1. Capítulo I- Curso do que é Apologética e, como fazer?

13/03/2016 13:31
 
APOLOGÉTICA, O QUE É E COMO FAZER?
 
 
 
Na igreja em que frequento, em Atlanta, sou professor de escola dominical de uma classe que se chama “Defensores”, na qual dou aulas para cerca de 100 pessoas, que variam de estudantes do segundo grau a adultos mais velhos. Falamos sobre os ensinamentos bíblicos (doutrina cristã) e sobre como defendê-los (apologética cristã). As vezes as pessoas que não frequentam nossas aulas não entendem bem o que fazemos nelas. Certa vez, uma senhora muito educada, uma típica dama do sul, ao ouvir que eu ensinava apologética cristã retrucou indignada: “Jamais pediria desculpas por minha fé!”.
 
Apologética significa uma defesa .
 
A palavra apologética vem do grego apologia, que significa uma defesa, como a que se faz nos tribunais. A apologética cristã envolve fazer a defesa da verdade da fé cristã.
 
A razão do equívoco cometido por essa senhora é evidente: “Apologética”, em inglês, soa como “pedir desculpas”. No entanto, a apologética não é a arte de pedir desculpas para alguém por você ser cristão! Ao contrário, “apologética” vem do grego apologia, que significa defesa, como a que se faz em um tribunal. A apologética cristã implica em fazer uma defesa em favor da verdade da fé cristã. A Bíblia na verdade nos recomenda que tenhamos essa defesa pronta para oferecer àquele que nos pedir a razão de nossa fé. 
Assim como dois competidores, numa partida de esgrima, aprendem a se desviar dos ataques, bem como a atacar o rival, nós também devemos estar sempre “en garde”. A passagem de 1 Pedro 3.15 diz: 
“Estai sempre preparados para responder a todo o que vos pedir a razão da esperança que há em vós. Mas fazei isso com mansidão e temor”.
 
 
PARA DISCUTIR:
Por que mansidão e respeito são essenciais quando estamos dialogando com pessoas que não são cristãs acerca daquilo em que cremos? Você já viu algum cristão dialogar sem mansidão e respeito?0 que aconteceu?
 
Note bem a atitude que devemos assumir quando estivermos fazendo a nossa defesa: Devemos ser mansos e respeitosos. A apologética também é a arte de não fazer o outro lamentar o fato de você ser cristão! Podemos apresentar uma defesa da fé cristã sem nos tornamos defensivos. Podemos apresentar argumentos em favor do cristianismo sem nos tornarmos argumentativos, ou seja, briguentos.
Quando falo neste livro sobre a apresentação de argumentos em defesa da fé cristã é de vital importância que as pessoas entendam que com isso não quero dizer discussão, bate-boca. Jamais devemos bater-boca a respeito de nossa fé com alguém que não compartilhe dela. Isso apenas enfurece as pessoas e as afasta ainda mais. Como explicarei mais para frente, neste mesmo capítulo, argumentar em termos filosóficos não é o mesmo que discutir ou ter uma troca de palavras ásperas; argumentar é apenas apresentar uma série de enunciados ou premissas que levem a uma conclusão. E isso é tudo.
 
PARA DESCUTIR:
Como você costuma se sentir quando alguém desafia aquilo em que você crê, como cristão, ou faz disso motivo de gozação?
 
Ironicamente, quem tem bons argumentos na sustentação da sua fé se torna menos inclinado a bate-bocas e a sair frustrado da discussão. Já percebi que quanto melhores forem meus argumentos, menos beligerante eu me torno. Quanto melhor for a minha defesa, menos preciso ficar na defensiva.  Se você tem boas razões para aquilo em que crê e sabe as respostas para as perguntas e objeções que alguém que não é cristão costuma fazer, não tem motivo para se exaltar. Pelo contrário, você perceberá que estará calmo e confiante, mesmo quando estiver sob ataque, pois sabe que tem as respostas.
    Frequentemente participo de debates em universidades em torno de temas como: “Deus existe?” ou “Cristianismo versus ateísmo”. Durante a parte de perguntas e respostas, é comum alguns estudantes da audiência se levantarem e começarem a me atacar pessoalmente ou fazer um discurso agressivo. Percebi que minha reação a esses estudantes não é de raiva, mas antes de me sentir simplesmente pesaroso pelo fato de eles estarem tão perdidos, tão confusos, Se você tem boas razões para aquilo em que crê, então, em vez de sentir raiva, sentirá uma compaixão genuína pelos perdidos, que em geral estão tão desorientados. A boa apologética envolve falar “a verdade em amor” (Ef 4.1 5).
 
A apologética é bíblica?
 
Algumas pessoas pensam que a apologética não é bíblica. Elas dizem que você deve apenas pregar o evangelho e deixar que o Espírito Santo faça a sua parte! No entanto, acredito que o exemplo de Jesus e dos apóstolos afirma o valor da apologética. Jesus apelava para milagres e cumprimento das profecias para provar que suas alegações eram verdadeiras (Lc 25.25—27; Jo 14.11).
     E os apóstolos? Ao falar para outros judeus, eles apelavam para o cumprimento das profecias, para os milagres de Jesus e especialmente para a ressurreição a fim de provar que Jesus era o Messias. Tomemos, por exemplo, o sermão de Pedro no dia de Pentecostes, registrado no segundo capítulo de Atos. No versículo 22, ele apela para os milagres de Jesus.  Nos versículos 25-31, ele apela para o cumprimento da profecia. No versículo 32, ele apela para a ressurreição de Cristo. Por meio desses argumentos os apóstolos procuravam mostrar aos outros judeus que o cristianismo era verdadeiro. Ao falar para os que não eram judeus, os apóstolos procuravam demonstrar a existência de Deus por meio da sua obra na natureza (At 14.1"7). 
Em Romanos 1, Paulo afirma que apenas com base na natureza todo homem pode saber que Deus existe (Rm1.20). Paulo também apelava para as palavras de testemunhas oculares da ressurreição de Jesus para mais uma prova de que o cristianismo era Verdadeiro  (ICo 1S.3-8). 
    Fica, portanto, claro que tanto Jesus quanto os apóstolos não temiam dar evidências em favor da verdade daquilo que proclamavam. Isso não quer dizer que eles não confiavam no Espírito Santo para trazer as pessoas a Cristo. Antes, confiavam que o Espírito usava os argumentos e as evidências deles para fazer isso.
 
PARA DESCUTIR:
Que tipo de argumentos Paulo usa em Atos 17,22-31, para convencer os que não eram judeus de que o evangelho é verdade? 
De que modo os argumentos dele são semelhantes e diferentes dos argumentos usado por Pedro em Atos 2,14-29, quando ele falava para os judeus? O que você aprendeu sobre o papel da apologética no evangelismo? Por que a apologética é importante?
 
Por que a apologética é importante?
 
 É de vital importância que os cristãos de hoje sejam treinados em apologética. Por quê?  Permita-me oferecer três razões para isso.
 
1º- Para influenciar a cultura.
 Todos nós já ouvimos falar da chamada batalha cultural que acontece hoje na sociedade ocidental. Pode ser que alguns não apreciem essa metáfora militar, mas a verdade é que uma tremenda luta pela alma das pessoas está sendo travada exatamente agora. Esse esforço de guerra não tem matizes somente políticos. Traz também em si uma dimensão religiosa e espiritual. Os secularistas têm a tendência de eliminar do mapa a religião da esfera pública. Os chamados novos ateístas, representados por pessoas como Sam Harris, Richard Dawkins e Christopher Hitchens são ainda mais agressivos. Eles pretendem riscar totalmente do mapa qualquer forma de religião.
    A sociedade ocidental já se tornou uma sociedade pós-cristã. A crença em um Deus genérico ainda é regra geral, mas crer em Jesus Cristo é hoje politicamente incorreto. Quantos filmes produzidos por Hollywood retratam cristãos de forma positiva? Em vez disso, quantas vezes já não vimos nesses filmes os cristãos sendo retratados como vilões superficiais, preconceituosos e hipócritas? Como a cultura de hoje vê os cristãos que creem na Bíblia?
 

O quadrinho ao lado retrata de forma pungente a percepção que a elite cultural da sociedade americana tem hoje dos cristãos: estranhas curiosidades a serem observadas com espanto por pessoas normais. Mas observe bem, eles também são considerados perigosos. Eles não devem ter acesso a posições de influência na sociedade. Talvez seja por isso que eles não chegam nem mesmo a ser cotados para possíveis cargos.
   Por que essas considerações acerca da cultura são importantes? Por que nós, cristãos, não podemos apenas seguir a Cristo e ignorar o que acontece na cultura que nos rodeia?, Por que apenas não pregamos o evangelho para esse mundo sombrio, as portas da morte?
    A resposta é porque o Eevangelho nunca é ouvido em isolamento. (Ele sempre é ouvido em contraste com o pano de fundo da cultura ) na qual nascemos e fomos criados. Alguém que tenha sido criado em uma cultura que olhe para o cristianismo com simpatia será aberto ao evangelho de um modo que outra pessoa, criada em uma cultura secular, não será. No caso de pessoas inteiramente secularizadas, dizer para crer em Jesus é como dizer para acreditar em fadas e duendes! E assim absurda que a mensagem de Cristo soa aos seus ouvidos.
     Para perceber a influência que a cultura tem na forma como pensamos, imagine o que você pensaria se um seguidor da religião hindu ou um Hare Krishna, com sua cabeça raspada e aquela roupa alaranjada, abordasse você em um aeroporto ou Shopping Center e lhe oferecesse uma flor, e convidasse você a se tornar um seguidor de Krishna. Um convite como esse provavelmente soaria bizarro a seus ouvidos, uma aberração, talvez até um pouco engraçado. Agora pense em como haveria uma reação completamente diferente se essa mesma pessoa abordasse alguém em Deli, na índia! Por ter sido criado na índia, é possível que ele levasse esse convite muito a sério.
    Se essa tendência de cair no secularismo é geral hoje, nos Estados Unidos, o que nos espera amanhã já está evidente na Europa de hoje. 
 
Secularismo:
Secularismo é uma cosmovisão que não abre espaço para o sobrenatural não crê em milagres, nem na revelação divina, nem em Deus.
 
 
A Europa ocidental se tornou uma sociedade tão secularizada que é difícil até mesmo ter hoje uma chance justa de ser ouvido. Em consequência disso, missionários precisam trabalhar anos a fio para ganhar meia dúzia de convertidos por lá. Depois de ter vivido na Europa por 13 anos, em quatro países diferentes, posso dar meu testemunho pessoal do quanto é difícil para as pessoas dali responder à mensagem de Cristo. Ao falar em universidades por toda a Europa, percebi que a reação dos estudantes era em geral de espanto diante do que eu dizia. Segundo o pensamento que eles têm, o cristianismo é coisa de mulheres idosas e crianças. Afinal, o que esse senhor, com dois títulos de doutorado de universidades europeias, está fazendo aqui, defendendo a verdade da fé cristã com argumentos para os quais não temos respostas? 
    Certa vez, quando estava fazendo uma palestra em uma universidade da Suécia, um estudante me perguntou, durante a sessão de perguntas e respostas, logo depois da minha preleção: “O que você está fazendo aqui”? 
     Completamente espantado, eu respondi: “Fui convidado pelo Departamento de Estudos Religiosos para dar essa palestra”. Não é isso que estou querendo dizer, insistiu ele. Você não percebe o quanto tudo isso é estranho? Quero saber o que motiva você pessoalmente a vir aqui fazer isso”. Suspeito que ele nunca havia conhecido um filósofo cristão na vida — na verdade, um importante filósofo sueco me disse que não havia filósofos cristãos em nenhuma universidade da Suécia.  Aquela pergunta me deu a oportunidade de compartilhar com aquela estudante a história de como eu me converti. 
    O ceticismo nas universidades europeias é algo tão profundo que quando falei sobre a existência de Deus, na Universidade do Porto, em Portugal, os estudantes (segundo me informaram depois) chegaram a ligar para o Instituto de Filosofia da Universidade de Louvain, na Bélgica, ao qual sou afiliado, para saber se eu era um impostor! Eles acharam que eu era um embuste! Eu simplesmente não me adequava ao estereótipo que eles faziam de um cristão.
    Se o evangelho deve ser ouvido como algo intelectualmente viável por mulheres e homens que pensam, então é vital que nós, cristãos, moldemos nossas culturas de tal forma que a fé cristã não possa ser descartada como mera superstição. É nesse ponto que entra a apologética cristã. Se os cristãos puderem ser treinados para fornecer sólidas evidências daquilo em que creem e boas respostas para as perguntas e objeções dos incrédulos, então a imagem que se tem dos cristãos vai pouco a pouco mudar. Os cristãos passarão a ser vistos como pessoas inteligentes e preparadas, a serem levadas a sério, e não meros fanáticos ou palhaços. E o evangelho será uma opção concreta para essas pessoas seguirem.
    Não estou dizendo com isso que as pessoas se tornarão cristãs por causa de bons argumentos e evidências. Antes, estou dizendo que argumentos e evidências ajudarão a criar uma cultura na qual a fé cristã seja visto como algo razoável. E ajudarão também a criar um ambiente em que as pessoas estarão abertas ao evangelho., Portanto, ter uma boa formação em apologética é uma maneira de vital importância de ser sal e luz nas culturas ocidentais de hoje em dia.
 
PARA DISCUTIR:
Já conheceu alguém que despreza o cristianismo por considerá-lo mera superstição? Quando? O que você disse a essa pessoa?
 
2. Para fortalecer os que creem
 
 Os benefícios da apologética em sua vida pessoal como cristão são imensos. Vou mencionar três deles: Primeiro. saber em que e porque você crê vai lhe dar mais confiança na hora de compartilhar sua fé. Vejo isso 
acontecer o tempo todo, nas universidades, quando participo de debates públicos com professores que não são cristãos. Minha experiência mostra que, embora esses professores universitários sejam muito bem preparados em sua área de especialização, eles praticamente não têm a mais remota ideia no que diz respeito às evidências do cristianismo. A posição cristã nesses debates em geral está tão na frente da posição dos não cristãos que estudantes incrédulos geralmente reclamam que o debate foi uma armação preparada para desmoralizar a posição contrária ao cristianismo! Mas a verdade é que procuramos trazer os melhores oponentes para os debates, e eles em geral são escolhidos pelo próprio grupo de ateus das universidades.
    Já os estudantes cristãos, ao contrario, saem desses debates com o peito cheio de orgulho por serem cristãos. Certa vez um estudante canadense me disse apos um debate: Mal posso esperar para compartilhar a minha fé em Cristo!”. Pessoas que não são treinadas na apologética costumam ter medo de compartilhar sua fé ou falar de Cristo por temerem que alguém lhes faça alguma pergunta. Mas quem souber as respostas para essas perguntas não terá medo de entrar na caverna dos leões — na verdade, vai até gostar disso! Um bom treinamento em apologética ajudará a transformá-lo em alguém que testemunha a Cristo sem medo e com ousadia. O segundo benefício é que a apologética também poderá ajudá-lo a manter sua fé em tempos de dúvidas e tribulações. As emoções só levarão você até certo ponto; dali para frente você precisará de algo mais substancial.  Quando faço palestras em igrejas pelo país afora, costumo encontrar pais que me dizem: “Ah se você tivesse vindo aqui dois ou três anos atrás”!  Nosso filho tinha uma serie de perguntas sobre a fé cristã e não sabíamos respondê-las. Hoje ele está afastado dos caminhos do Senhor”. Na verdade, parece haver mais e mais relatos de pessoas que estão abandonando a fé cristã.
 
PARA DISCUTIR:
Por que você acha que tantos estudantes abandonam a fé durante ou logo depois do Segundo grau? A quem ou o que devemos culpar por isso?
 
    Um ministro cristão, na Universidade de Stanford, recentemente me contou que 40 por cento dos estudantes cristãos de segundo grau, que pertencem a grupos de jovens de igrejas, vão se afastar das igrejas totalmente depois de formados. Estamos falando de 40 por cento! O que está acontecendo não é que eles estejam perdendo a fé no ambiente hostil das universidades. Ao contrário, muitos deles já tinham abandonado a fé quando ainda participavam de um grupo de jovens, mas continuaram deixando-se levar até que estivessem fora do alcance da autoridade dos pais.
 
RELATIVISMO
Relativismo é a visão de que algo é relativo, e não absoluto. Ou seja, aquilo que está sendo questionado (a verdade, um valor moral, uma propriedade) só é o que é em relação à outra coisa. Por exemplo, ser rico é algo relativo. Em relação a muitos norte-americanos, você provavelmente não é rico. Mas em relação às pessoas do Sudão, você é extraordinariamente rico! Por outro lado, o fato de que o Brasil ganhou a Copa de 2002 não é apenas relativamente verdade. É absolutamente verdade que o Brasil ganhou a Copa. Muitas pessoas acreditam que princípios morais e crenças religiosas são, na melhor das hipóteses, verdades relativas: como elas costumam dizer, são verdade para você, mas não para mim.
 
 
    Em minha opinião, a igreja está realmente falhando com esses jovens. Em vez de fornecer a eles um bom treinamento na defesa da fé cristã, nós ficamos envolvidos em lhes proporcionar experiências de louvor carregadas de emoção, ficamos nos preocupando com suas necessidades e em entretê-los. Não é à toa que eles se tornam presas fáceis para um professor que racionalmente ataca a sua fé. No segundo grau e na faculdade, os estudantes são bombardeados com todo tipo de filosofia não cristã combinada com um avassalador relativismo e ceticismo, lemos que preparar nossos jovens para essa guerra. Como temos coragem de enviá-los desarmados para essa zona de guerra intelectual? Os pais devem fazer mais do que apenas levar seus filhos à igreja e ler histórias da Bíblia para eles. Pais e mães precisam ser bem treinados em apologética para que sejam capazes de explicar aos filhos, desde pequenos e cada vez com maior profundidade, porque cremos naquilo que cremos. Honestamente falando, acho difícil de entender como casais cristãos, nesses tempos em que vivemos, podem correr o risco de trazer filhos ao mundo sem terem recebido um bom treinamento em apologética como parte de seu ofício de pais.
   E evidente que a apologética não garante que você e seus filhos vão manter a fé. Existem muitos outros fatores de caráter moral e espiritual que também influenciam nessa questão. Alguns dos web- sites ateístas mais eficazes trazem ex-cristãos que sabiam apologética e ainda assim abandonaram a fé. Mas se você olhar bem de perto os argumentos que eles usam para justificar o abandono da fé verá que em geral são argumentos fracos e confusos. Recentemente acessei um website em que uma pessoa fornecia uma lista de livros que a tinha persuadido de que o cristianismo não fazia sentido — e em seguida, dizia que esperava ter a oportunidade de lê-los algum dia!
Ironicamente, algumas dessas pessoas assumem posturas mais radicais — como dizer, por exemplo, que Jesus jamais existiu — e que exigem uma dose maior de fé do que a visão conservadora que um dia elas tiveram.
    Porém, embora a apologética não seja garantia de nada, ela pode ajudar. Nas minhas viagens também já encontrei pessoas que estavam a ponto de abandonar a fé, mas se reaproximaram dela após ter lido um livro de apologética ou assistido a um debate. Recentemente tive o privilégio de dar uma palestra na Universidade de Princeton sobre os argumentos em favor da existência de Deus. Depois da palestra, um jovem se aproximou, querendo conversar comigo. Tentando segurar as lágrimas, ele me confessou que uns dois anos atrás ele estivera lutando com muitas dúvidas e a ponto de abandonar sua fé. Então alguém lhe mandou um vídeo de um dos meus debates. Ele me disse: “Aquele vídeo me livrou de perder a fé. Não tenho como lhe agradecer por isso”.
E eu disse a ele: “Foi o Senhor que livrou você de perder a fé”. “Sim”, ele retrucou, “mas ele usou você para isso. Não tenho palavras para lhe agradecer”. Então, eu disse a ele o quanto estava entusiasmado com aquilo e lhe perguntei de seus planos para o futuro.
Eu me formo este ano e tenho planos de entrar para o seminário. 
Quero ser pastor”.  Glória a Deus pela vitória na vida desse rapaz! Quando se está passando por um período difícil e Deus parece distante, a apologética pode ajudar a pessoa a se lembrar de que sua fé não está baseada em emoções, e que, portanto, é necessário permanecer firme na fé.
    Finalmente, o terceiro benefício é que o estudo da apologética fará de você uma pessoa mais profunda e interessante. A cultura ocidental é tão incrivelmente superficial hoje em dia, tem fixação por celebridades, entretenimento, esportes e conforto pessoal. Estudar apologética fará você deixar tudo isso de lado e ir à busca das questões mais profundas sobre a existência e a natureza de Deus, a origem do universo, a fonte dos valores morais, o problema do mal e do sofrimento e assim por diante.
À medida que for buscando respostas para essas questões, você mesmo vai sendo transformado e se tornará uma pessoa mais profunda e bem preparada. Aprenderá a pensar de forma lógica e a analisar o que outras pessoas falam. Em vez de dizer timidamente, “eu me sinto dessa forma sobre tal assunto. Veja bem, é só minha opinião”, será capaz de dizer: f“Eis o que eu penso de tal assunto e essas são minhas razões para pensar assim...”. Como cristão, você começará a apreciar com mais profundidade as verdades cristãs sobre Deus e o mundo, e a perceber como todas elas se encaixam para formar uma cosmovisão cristã.
 
3. Para ganhar os incrédulos
    Muita gente concorda com o que eu disse sobre o papel da apologética para reforçar a fé dos cristãos, mas negam que ela seja de alguma utilidade para ganhar os incrédulos para Cristo. Costumam dizer: “Ninguém vem a Cristo através de argumentos!”
    Até certo ponto acredito que essas pessoas são meras vítimas de falsas expectativas. Quando alguém se dá conta de que apenas uma minoria dos que ouvem o evangelho o aceita e passa a crer em Jesus Cristo, não deveria nos surpreender o fato de que a maior parte das pessoas não se deixem convencer pelos argumentos e evidências apresentadas por cristãos. Pela própria natureza da questão, deveríamos esperar que a maior parte dos incrédulos não se deixe convencer por nossos argumentos apologéticos, assim como a maioria não se comove com a mensagem da cruz.
    E lembre-se, ninguém sabe nada ao certo sobre os efeitos cumulativos desses argumentos; é como uma semente, que é plantada e regada muitas vezes, de forma que nem sequer imaginamos. Assim, não devemos esperar que um incrédulo, já na primeira vez que ouvir nossa defesa apologética da fé, vai logo cair prostrado! É lógico que ele vai relutar. Pense bem no que está em jogo para ele. Mas devemos plantar e regar a semente, com paciência, na esperança de que com o tempo ela floresça e dê frutos.
 
Apostolodos
 C. IICOS
C.S. Lewis (1898-1963) rejeitou o cristianismo quando era adolescente, por motivos pessoais e razões intelectuais. No entanto, quando era professor de inglês em Oxford, e tinha por volta de trinta anos, ele teve contato com escritores e amigos que ofereceram a ele razões convincentes em favor do teísmo e depois em prol do cristianismo. Ele então se converteu e começou a colocar seus talentos intelectuais e literários a serviço de articular e defender uma visão cristã do mundo. Veio a ser um dos mais influentes apologistas cristãos de sua geração Seus livros já venderam mais de 100 milhões de cópias no mundo inteiro.
 
 
    Pode ser que você se pergunte: “Mas por que devo me importar com essa minoria de uma minoria para quem a apologética fará efeito?” Primeiro, porque toda pessoa é preciosa para Deus, é alguém por quem Cristo morreu. Assim como um missionário que tem um chamado para uma obscura minoria étnica, o apologeta cristão tem a responsabilidade de alcançar essa minoria de pessoas que irão responder de forma positiva a argumentos e evidências racionais.
    Em segundo lugar, essa minoria, embora modesta em termos numéricos, tem grande influência. Uma das pessoas dessa minoria foi, por exemplo, C. S. Lewis. Pense no impacto que a conversão desse homem continua a ter até hoje! Já percebi que as pessoas que respondem melhor aos meus argumentos apologéticos são engenheiros, médicos e advogados. São pessoas que estão entre as de maior influência na formação de nossa cultura atual. Portanto, alcançar as pessoas dessa minoria trará uma grande colheita para o reino de Deus.
   De qualquer modo, a conclusão geral de que a apologética não é eficaz no evangelismo simplesmente não é verdade. Lee Strobel recentemente me contou que já perdeu a conta das pessoas que aceitaram a Cristo depois de terem lidos seus livros, The Case for Christ [Em defesa de Cristo] e lhe Case for Faith [Em defesa da fé]. Minha experiência pessoal também mostra que a apologética não é ineficaz no evangelismo. Continuo a ficar muito entusiasmado ao ver pessoas entregando suas vidas a Jesus através de apresentações do evangelho combinadas com apologética.
    Depois de uma palestra sobre os argumentos em favor da existência de Deus ou da ressurreição de Jesus, às vezes encerro com uma oração de entrega de vidas a Cristo, e os cartões distribuídos para comentários sobre a palestra mostram as pessoas que de fato resolveram dar esse passo. Há pouco tempo fiz um tour de palestras por várias universidades do centro de Illinois, e fiquei muito entusiasmado quando descobri que quase todas as vezes que eu fazia uma palestra estudantes da plateia haviam entregado sua vida a Jesus. Vi estudantes se converterem somente por ter ouvido uma defesa do argumento cosmológico (do qual falarei neste livro)!
    Também tem sido incrível ouvir histórias de pessoas que se aproximaram de Cristo depois de ter lido algo que escrevi sobre apologética. Desde os ataques de 11 de setembro tenho tido oportunidade de participar de debates com apologetas do Islã em várias universidades do Canadá e dos Estados Unidos. Recentemente, num sábado bem cedinho, recebi um telefonema. A voz de um estrangeiro identificou-se do outro lado da linha: “Alô, quem fala é Sayd al-Islam. Estou ligando de Omã!”. E começou a me contar em sigilo que havia perdido a fé no islamismo e tornara-se ateu. Mas agora que ele estava lendo várias obras de apologética cristã que estava comprando pelo site da Amazon, ele viera a acreditar em Deus e estava prestes a entregar sua vida a Cristo.
    Ele se dizia impressionado com as evidências em favor da ressurreição de Jesus e havia me ligado porque tinha muitas perguntas que ainda precisavam de respostas. Conversamos por cerca de uma hora e senti que no fundo do coração ele já acreditava em Jesus; ele só estava sendo cauteloso e queria estar certo de que tinha todas as evidências de que precisava antes de conscientemente dar o passo final. Ele explicou: “Você entende que eu não posso lhe dar meu nome verdadeiro. No meu país eu preciso levar uma espécie de vida dupla, pois, do contrário, eles me matam”. Orei com ele para que Deus continuasse a guiá-lo para a verdade e então nos despedimos. Você consegue ter ideia do quanto meu coração estava agradecido por Deus usar esses livros e até a internet na vida desse homem? Podem existir muitas histórias como essa e nós, evidentemente, jamais ouviremos a maioria delas.
    Quando a apologética é apresentada de forma convincente e, com sensibilidade, combinada à apresentação do evangelho e a um testemunho pessoal, o Espírito de Deus fica feliz em usá-la para trazer pessoas a Cristo.
 
Como tirar o melhor proveito deste livro?
Pretendo que este livro seja uma espécie de manual a fim de prepará-lo para cumprir o mandamento de 1Pedro 3.15. Portanto, é um livro para ser estudado, e não apenas lido. Você encontrará nele vários argumentos que apresentei na forma de passos muito fáceis de memorizar. Ao expor um argumento, apresento uma razão (ou várias) para se acreditar que cada passo do argumento é verdade. A seguir, rebato cada uma das costumeiras objeções apresentadas a cada passo do argumento e mostro como respondê-las. Dessa forma você já estará de antemão preparado para as possíveis perguntas que encontrará quando for compartilhar sua fé.
Por exemplo, suponhamos que nosso argumento fosse o seguinte:
 
1. Todos os homens são mortais.
2. Sócrates é homem.
3. Logo, Sócrates é mortal.
 
    Esse é um argumento que chamamos de logicamente válido. Isso equivale a dizer que, se os passos 1 e 2 são verdadeiros, então o passo 3, a conclusão, também é. A lógica é uma expressão da mente de Deus (Jo 1.1). Ela descreve como um ser supremamente racional raciocina. Existem somente cerca de nove regras básicas de lógica. Desde que você as siga, elas garantem a você que, se os passos do seu argumento forem verdadeiros, a conclusão também será. Dizemos, então, que dos passos do argumento se segue logicamente a verdade da conclusão.
    Você pode, então, se perguntar: Os passos 1 e 2 do argumento apresentado são verdadeiros? Em apoio ao passo 1, podemos apresentar evidências médicas e cientificas em favor do fato de que todo homem é mortal. Em apoio ao passo 2, podemos nos basear em evidências históricas para provar que Sócrates foi homem. Ao longo desse processo, podemos considerar quaisquer objeções aos passos 1 e 2 e respondê-las. Por exemplo, alguém pode negar o passo 2 por acreditar que Sócrates não passava de uma figura mítica, que não existiu de fato. Nesse caso, teremos que demonstrar porque as evidências sugerem que essa crença é equivocada.
    Os passos 1 e 2 de um argumento são chamados premissas. Se você seguir as regras da lógica e suas premissas forem verdadeiras, então sua conclusão necessariamente será verdadeira também. Ora, um cético convicto pode refutar qualquer conclusão simplesmente refutando uma de suas premissas. Você não tem como forçar alguém a aceitar a conclusão se ele estiver disposto a pagar o preço de rejeitar uma das premissas. No entanto, o que você pode fazer é aumentar o preço de se rejeitar a conclusão, fornecendo sólidas evidências da verdade das premissas.
   Por exemplo, a pessoa que rejeitar a segunda premissa do argumento apresentado estará abraçando um ceticismo em relação à história que a vasta maioria dos historiadores profissionais acharia infundado. Assim, essa pessoa até pode refutar a segunda premissa se quiser, mas pagará o preço de parecer um maluco. E além disso dificilmente ela poderá chamar de irracional alguém que de fato aceite a segunda premissa como verdadeira. 
    Portanto, ao apresentar nossos argumentos apologéticos para determinada conclusão, nosso objetivo é aumentar o máximo possível o preço de alguém negar sua conclusão. Nosso objetivo é ajudar um incrédulo a ver o que lhe custará em termos intelectuais a refutação da conclusão. Mesmo que ele esteja disposto a pagar o preço, ele no mínimo terá que admitir que nós não somos obrigados a pagá-lo, e com isso pode ser que ele pare de ridicularizar os cristãos, acusando-os de serem irracionais ou de não ter razão para crerem naquilo que professam. E caso ele não esteja disposto a pagar o preço, pode ser então que ele venha a mudar de ideia e aceite a conclusão que apresentamos.
    Ao apresentar argumentos e evidências neste livro, procurei ser simples sem ser simplista. Levei em consideração as objeções mais fortes aos meus argumentos e propus respostas a elas. Em certos momentos, o conteúdo lhe parecerá novo e difícil. Nessas horas, encorajo você a ir devagar, um pedacinho por vez, pois assim fica mais fácil de digerir. Pode ser que também ajude formar um pequeno grupo para estudar o livro e discutir seus argumentos. E, por favor, não se sinta constrangido, caso discorde de mim cm certos pontos. Quero que você pense com sua própria cabeça.
    Ao final da maioria dos capítulos você encontrará um quadro explicativo com um esboço do argumento apresentado no capítulo. Vou explicar como esse quadro deve ser usado. O quadro tem um formato que traz o meu argumento do lado esquerdo, sob o título Prós. “No lado direito, sob o título Contras” trago as objeções que podem ser levantadas contra aquele argumento por um oponente. As flechas traçam os caminhos que podem ser percorridos por esses vários prós e contras oferecidos. O propósito desse quadro é ajudá-lo a visualizar o todo do argumento. Considere, por exemplo, o seguinte quadro: Do lado esquerdo temos a primeira premissa do argumento: “Todos os homens são mortais . Seguindo a flecha você encontrará a evidência que e dada em apoio a essa premissa. No caso da primeira premissa, não temos nenhuma objeção a ela, e assim o lado dos “Contras” fica em branco. “Logo abaixo, no lado dos Prós” encontramos a segunda premissa: Sócrates e homem. Nesse caso, os céticos costumam oferecer uma objeção, e assim você encontrará no lado dos Contras a seguinte objeção: “Sócrates não passou de uma figura mítica”. Seguindo a flecha que sai do quadrinho dessa objeção, você encontrara a resposta para ela, que traz de forma sucinta as evidências históricas em favor da real existência de Sócrates. Observe que é fornecida apenas uma resposta bem abreviada; ler este quadro não elimina a necessidade de estudar a apresentação dos argumentos no texto do capitulo. Esse quadro serve apenas para ajuda-lo a visualizar o todo do argumento.
 
 
EXEMPLO DE UM ESBOÇO DE ARGUMENTO: 
 
Prós Contras
 
 
1. Todos os homens são mortais.
 
 
Evidências da biologia demonstram que os organismos humanos um dia morrem.
 
 
2. Sócrates é homem.
 
 
"Sócrates não passou de uma figura mítica"
 
 
 
Tanto Platão quanto Aristóteles se referem a Sócrates como uma pessoa real.
 
 
 
3. Logo, Sócrates é mortal.
 
 

          
 
 
Você não gostaria de ser capaz de defender sua fé com inteligência? Não gostaria de ter alguns argumentos na ponta da língua para apresentar a alguém que diga que os cristãos não têm bons motivos para crerem naquilo que professam? Já não está cansado de se sentir intimidado por incrédulos? Se estiver, então leia este livro! Estou feliz por você tê-lo escolhido e recomendo que esteja sempre “ en garde", ou seja, pronto para dar a razão de sua esperança.
 
 
 
 

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