir a um cismático, não herdará o reino de Deus; se alguém se guiar por doutrina alheia, não se conforma com a Paixão de Cristo.
 
III. UNIDADE NA EUCARISTIA
 
4. Sede solícitos em tomar parte numa só Eucaristia, porquanto uma é a carne de Nosso Senhor Jesus Cristo, um o cálice para a união com Seu sangue; um o altar, assim como também um é o Bispo, junto com seu presbitério e diáconos, aliás meus colegas de serviço. E isso, para fazerdes segundo Deus o que fizerdes.
 
IV. FUGIR DO JUDAÍSMO
 
5. Meus irmãos, transbordo todo de amor para convosco e em meu júbilo procuro confortar-vos. Não eu, mas Jesus Cristo. Estando preso em Seu Nome, temo tanto mais achar-me ainda imperfeito. No entanto, vossa prece me aperfeiçoará para Deus, com o intuito de conseguir a herança na qual obtive misericórdia, buscando refúgio no Evangelho, como na carne de Jesus, e nos Apóstolos como no presbitério da Igreja. Amemos igualmente os Profetas, por terem também eles anunciado o Evangelho, terem esperado n'Ele e O terem aguardado. Foram salvos por Lhe terem dado fé, e, unidos a Jesus Cristo, se tornarem santos dignos do nosso amor e admiração, aprovados pelo testemunho de Jesus Cristo, sendo enumerados no Evangelho da comum esperança.
6. Se, no entanto, alguém vier com interpretações judaizantes, não lhe deis ouvido. É melhor ouvir doutrina cristã dos lábios de um homem circuncidado do que a judaica de um não-circuncidado. Se porém ambos não falarem de Jesus Cristo, tenha-os em conta de colunas sepulcrais e mesmo de sepulcros, sobre os quais estão escritos apenas nomes de homens. Fugi pois das artimanhas e tramóias do príncipe deste século, para que não venhais a esmorecer no amor, atribulados pela sagacidade dele. Todos vós, porém, uni-vos num só coração indiviso. Agradeço a Deus, porque gozo de consciência tranqüila a vosso respeito e porque não há motivo de ninguém gloriar-se, nem oculta nem publicamente, por lhe ter sido eu um peso em coisa pequena ou grande. Faço votos que todos a quem falei assimilem minhas palavras, não porém em testemunho contra si mesmos.
 
V. INVESTIDAS CONTRA A UNIDADE
 
7. Alguns desejaram de fato enganar-me segundo a carne, mas o Espírito, que é de Deus, não se deixa enganar, pois Ele sabe donde vem e para onde vai e revela os segredos. Clamei, quando estive entre vós, e o disse alto e bom som, na voz de Deus: «Apegai-vos ao Bispo, ao Presbitério e aos Diáconos!» Alguns desconfiaram que eu assim falava, porque sabia da separação de diversos deles. No entanto, é-me testemunha Aquele, por quem estou preso, que por intermédio de homem carnal não vim a saber coisa alguma. O Espírito é que mo anunciou: Nada façais sem o Bispo! Guardai vosso corpo como templo de Deus! Amai a união! Fugi das discórdias! Tornai-vos imitadores de Jesus Cristo, como Ele o é do Pai!
8. Eu por minha parte cumpri o meu dever, agindo como homem destinado a unir. Deus não mora onde houver desunião e ira. A todos porém que se converterem perdoa o Senhor, se voltarem à unidade de Deus e ao senado do Bispo. Confio na graça de Jesus Cristo, pois Ele livrará de toda cadeia. Exorto-vos a nada praticar em espírito de dissenção, mas sim em conformidade com os ensinamentos de Cristo. É que ouvi alguns dizerem: «Se não o encontro nos documentos antigos, não dou fé ao Evangelho». Dizendo eu a eles «Está escrito», responderam-me: «É o que se deve provar! Para mim, documentos antigos são Jesus Cristo; para mim documentos invioláveis constituem a Sua Cruz, Sua Morte, Sua Ressurreição, como também a Fé que nos vem d'Ele! Nisso é que desejo, por vossa oração, ser justificado.
 
VI. ORIGINALIDADE DO EVANGELHO
 
9. Embora fossem honrados também os sacerdotes, coisa melhor porém é o Sumo-sacerdote, responsável pelo santo dos santos, pois só a Ele foram confiados os mistérios de Deus. É Ele a porta para o Pai, pela qual entram Abraão, Isaac e Jacó, os Profetas, os Apóstolos e a Igreja. Tudo isso leva à unidade de Deus. O Evangelho contém porém algo de mais sublime, a saber, a vinda do Salvador e Senhor nosso Jesus Cristo, a Sua Paixão e Ressurreição. A respeito d'Ele vaticinaram os queridos Profetas. O Evangelho constitui mesmo a consumação da imortalidade. Tudo se reveste de grande importância, se confiardes no Amor.
 
CONCLUSÃO E DESPEDIDA
 
10. Recebi notícia, que graças à oração e à participação íntima que cultivais em Jesus Cristo, a Igreja de Antioquia na Síria recobrou a paz. Convém portanto que vós, como Igreja de Deus, escolhais um diácono para presidir uma embaixada de Deus àquela cidade, e congratular-se com eles, por estarem unidos pelos mesmos vínculos, e glorificar o Nome. Felicito em Jesus Cristo aquele que for achado digno deste ministério; também vós tereis a vossa glória. Se o quiserdes, isso não vos será impossível para a glória de Deus, pois que também as Igrejas mais vizinhas mandaram ou Bispos, ou Presbíteros e Diáconos.
11. A respeito de Fílon, diácono da Cilícia, posso informar: é homem de prestígio, que ainda agora me serve no ministério da palavra de Deus, juntamente com Reos Agátopos, outro homem de consideração, que me acompanha desde a Síria, com desprezo da própria vida. Também eles dão testemunho de vós. Da mesma forma eu agradeço a Deus por vós, porque os recebestes, como o Senhor vos recebeu. Aqueles que lhes faltaram de respeito encontrem o perdão pela graça de Deus. Saúda-vos a caridade dos irmãos de Trôade, donde também vos escrevo por intermédio de Burrus que, a pedido dos efésios e esmirnenses, me acompanha, como penhor de honra. O Senhor Jesus Cristo honrá-los-á, pois, n'Ele esperam com corpo, alma, espírito, fé, amor e concórdia. Adeus em Jesus Cristo, esperança comum de nós todos.
 
Epístola aos Esmirnenses
Inácio, Bispo de Antioquia (35-110 d.C)
 
INTRODUÇÃO
Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja de Deus Pai e de Jesus Cristo amado, Igreja que encontrou misericórdia em todo dom da graça, repleta de fé e amor, sem que lhe falte dom algum, agradabilíssima a Deus e portadora de santidade, situada em Esmirna, na Ásia. Cordiais saudações em espírito irrepreensível e na pa­lavra de Deus.
CAPÍTULO I
 
Glorifico a Jesus Cristo, Deus, que vos fez tão sábios. Cheguei a saber efetivamente que estais aparelhados com fé inabalável, como que pregados de corpo e alma na Cruz do Senhor Jesus Cristo, confirmados na caridade no Sangue de Cristo, cheios de fé em Nosso Senhor, que é de fato da linhagem de Davi, segundo a carne, Filho de Deus porém consoante a vontade e o poder de Deus, de fato nascido de uma Virgem e batizado por João, a fim de que se cumpra n’Ele toda a justiça. Sob Pôncio Pilatos, e o tetrarca Herodes foi também de fato pregado (na Cruz), em carne, por nossa causa - fruto pelo qual temos a vida, pela Sua Paixão bendita em Deus - a fim de que Ele por Sua ressurreição levantasse Seu sinal para os séculos em beneficio de Seus santos fiéis, tanto judeus, como gentios, no único corpo de Sua Igreja.
 
CAPÍTULO II
Tudo isso padeceu por nossa causa, para obtermos salvação. Padeceu de fato, como também de fato ressuscitou a Si próprio, não padecendo só aparente­mente, como afirmam alguns infiéis. Eles é que só vivem aparentemente, e, conforme pensam, também lhes sucederá: não terão corpo e se assemelharão aos demônios.
 
CAPÍTULO III
Eu porém sei e dou fé que Ele, mesmo depois da ressurreição, permanece em Sua carne. Quando se apresentou também aos companheiros de Pedro, disse-lhes: Tocai em mim, apalpai-me e vede que não sou espírito sem corpo. De pronto n’Ele tocaram e creram, entrando em contato com Seu Corpo e com Seu espírito. Por isso, desprezaram também a morte e a ela se sobrepuseram. Após a ressurreição, comeu e bebeu com eles, como alguém que tem corpo, ainda que es­tivesse unido espiritualmente ao Pai.
 
CAPÍTULO IV
Encareço tais verdades junto a vós, caríssimos, embora saiba que também vós assim pensais. Quero prevenir-vos contra os animais ferozes em forma humana. Não só não deveis recebê-los, mas, quanto possível, não vos encontreis com eles. Só haveis de rezar por eles, para que, quem sabe, se convertam, coisa por certo difícil. Sobre eles, no entanto, tem poder Jesus Cristo, nossa verdadeira vida. Pois, se nosso Senhor só realizou as obras na aparência, então também eu estou preso só aparentemente. Por que então me entreguei a mim mesmo, à morte, ao fogo, à espada, às feras? Mas estar perto da espada é estar perto de Deus; encontrar-se em meio às feras é encontrar-se junto a Deus, unicamente, porém, quando em nome de Jesus Cristo. Para padecer junto com Ele, tudo suporto, confortado por Ele, que se tornou perfeito homem.
 
CAPÍTULO V
Alguns O negam, por ignorância, ou melhor, foram renegados por Ele, por serem antes advogados da morte do que da verdade. A estes não conseguiram converter as profecias, nem a lei de Moisés, nem mesmo até hoje o Evangelho e as torturas de cada um de nos. Pois sobre nós professam eles a mesma opinião. De que me vale um homem - ainda que me louve - se blasfema contra meu Senhor, não confessando que Ele assumiu carne? Quem não o professa negou-O por completo e carrega consigo seu cadáver. Os nomes deles, uma vez que são infiéis, não me pareceu necessário escrevê-los; preferiria até nem lembrar-me deles, enquanto se não converterem à Paixão, que é a nossa Ressurreição.
 
CAPÍTULO VI
Ninguém se iluda: mesmo os poderes celestes e a glória dos anjos, até os arcontes - visíveis e in­visíveis hão de sentir o juízo, caso não crerem no sangue de Cristo. Compreenda-o quem for capaz de o compreender. Ninguém se ufane de sua posição, pois o essencial é a fé e o amor, e nada se lhes prefira. Considerai bem como se opõem ao pensamento de Deus os que se prendem a doutrinas heterodoxas a respeito da graça de Jesus Cristo, vinda a nós. Não lhes importa o dever de caridade, nem fazem caso da viúva e do órfão, nem do oprimido, nem do prisioneiro ou do liberto, nem do que padece fome ou sede.
 
CAPÍTULO VII
Abstêm-se eles da Eucaristia e da oração, por­que não reconhecem que a Eucaristia é a carne de nosso Salvador Jesus Cristo, carne que padeceu por nos­sos pecados e que o Pai, em Sua bondade, ressuscitou. Os que recusam o dom de Deus, morrem disputando. Ser-lhes-ia bem mais útil praticarem a caridade, para também ressuscitarem. Convém, pois, manter-se longe de tais pessoas, deixar de falar delas em particular e em público, e passar toda a atenção aos Profetas, especialmente ao Evangelho, pelo qual se nos patenteou a Paixão e se consumou a Ressurreição. Fugi das dissensões, fonte de misérias.
 
CAPÍTULO VIII
Sigam todos ao bispo, como Jesus Cristo ao Pai; sigam ao presbitério como aos apóstolos. Acatem os diáconos, como à lei de Deus. Ninguém faça sem o bispo coisa alguma que diga respeito à Igreja. Por legítima seja tida tão-somente a Eucaristia, feita sob a presidência do bispo ou por delegado seu. Onde quer que se apresente o bispo, ali também esteja a comunidade, assim como a presença de Cristo Jesus também nos assegura a presença da Igreja Católica. Sem o bispo, não é permitido nem batizar nem celebrar o ágape. Tudo, porém, o que ele aprovar será também agradável a Deus, para que tudo quanto se fizer seja seguro e legítimo.
 
CAPÍTULO IX
No mais, é razoável voltarmos ao bom-senso, e convertermo-nos a Deus, enquanto ainda for tempo. Bom é tomarmos conhecimento de Deus e do bispo. Quem honra o bispo será também honrado por Deus; quem faz algo às ocultas do bispo presta culto ao diabo. Que tudo redunde em graça a vosso favor, pois bem o mereceis. Vós me confortastes de toda maneira e Jesus Cristo a vós. As provas de carinho me seguiram, presente estivesse eu ou ausente. Que Deus seja a paga, por cujo amor tudo suportais, pelo que também haveis de chegar a possuí-lo.
 
CAPÍTULO X
Fizestes bem em receber, como diáconos de Cristo-Deus, a Fílon e Reos Agátopos - que pela causa de Deus me seguiram. Agradecem eles ao Senhor por vós, porque os confortastes de toda a sorte. Nada disso se perderá para vós. Dou-vos como preço de resgate meu espírito e minhas algemas que vós não desprezastes e de que também não vos envergonhastes. Jesus Cristo também de vós não se envergonhará, Ele que é a fé perfeita.
 
CAPÍTULO XI
Vossa oração aproveitou à Igreja de Antioquia na Síria, de onde vim preso com grilhões, tão do agrado de Deus, e donde a todos saúdo, embora não seja digno de ser de lá, eu, o menor dentre eles. Mas, pela vontade de Deus, fui tido por digno, não pelo julgamento de minha consciência, mas sim pela graça de Deus. Desejo que ela me seja concedida em sua perfeição, a fim de que eu, por meio de vossa oração, encontre a Deus. No entanto, para que vossa obra seja per­feita, tanto na terra como no céu, cumpre que a Vossa Igreja, para honra de Deus, escolha um seu legado que vá até a Síria, para se congratular com eles, porque gozam novamente de paz, readquiriram sua grandeza e lhes foi restaurado o corpo. É a meu ver de fato obra digna enviardes um legado de vosso meio, com uma carta, a fim de celebrar com eles a paz que lhes foi con­cedida, consoante a vontade de Deus, pois já chegaram ao porto, graças à vossa oração. Sendo perfeitos, pensai também no que é perfeito, pois se tencionais agir bem, Deus está igualmente disposto a vo-lo conceder.
 
CAPÍTULO XII
Saúda-vos a caridade dos irmãos de Trôade, donde vos escrevo por intermédio de Burrus, a quem enviastes juntamente com os efésios, vossos irmãos, para me fazer companhia. Animou-me em todo sentido. Todos deveriam imitá-lo como exemplo no serviço de Deus. A graça o recompensará em todo sentido. Saudações ao bispo, digno de Deus, a vosso presbitério tão agradável a Deus, aos diáconos, meus companheiros de serviço a cada um em particular e a todos em geral, em nome de Jesus Cristo, na Sua carne e no Seu sangue, na Paixão e na Ressurreição, em corpo e alma, na unidade de Deus e na vossa. Para vós a graça, a misericórdia, a paz, e a paciência para todo sempre.
 
CAPÍTULO XIII
Saudações às famílias de meus irmãos, com suas esposas e filhos e com as virgens, chamadas viúvas. Passar bem na força do Pai. Saudações da parte de Fílon que está comigo. Meus cumprimentos à família de Tavia, a quem desejo se robusteça na fé e na caridade, tanto corporal como espiritual. Saudações a Alceu, nome tão querido, a Dafnos o incomparável e a Eutecno. Enfim, a todos nominalmente. Passar bem na graça de Deus.
 
Epístola a Policarpo de Esmirna
Inácio, Bispo de Antioquia (35-110 d.C)
INTRODUÇÃO
Inácio, também chamado Teóforo, a Policarpo, bispo da Igreja dos esmirnenses, ou antes àquele que tem a Deus-Pai e ao Senhor Jesus Cristo como o bispo os melhores votos de felicidades.
 
CAPÍTULO I
Dando acolhida a teus sentimentos em Deus, me rejubilo exaltado, porque eles estão fundados numa rocha inabalável e porque eu fui julgado digno de contemplar teu rosto puro, gozo este que gostaria de perpetuar em Deus. Pela graça de que estás revestido, eu te exorto’ a acelerar ainda teu passo e a exortar também os outros para que se salvem. Justifica tua posição, empenhando-te todo, física e espiritualmente. Cuida da unidade; nada melhor do que ela. Promove a todos como o Senhor te promove; suporta a todos com amor, como aliás o fazes. Dispõe-te para orações ininterruptas; pede ainda maior inteligência do que já tens; sê vigilante, dono de um espírito sempre alertado. Fala a cada qual no estilo de Deus. Vai levando as enfermidades de todos como atleta consumado. Quanto maior o labor, maior o lucro.
 
CAPÍTULO II
Se te agradares dos bons discípulos não terás méritos submete antes com doçura os contaminados. Nem toda ferida se cura com o mesmo emplastro. Crises violentas acalmam-se com compressas úmidas. Faze-te prudente como serpente em todos os assuntos, sempre simples como a pomba. Por isso é que és carnal e espiritual para atraíres a teu rosto o que te aparece ante os olhos. As coisas invisíveis pede que te sejam reveladas, para que não te chegue a faltar nada e tenhas toda graça em abundância. O tempo atual exige tua presença, para chegares até Deus, assim como os pilotos anelam pelos ventos e os açoitados da tempestade pelo porto. Sê sóbrio como atleta de Deus. O premio é a incorruptibilidade e a vida eterna, do que aliás já te convenceste. Em todos os sentidos, somos teu resgate eu e minhas cadeias que te são caras.
 
CAPÍTULO III
Aqueles que parecem dignos de fé e no entanto ensinam o erro não te abalem. Mantém-te firme como bigorna sob os golpes. É próprio de um grande atleta receber pancadas e vencer. Não tenhas nenhuma dúvida, temos que suportar tudo pela causa de Deus, para que também Ele nos suporte. Torna-te ainda mais zeloso do que és; aprende a conhecer os tempos. Aguarda o que está acima do oportunismo, o atemporal, o invisível que por nossa causa se fez visível, o impalpável, o impassível que por nós se fez passível, o que de todos os modos por nós sofreu!.
 
CAPÍTULO IV
Viúvas não fiquem desatendidas; depois do Senhor, providencia tu por elas. Nada se faça sem o teu consentimento; nada faças tu sem Deus; o que aliás não fazes. Sê firme. As reuniões sejam freqüentes; pro­cura a todos, um por um. Não trates com sobranceria a escravos e escravas; também eles não se encham de orgulho, mas sirvam com mais dedicação para a glória de Deus, a fim de alcançarem da parte de Deus uma liberdade melhor. Que não se inflamem sabendo que poderiam libertar-se à custa da comunidade, a fim de não acabarem por escravizar-se à cobiça.
 
CAPÍTULO V
Foge às más artes, prega antes contra elas. Fala às minhas irmãs, que amem o Senhor e se contentem com os maridos na carne e no espírito. Da mesma forma, recomenda aos meus irmãos em nome de Jesus Cristo que amem suas esposas como o Senhor ama a Igreja. Se alguém é capaz de perseverar na castidade em honra da carne do Senhor, persevere sem orgulho. Caso se orgulhar, está perdido; se ainda for tido como mais do que o Bispo, está corrompido. Convém aos homens e às senhoras que casam contraírem a união como consentimento do bispo, a fim de que o casamento se realize segundo o Senhor e não conforme a paixão. Tudo se faça para honra de Deus.
 
CAPÍTULO VI
Atendei ao bispo para que Deus vos atenda. Ofereço-me como resgate daqueles que se sujeitam ao bispo, aos presbíteros e diáconos. Com eles me seja concedido ter parte em Deus. Labutai uns ao lado dos outros, lutai juntos, correi, sofrei, dormi, acordai uni­dos, como administradores de Deus, como Seus assessores e servos. Procurai agradar Aquele sob cujo estandarte combateis, de quem igualmente recebeis o soldo. Que não se encontre desertor entre vós. Vosso batismo há de permanecer como escudo, a fé como capacete, o amor como lança, a paciência como armadura. Vossos fundos de reserva são vossas obras, para receberdes um dia os vencimentos devidos. Sede pois magnânimos uns com os outros na doçura, como Deus o é convosco. Oxalá possa alegrar-me convosco sempre.
 
CAPÍTULO VII
Uma vez que a Igreja em Antioquia da Síria goza de paz, como me foi participado, graças a vossas orações, também eu me encorajei mais, pela confiança em Deus; contanto que me encontre com Ele pelo sofrimento e assim no dia da ressurreição possa ser contado como vosso discípulo. Convém, ó Policarpo feliz em Deus, convocar uma reunião agradável a Deus e es­colher alguém, tido como especialmente querido e incansável, para poder chamar-se estafeta de Deus; encarregar pois a um tal de viajar para a Síria e aí celebrar vossa caridade infatigável para a glória de Deus. Um cristão não tem poder sobre si mesmo, mas está à disposição de Deus. Esta obra é de Deus e vossa, caso a leveis ao fim. Confio na graça, que estejais prontos para uma obra boa que convém a Deus. Conhecendo vosso zelo pela verdade, acabei por exortar-vos com essas poucas linhas.
 
CAPÍTULO VIII
Uma vez que não pude escrever a todas as Igrejas, por ter que partir apressadamente de Trôade para Nápoles, como manda a vontade de Deus, escreverás às Igrejas mais do Oriente, pois que possuis o espírito de Deus, a fim de que elas também façam o mesmo: umas - as que podem - enviando mensageiros, as outras por sua vez cartas através de enviados teus. Assim sereis enaltecidos por uma obra imperecível, como bem o mereces. Saudações a todos nominalmente, também à viúva de Epitropos com toda a família e filhos. Saudações a Átalo meu amigo; saudações àquele que for julgado digno de viajar à Síria. A graça há de estar sempre com ele e com Policarpo que o envia. Faço votos que passeis bem para sempre em nosso Deus Jesus Cristo, no qual haveis de permanecer na união com Deus e o bispo. Saudações a Alceu, que me é tão caro. Passar bem no Senhor.
 
Martírio de Inácio de Antioquia
Autor: Anônimo (Séc. I)
 
CAPÍTULO I - DESEJO DE INÁCIO PELO MARTÍRIO
 
Quando Trajano, há não muito tempo, subiu ao trono Romano, Inácio, o discípulo de João o apóstolo, um homem em todos os aspectos com um caráter apostólico, governou a Igreja de Antioquia com grande zelo. Tendo, com dificuldade, escapado das tempestades de inúmeras perseguições sob Domiciano, na medida em que, como grande piloto, pela guia da Oração e do Jejum, pela retidão dos seus ensinos e pelo seu [constante] trabalho espiritual, resistiu à enxurrada que rolou contra ele, temendo [apenas] não perder nenhum daqueles que eram fracos de coragem, mas também inaptos para sofrer por suas simplicidades.  
 
Portanto ele se alegrou diante do tranqüilo estado da Igreja, quando a perseguição cessou, por um curto período de tempo, mas se entristeceu consigo mesmo, pois não havia ainda conseguido chegar dar um verdadeiro testemunho de amor a Cristo, nem chegado ao perfeito posto de um discípulo. Então ele pensava consigo mesmo, que a profissão de fé que é feita pelo martírio, faria com que ele tivesse ainda mais intimidade com o Senhor. 
 
Portanto, continuando uns poucos longos anos com a Igreja, como uma lâmpada divina, iluminou o entendimento de cada um pela exposição das [Sagradas] Escrituras, então ele [por  fim] alcançou o objeto de seu desejo.
 
CAPÍTULO II - INÁCIO É CONDENADO POR TRAJANO
 
Então, Trajano, no nono ano de seu reinado, sendo exaltado [com orgulho], depois da vitória sobre os Citas, Dácios e muitas outras nações.  Pensando no corpo religioso dos cristãos, estava ainda querendo completar a subjugação de todas as coisas a ele mesmo, e [Então] ameaçava-os com a perseguição a menos que eles concordassem em adorar os demônios, como fizeram todas as outras nações, assim obrigando a todos os que tinham religião fazerem sacrifícios aos demônios ou então morrer. 
Portanto o Nobre Soldado de Cristo, [Inácio], temendo pela Igreja de Antioquia, foi, de acordo com o seu próprio desejo trazido para diante de Trajano, que naquele tempo estava em Antioquia, mas  estava com pressa, para ir contra a Armênia e os partos. E quando Inácio foi colocado diante do imperador Trajano [este príncipe] disse lhe: “Quem é você, perverso vilão, que pões-se a transgredir nossos comandos, e persuadir aos outros a fazerem o mesmo, fazendo com que eles miseravelmente pereçam?” 
 
Inácio respondeu: “Ninguém deve chamar Teóforo de maligno, porque todos os espíritos malignos se afastaram dos servos de Deus. Mas se, porque eu sou um inimigo desses [espíritos], você me chama de maligno, em relação a eles, eu concordo com você, pois na medida em que eu tenho Cristo, o Rei do céu [dentro de mim], eu destruo todas as armas destes [espíritos malignos].”
 
Trajano perguntou: “e quem é Teóforo?” 
 
Inácio replicou:“Ele é aquele que tem Cristo dentro de seu coração.”
 
Trajano disse: “Nós, então, não parecemos-lhe que temos os deuses em nossas mentes, cuja assistência desfrutamos na luta contra os nossos inimigos?” 
 
Inácio respondeu: “Você está errado quando chama os demônios das nações de deuses. Pois há um só Deus, que fez o céu, a terra e o mar, e tudo o que neles há; e um Jesus Cristo, O Filho Unigênito de Deus, cujo o reino eu ei de desfrutar.” 
 
Trajano disse: “você está falando daquele que foi crucificado sob Pôncio Pilatos?” 
 
Inácio replicou: “Sim eu falo dele, aquele que crucificou meu pecado, com ele que foi o inventor disto, e quem condenou [e precipitou] todo o engano e malicia do diabo debaixo dos pés de quem o carrega em seu coração. Verdadeiramente então; por isso está escrito “Habitarei no meio deles e com eles caminharei.” 2 Coríntios  6, 16.” 
 
Então Trajano pronunciou a seguinte sentença: “Nós ordenamos que Inácio, que afirma que carrega dentro de si, aquele que foi crucificado, seja compelido pelos soldados e levado para a grande [cidade] Roma. Para lá ser devorado pelas bestas, para o divertimento das pessoas.” 
 
Quando o Santo Mártir ouviu esta sentença, ele chorou de alegria e agradeceu: “O Senhor, eis que tu me concedes a honra de te mostrar o meu perfeito amor, e ter me feito ser preso com correntes de ferro como Teu Apostolo Paulo.” 
Tendo dito assim, Ele então, com prazer, apertou as correntes sobre ele; e quando fez a primeira oração pela igreja, e a levou ao senhor com lágrimas, ele foi levado as pressas pela crueldade dos soldados, como um carneiro diferenciado, o líder de um Bom rebanho, e foi levado para Roma, para lá servir de alimento para as bestas sanguinárias.
 
CAPÍTULO III - INÁCIO NAVEGA PARA ESMIRNA
 
Portanto, com entusiasmo e alegria, pelo de seu desejo de sofrer, ele desceu de Antioquia a Selêucida, de onde ele partiu. E depois de grande sofrimento, veio a Esmirna, onde desembarcou com grande alegria, e apressou-se para ver o santo Policarpo, seu [ex-] condiscípulo, e [agora] bispo de Esmirna. Ambos tinham, em tempos antigos, sido discípulos de São João Apóstolo. Sendo então trazido até ele, e tendo comunicado a respeito de alguns dons espirituais, e gloriando-se de suas amarras, ele suplicou a Policarpo para ajudar-lo na realização de seu desejo; fervorosamente de fato pedindo  isto a toda a Igreja (para as cidades e igrejas da Ásia que tinha recebido o Santo Homem através de seus bispos e presbíteros e diáconos, todos se apressando para encontrá-lo, para que de alguma forma pudessem receber dele algum dom espiritual), mas acima de tudo, o santo Policarpo, que, por meio das feras, ele logo desapareceria deste mundo,  para se manifestar diante da face de Cristo.
CAPÍTULO IV - INÁCIO ESCREVE AS IGREJAS
 
E estas coisas ele assim falou e assim testemunhou, mostrando o seu amor para com Cristo, perseverando como quem estava prestes a garantir o céu, através de sua boa profissão de fé, e pela seriedade daqueles que juntaram suas orações as dele em consideração a sua luta próxima luta; E para dar a recompensa as igrejas, que vieram encontrá-lo através de seus governantes, enviou-lhes cartas de agradecimento, eles que caíram na graça espiritual, juntamente com oração e exortação. Então, vendo todos os homens consternados por ele, e temendo que o amor dos seus irmãos pudesse impedir o seu zelo para com o Senhor, enquanto a reta porta do martírio era aberta, ele escreveu a Igreja dos Romanos a epistola que aqui está anexada. 
 
CAPÍTULO V - INÁCIO É TRADUZIDO PARA ROMA
 
Tendo, portanto, por meio desta epistola, informado, o seu desejo, àqueles irmãos que estavam em Roma, que não queriam o seu martírio; e partindo de Esmirna (para Cristóforos foi pressionado pelos soldados a se apressar para o espetáculo público na poderosa [cidade] Roma, que, sendo dados paras as bestas vorazes na vista do povo romano, ele pudesse alcançar a coroa pela qual ele se esforçou) desembarcou próximo a Trôade. Então, indo daquele lugar para Neápolis, ele foi [a pé] por Felipo através da Macedônia, e na região de Épiro, que é próximo a Epidamno; encontrou um navio em um dos portos, então navegou pelo mar Adriático, e adentrando nele em Tirreno, ele passou por várias ilhas e cidades, até que Putéoli veio à vista, ele estava ansioso para desembarcar ali, tendo o desejo de trilhar os mesmos passos do apóstolo Paulo (Atos 28:13-14). Mas um vento violento começou e não lhe permitiu fazê-lo, o navio foi conduzido rapidamente a diante, então, ele simplesmente expressou sua alegria para com o amor dos irmãos daquele lugar, e continuaram a navegar. Continuando a desfrutar de bons ventos, nós ficávamos perturbados de dia e de noite, tristes [como fizemos] pela partida próxima de nós deste homem justo. Mas para ele acontecia exatamente como ele desejava, já que ele estava com pressa, para o mais breve possível deixar este mundo, para que pudesse alcançar o Senhor a quem ele amava. Navegando então para o porto romano, os esportes ímpios estavam prestes a acabarem, os soldados começaram a se incomodar com a nossa lentidão, mas o bispo alegremente cedeu à urgência.
 
CAPÍTULO VI - INÁCIO É DEVORADO PELAS BESTAS EM ROMA 
 
Eles nos levaram, portanto, do lugar chamado, Portus; (a fama de tudo relacionado ao Santo Mártir já tinha sido espalha por todo o lugar) Nós encontramos os Irmãos cheios  de pavor e alegria; regozijando na verdade por que eles iriam encontrar Teóforo, mas com medo por que um homem tão eminente estava sendo levado à morte. 
 
Agora ele ordenou alguns a ficarem em silencio que, em seu fervoroso zelo, estavam dizendo que iriam acalmar as pessoas, para que eles não exigissem a destruição deste homem Justo.
 
Ele estando imediatamente ciente disto através Espírito, e tendo saudado todos eles, implorou a todos a mostrarem todo o seu afeto para com ele, e tendo se alongado [até esta hora], mas do que em sua epistola, tendo convencido eles, para não impedi-lo de chegar ao Senhor, ele então, depois, com todos ajoelhados ao seu lado suplicou ao Filho de Deus em favor das Igrejas, para que um fim fosse dado a perseguição, e que o amor mutuo pudesse continuar entre os irmãos, foi então levado com toda a pressa para o anfiteatro. Então, Jogado lá, de acordo com o decreto de Cesar promulgado há algum tempo, o espetáculo publico estava preste a acabar (pois era um dia solene, como eles consideravam, sendo que é chamado de Décimo Terceiro dia na língua dos Romanos, no qual o povo estava acostumado a se agrupar numa imensa multidão.), ele então assim foi levado para as bestas ao lado do templo, para que por meio deles o desejo do Santo mártir Inácio pudesse sem realizado plenamente, de acordo com o que está escrito: O desejo do justo é aceitável (cf. Provérbios 10, 24) [a Deus], para que ele não pudesse ser um problema para nenhum dos seus irmãos no que diz respeito a juntarem seus restos mortais, assim como ele tinha expressado em sua epistola um desejo de antemão para que seu fim pudesse ser completo. Então somente as partes mais duras dos seus Santos restos mortais foram deixadas, em seguida transladados para Antioquia e envoltas em linho, como um inestimável tesouro deixado para a Santa Igreja pela graça que estava no Mártir.
 
CAPÍTULO VII - INÁCIO APARECE EM UMA VISÃO APÓS A MORTE 
 
Agora estas coisas aconteceram no décimo terceiro dia antes das calendas de Janeiro, que é em 20 de Dezembro, Quando Sura e Sinésio eram cônsules dos romanos pela segunda vez. 
 
Tendo, nós mesmos, sido testemunhas oculares destes acontecimentos, e tendo passado a noite toda em lágrimas dentro de casa, suplicando ao Senhor de joelhos e com muita oração para que Ele desse nos, homens fracos, plena garantia a respeito das coisas que haviam se sucedido. Aconteceu que quando estávamos cochilando, alguns de nós viram o abençoado Inácio de repente de pé em nossa frente e nos abraçando, enquanto outros o viram novamente orando por nós, e outros ainda viram-no todo suado, como quem acabou de chegar de um trabalho pesado, e esperando o Senhor. Quando, portanto, Nós tendo, com grande alegria, testemunhado estas coisas, e comparado nossas diversas visões juntos, cantamos louvores ao Senhor, o doador de todas as boas coisas, e expressamos nosso sentimento de Alegria para com o Santo [Mártir];  e agora tendo feito conhecido a vocês, o dia e a hora deste martírio, nós poderemos ter comunhão com o campeão e nobre Mártir de Cristo, o qual pisou a cabeça de Satanás, e aperfeiçoou a jornada que, por amor a Cristo, ele desejou, em Cristo nosso Senhor; pelo qual e com o qual, seja a glória e poder para o Pai com o Santo Espírito, Para Sempre! Amem.
 

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