As mazelas do Estado Laico

01/10/2014 11:21

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Recentemente, o senador Magno Malta, da bancada evangélica, protestou contra uma resolução do governo federal que proíbe que as clínicas de tratamento de dependentes químicos falem sobre religião aos pacientes (veja aqui o vídeo). Muitos evangélicos fazem um esforço louvável na luta contra a perseguição sofrida pelos cristãos no campo político, mas a verdade é que eles estão provando do veneno que os seus próprios “pais” injetaram no Ocidente.

A Reforma Protestante não significou apenas uma ruptura com o catolicismo; antes de mais nada, significou a ruptura do mundo ocidental com Deus. Acham que estou exagerando? Se não acreditam em mim, olhem para as consequências da Reforma: do protestantismo nasceram as piores mazelas intelectuais da humanidade, e isso inclui o conceito de “Estado Laico”.

O que é Estado Laico?

O maior jurista do Brasil, Dr. Ives Gandra, define:

“O Estado laico não é ateu ou agnóstico. É um estado que está desvinculado, nas decisões dos cidadãos que o assumem, de qualquer incidência direta das instituições religiosas de qualquer credo.”

(Fonte: ConJur)

Prestem atenção nessa expressão: INCIDÊNCIA DIRETA. Isso quer dizer que um líder religioso não pode impor a sua vontade ao Estado. Porém, nada impede que as pessoas de qualquer credo, como legítimos cidadãos, exerçam INFLUÊNCIA INDIRETA sobre o governo de sua cidade, estado ou país.

E como os cristãos podem exercer essa influência indireta no campo político? Votando em candidatos que representem os seus valores e objetivos ou realizando protestos nas ruas, por exemplo. O problema é que, todas as vezes que os cristãos fazem isso, algum paspalho grita: “VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO, O ESTADO É LAICO!”.

Como todos sabem, a maioria esmagadora da população brasileira é cristã; assim, o normal seria que as decisões do Estado estivessem de acordo com os anseios e valores dessa maioria. “Estranhamente”, porém, vemos acontecer algo bem diferente: os cristãos assistem atônitos, dia após dia, os governos “laicos” afrontarem a família tradicional e os valores cristãos.

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Como se explica o fato de que, em uma democracia, os interesses e ideologias de uma minoria se imponham sobre os valores da maioria cristã? Simples: após herdarem o conceito de “Estado Laico” dos protestantes, os pensadores iluministas difundiram a ideia de que a religião não deve influenciar de modo algum – nem direta nem indiretamente – as decisões do Estado.

E assim o cristão é tido como uma espécie de cidadão de segunda classe, que deve se submeter caladinho aos valores dos não-cristãos (que, hipocritamente, se dizem”neutros”, mas na verdade são comprometidos com ideologias maçônicas, iluministas e marxistas). O Dr. Ives Gandra questiona essa visão:

“Quando se diz que, em um Estado laico, quem tem religião não tem voz — porque vai levar suas convicções —, a pergunta que se faz é: e aqueles que têm convicções diferentes, quando levam suas convicções, com que direito levam, em um país em que a liberdade de expressão é absoluta?”

Vivemos dias muito loucos, e não é no sentido de dias divertidos. São dias muito chatos, ditatoriais. Vivemos sobre a ditadura do chamado “Estado Laico”.  Quando alguém se sente ofendidinho porque no seu ambiente de trabalho tem um crucifixo ou uma imagem de Nossa Senhora, já vem gritando “O ESTADO É LAICO, O ESTADO É LAICO”. Muitas vezes o pastrami em questão não tem a menor ideia do que seja laicismo, às vezes não sabe nem mesmo o que significa “Estado”.

A “Sola Scriptura” e seu filho roto

Agora, vamos ao ponto central deste post: o que os protestantes têm a ver com isso? Como a burrice – ou ingenuidade – deles foi responsável pela proliferação desse câncer no Ocidente? Bem, o conceito que vigora hoje de “Estado Laico” não nasceu pronto, mas veio se desenvolvendo a partir do início da Reforma Protestante.

Observem que a Reforma se deu durante o período histórico conhecido como “Renascença”. Mas vamos voltar mais ainda no tempo: vejamos como funcionava a religião panteísta do Império Romano. Em linhas gerais, tínhamos uma religião estatal, extremamente ritualística e que procurava absorver outros deuses de outros panteões e civilizações. Era uma busca por manter a estabilidade social e política. Guardem esse fato.

Depois, na Idade Média, temos um conflito. O homem medieval ocidental era muito mais espiritual do que jamais fomos ou seremos. Dentro desse quadro, o governo espiritual era muito mais importante para o homem comum do que o governo secular (as autoridades seculares eram aquelas não-religiosas). Os homens viam o Papa como uma instância superior na terra, pois representava a vida prometida, a recompensa do Salvador pela nossa peregrinação nesse vale de lágrimas.

Para quebrar essa hegemonia, a ideia perfeitamente imbecil dos protestantes foi desconsiderar a autoridade papal espiritual e transferi-la para a Sola Scriptura (somente as Escrituras). Essa é uma das bases da doutrina protestante, a afirmação de que toda a autoridade está na Bíblia, reduzindo ou anulando a autoridade dos ensinamentos dos legítimos sucessores dos Apóstolos – o Papa e os bispos. Seria cômico se não fosse trágico o fato de que não há nenhuma passagem na Bíblia que fundamente a Sola Scriptura.

laicismoNinguém é burro de achar que os grande príncipes e reis do Norte da Europa se tornaram protestantes em tempo recorde por zelo e convicção de fé. Um filho roto da Sola Scriptura acabara de nascer, o “Estado Laico”E foi graças a isso que tudo o que os governantes queriam lhes foi dado: a predominância do poder material sobre o espiritual e o controle da sociedade em um nível nunca antes alcançado.

Voltando ao fato da religião estatal romana; dentro do contexto da Renascença, temos a possibilidade do retorno da religião estatal, aos moldes do Império Romano. E foi o que aconteceu. Reparem que os protestantes adoram citar coisas como “A Doação de Constantino”, o “catolicismo como sendo criação de Constantino”. Mal se dão conta das suas ligações históricas com o que de pior o Império Romano tinha.

Mas como se dá isso? Simples: os príncipes rompem com o Vaticano unilateralmente e se autonomeiam Chefes da Igreja em seus países, como ocorreu no caso mais famoso: o do devasso Henrique VIII na Inglaterra.

Como rei e para defender os interesses do seu reino, o governante, agora acumulando a função de Chefe da Igreja, buscava aplicar os princípios legais de forma imparcial no meio de seus súditos – pelo menos na teoria – para obter os resultados melhores para a coroa e para a nação. Ele podia soltar ou segurar as rédeas dessa mesma Igreja de acordo com os seus interesses. E o melhor: isso tudo sem precisar prestar contas a uma instância espiritual superior que mora numa cidade nos cafundós da Itália.

Dessa forma, os protestantes puderam espalhar seu veneno livremente no meio social, porque o povo estava indefeso e não tinha mais o pároco que remetia à Sã Doutrina Romana. Daí para isso sair espalhando pelo mundo, inclusive afetando todos os países católicos, foi um pulo.

Os reis que romperam com Roma determinaram que a religião não podia interferir nas questões estatais e, por outro lado, davam ao Estado o direito de intervir em assuntos religiosos. O muro de separação entre Igreja e Estado é uma piada de mau gosto: serve tão somente para confinar os cristãos e seus valores nas sacristias; os interesses e determinações do Estado, por sua vez, ignoram qualquer limite e avançam sobre o terreno da fé.

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E é essa insanidade, hoje chamada de “Estado Laico”, que possibilita atrocidades como essas:

  • nos EUA, o presidente Obama obriga as instituições cristãs a financiar a compra de medicamentos abortivos para seus funcionários, violando sua liberdade de consciência e de religião (já falamos sobre isso aqui);
  • na semana passada, a justiça da França determinou que as feministas de peito de fora têm o direito invadir os templos católicos e blasfemar. E se alguém tocar nelas, é processado por “violência” (Fonte: BBC).

femen_igrejaNo “Estado Laico”, os cristãos dão a César o que é de César – obedecem às leis, pagam os impostos – ao mesmo tempo em que são impedidos de dar a Deus o que é de Deus (agora, na França, nem ao menos temos o direito de defender nossos templos). Portanto, pense duas vezes antes de bater no peito e sair gritando por aí que o Estado Laico é uma coisa boa.

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Continuaremos apresentando, nos próximos posts, as demais mazelas intelectuais nascidas do protestantismo, entre elas, o ateísmo, o relativismo e o kantismo. Até lá!

 

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